1. Caso seja aprovado o projeto de lei que proíbe qualquer “alteração, edição, supressão, adição ou adaptação da Bíblia cristã”, teríamos diversas dificuldades. Um exemplo.
2. Na versão NVI, o livro do Eclesiastes diz que Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (3,11). A Bíblia de Jerusalém (BJ) suprime a palavra “anseio” e propõe uma tradução bem diferente para a palavra hebraica עולם, traduzida por “eternidade”.
3. Nesta versão, aquilo que Deus coloca no coração do homem não é o “anseio pela eternidade”, mas a “o conjunto de tempo”, ou seja, a noção de temporalidade, a percepção de que a existência humana na terra é como fagulha, como névoa diante de Deus.
4. A parte “b” do verso explica que essa noção faz o ser humano perceber a grandiosidade da criação, ou seja, que é incapaz de compreender “aquilo que Deus realiza desde o princípio até o fim”.
5. Em minha opinião, a tradução da BJ está correta (“conjunto de tempo”) e a da NVI está errada (“anseio pela eternidade”). Seja como for, não precisamos de uma lei destinada a regular as traduções da Bíblia. Isso é coisa de gente tonta e fundamentalista.
Jones F. Mendonça
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