O livro do Eclesiastes, no seu capítulo 12 (vv. 1-8), exorta o leitor a fazer bom uso de sua juventude, antes que “venham os dias da desgraça” (v. 1), antes que “se escureçam o sol, a lua e as estrelas” (v. 2), antes que “as canções emudeçam” (v. 4), antes que “pereça o apetite/querer” (v.5). É um texto triste e ao mesmo tempo inspirador. Quatro versos desafiam o tradutor/intérprete (12,6):
“Antes que o fio de prata se ROMPAe o copo de ouro se PARTA,antes que o jarro se QUEBRE na fontee a roldana se DESFAÇA no poço”.
O texto apela para que o leitor acorde para a vida, “antes que...”. Os dois primeiros versos falam de objetos preciosos: O “fio de prata” (um cordão?) e um “copo de ouro” que se rompem/se partem. Os dois últimos versos falam de objetos utilizados para apanhar água na fonte/no poço: um “jarro” e uma “roda/roldana”, que se quebram/se desfazem.
Há quem associe o “fio de prata” à medula (!) e outros a um suposto “fio prateado” visto por pessoas em seus últimos minutos de vida. É verdade que no texto, desde o início, predominam alusões a partes do corpo perdendo sua força, sua vitalidade, seu vigor, sua utilidade (visão, audição, apetite, força muscular, etc.). Mas no v. 6 a imagem evocada parece ser outra, não mais elementos do corpo, mas do cotidiano: 1) o cordão de prata que se rompe pelo uso; 2) a taça de ouro que racha pelo desgaste, 3) o jarro de barro que se quebra, 4) a roda/roldana do poço que se desfaz.
Jones F. Mendonça
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