Em suas “Preleções ao Gênesis”, Lutero interpreta o “haja luz” de Gn 1,3 insistindo em seu sentido histórico e na necessidade de uma interpretação que leve em conta o aspecto gramatical simples do texto. Veja:
Moisés está aqui registrando fatos históricos [...]. Embora seja difícil descrever que tipo de luz era essa, ainda não estou inclinado a pensar que devemos nos afastar, sem motivo, da gramática simples.
O reformador rejeita as interpretações alegóricas que entendiam essa “luz” como sendo uma referência aos “anjos bons” e as “trevas” como indicação velada aos “anjos maus”. E assim conclui: “isto é brincar com alegorias”.
Apesar de reconhecer que essa “luz” não poderia ser o sol, criado somente no quarto dia, Lutero insiste que “essa luz era móvel” e que “girava em um movimento circular” tal como imaginava ser o trajeto do sol ao redor da terra, marcando um período de 24 horas.
O reformador foi influenciado pelos exegetas de Antioquia, por comentaristas judeus (ambos rejeitavam a alegoria), por Nicolau de Lira e pelos pensadores humanistas. Em relação a Lira, ele comenta:
É por esse motivo que sou tão favorável a Lira e, de bom grado, classifico-o entre os melhores comentaristas. Ele sempre obedece e segue cuidadosamente a história.
A centralidade do comentário de Lira para os pensadores da Reforma foi homenageada em ditados latinos como, ‘‘Si Lyra non lyrasset, Luther non saltasset ’’ (Se Lira não tivesse tocado, Lutero não teria dançado). Lutero certamente não foi o inventor do método que hoje chamamos de “histórico-gramatical”, mas em seus textos há clara ênfase nos aspectos históricos e gramaticais do texto.
Jones F. Mendonça
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