Em suas Preleções ao Gênesis, Lutero dedica algumas linhas para discutir a natureza dos querubins mencionados pela primeira vez em Gn 3,24. Ele não vê os querubins como sendo uma ordem específica na hierarquia angelical – serafins, querubins, tronos, domínios, poderes, principados, etc. – tal como pensava Pseudo-Dionísio areopagita. Por isso conclui: “ora, quem não vê que todas essas representações são nada mais nada menos do que vãs e fúteis invenções humanas?”.
Recorrendo a etimologias um tanto duvidosas, Lutero sugere que o termo “querubim” indica o aspecto jovial dos anjos, perceptível “nos rapazes e nas moças no desabrochar de suas idades”, dotados de “rostos rechonchudos e cheio de alegria”. É por isso – ele acrescenta – que os anjos “são representados em imagens como crianças”. O mesmo ele pensa em relação aos serafins (Is 6,2.6), que não seriam membros de ordem específica de anjos. O termo indicaria o aspecto “ardente e brilhante” das faces dos anjos ("serafim" vem do verbo hebraico "queimar": שרף).
Nesse sentido, os termos hebraicos “querubim” (כרבים) e “serafim” (שרפים) seriam adjetivos, empregados para destacar algumas qualidades dos anjos, como seu brilho, seu aspecto jovial, reluzente, glorioso, etc. A interpretação que Lutero faz do texto de Gênesis revela que mesmo abandonando a alegoria, sua exegese “literal”, “histórica” e “gramatical” deixa muito a desejar.
Jones F. Mendonça
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