Mario Liverani reserva uma seção de seu “Para além da Bíblia” para falar sobre as doze tribos de Israel. Inicialmente o assiriólogo italiano destaca o caráter artificial do número doze, rejeitando, por exemplo, a tese da anfictionia de Martin Noth (seguida por von Rad), que supôs um modelo de organização tribal semelhante ao que existiu nas antigas sociedades gregas e itálicas.
Evidências
desse caráter artificial poderiam ser facilmente percebidas a partir de uma
análise atenta às diversas listas tribais – com quantidades e nomes diferentes –
extraídas de alguns textos. Veja:
· Jz 5 (Cântico de Débora) → 10 tribos
(séc. IX): Efraim,
Makir, Benjamim, Zebulon, Isaacar, Ruben, Gile’ad, Dan, Asher e Neftali;
· Dt 33 (Bênçãos de Moisés A) → 10
tribos (séc. VIII): José,
Benjamin, Zebulon, Isaacar, Ruben, Gad, Dan, Asher, Neftali e Judá;
· Dt 33 (Bênçãos de Moisés B) → 12
tribos (séc. VII): Efraim,
Manassés, Benjamin, Zebulon, Isaacar, Ruben, Gad, Dan, Asher, Neftali, Judá e
Levi.
· Ez 48,1-29 → 12 tribos (séc. VI): Efraim, Manassés, Benjamin, Zebulon,
Isaacar, Ruben, Gad, Dan, Asher, Neftali, Judá, Simeão.
· Ez 48,1-29 → 12 tribos (séc. VI): José, Benjamin, Zebulon, Isaacar,
Ruben, Gad, Dan, Asher, Neftali, Judá, Levi e Simeão.
Ele
sugere que os levitas eram originalmente um “grupo funcional”, elevado ao
status de tribo pelos sacerdotes pós-exílicos (neste caso, teríamos treze e não
doze tribos). Outra questão que ele levanta diz respeito à tribo de Simeão,
situada nos limites fronteiriços de Judá: a tribo teria sido inserida artificialmente
na região com a finalidade de afirmar que a perda de territórios mais ao sul não
tinha refletido sobre Judá. O deslocamento de Dan da região mais central (na
Shefelah) para o extremo norte (Jz 18) teria a finalidade de afirmar direitos sobre um
território apenas transitoriamente incluído no reino de Israel.
Jones
F. Mendonça
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