2. A memória preservada por Oseias, para Liverani, não diz respeito à narrativa do Êxodo tal como conhecemos: saída sob a liderança de Moisés com sinais e prodígios, etc. Embora diga que Javé tenha usado um profeta (נביא) para tirar Israel do Egito (Os 12,13), nenhuma menção ao nome de Moisés, aos sinais miraculosos, ao Mar Vermelho, ao Sinai aparecem no texto. O assiriólogo entende que Oseias apenas está fazendo menção à época em que Israel vivia sob controle egípcio na Canaã no período do Bronze recente (algo que está bem documentado).
3. O autor cita textos – como as Cartas de Amarna – que empregam expressões como “fazer sair”, “fazer voltar”, “fazer vir” (ele chama de “código motor”), como indicação de libertação da influência de uma potência estrangeira. A narrativa do Êxodo, tal como a conhecemos, seria o resultado de reelaborações (séculos VII ao V), com a finalidade de legitimar a pose da terra, na medida em que a “Saga dos Patriarcas” fornecia uma legitimação insuficiente, situada em um passado muito remoto, sem jamais mencionar a posse de toda a terra, mas apenas de alguns lugares símbolo, como túmulos e árvores sagradas.
4. Assim, a narrativa do Êxodo, somada à narrativa da conquista armada, sob a liderança de Josué, cumpriria o papel de legitimar de forma mais contundente a posse da terra. Você lê a exposição completa do assunto em “Para além da Bíblia”, de Mario Liverani (Loyola, 2008, p. 339-343).
Jones F. Mendonça
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