1. Desde o ataque às Torres Gêmeas, em setembro de 2001, o conceito de “Guerra Santa” passou a ganhar espaço nos mais diversos veículos de mídia. E como esse ataque terrorista foi planejado e executado por fundamentalistas islâmicos, rapidamente se consolidou a vinculação entre guerra religiosa e Islã, como se essa religião fosse a única a fundamentar a violência lançando mão de textos sagrados. Mas o que foram as Cruzadas senão “guerras santas”, ou seja, ações militares justificadas pela religião?
2. Além do Islã e do cristianismo, as “guerras santas” já apareciam nas narrativas bíblicas de conquista da terra. Os livros de Deuteronômio e Josué, por exemplo, contêm uma série de orientações relacionadas ao hérem (חרם), um tipo de interdição religiosa que condenava os ocupantes de uma cidade – homens, mulheres, crianças, animais e bens preciosos – à destruição pelo fogo ou pela espada. Duas passagens famosas envolvendo um hérem podem ser encontradas em Js 7,10-26 (“O pecado de Acã”) e “A rejeição de Saul” (1Sm 15,1-35).
3. Após os dois grandes fracassos messiânicos surgidos no âmbito judaico – a Grande Revolta, entre 66-70 d.C.; e a Revolta de Bar Kokhba, em 135 d.C. –, uma série de “freios jurídicos” foram criados pelos rabinos com o intuito de desestimular as guerras sagradas. Um conjunto de elementos relacionados à era moderna – o sionismo (século XIX), o trauma do holocausto (1933-45), e a criação do Estado de Israel (1948) – favoreceram o resgate do conceito de “guerra santa”.
4. Reuven Firestone enumera outros fatores que ele considera importantes para se compreender o ressurgimento do conceito de “guerra santa” em setores mais radicais do judaísmo: 1) Politização do corpus bíblico entre colonos judeus que buscam inspiração nas histórias de Josué para sua luta; 2) Crescimento de movimentos político-religiosos extremistas, como o kahanismo; 3) Possibilidade do uso do poderoso aparato militar do Estado Judeu, inexistente antes da criação do Estado de Israel.
5. Eu acrescentaria na lista o papel desempenhado pelo sionismo cristão, sobretudo por grupos fundamentalistas dispensacionalistas estadunidenses.
Jones F. Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário