segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A APOSTASIA, O AMOR E A DOR EM AGOSTINHO DE HIPONA


1. Um provérbio popular muito repetido no universo evangélico é “se [a conversão religiosa] não for pelo amor, será pela dor”. Mas de onde veio esta sentença? Minha hipótese é que nasceu a partir da leitura um tanto quanto livre do livro bíblico de Provérbios feita por Agostinho de Hipona, teólogo e filósofo do V século.

2. Atormentado pela insubmissão dos donatistas, grupo cristão cujas doutrinas foram consideradas cismáticas e heréticas, Agostinho entendeu que era preciso tomar medidas mais duras a fim de preservar a comunhão e o respeito às lei imperiais. Em uma carta endereçada a Bonifácio, o teólogo africano saiu-se com essa:
3. A inspiração vem de Pv 23,14: “Quanto a ti, deves bater-lhe com a vara, para salvar-lhe a vida do inferno”[1]. (Na vulgata: tu virga percuties eum et animam eius de inferno liberabis). Mas na verdade o texto hebraico não fala de “inferno”, nem tem como objetivo dirigir-se àqueles que se distanciaram da “reta doutrina”.

4. O texto de provérbios é dirigido aos “meninos” (na’ar), instruídos na arte da sabedoria, dos bons modos e dos bons pensamentos. A "vara" era um instrumento antigo de educação. A violência como forma de disciplina também era praticada pelos mestres da Babilônia, que recorriam ao método com a finalidade de corrigir seus discípulos.

Nota: [1] No texto hebraico “sheol” é mundo dos mortos e não inferno. A mensagem do provérbio é clara: “a vara não mata” (v. 13), mas, pelo contrário, “livra a néfesh (=vida) do sheol” (=da morte, cf. v. 14)”. Trocando em miúdos: “a vara da disciplina fere a carne, mas livra da morte"


Jones F. Mendonça

3 comentários:

  1. Olá, cheguei no seu blog por recomendação do Prof. Osvaldo, do Necromante. Estou feliz de encontrar mais um estudioso que contribua pra que nossas vendas em relação à Biblia e religiosidade sejam retiradas.

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