1. Alguns textos que compõem os livros proféticos são realmente difíceis de interpretar. Isso acontece porque nem sempre é possível identificar a voz de quem fala. Um oráculo pode começar com a fala divina e no meio do caminho alternar para outra voz (e outro tempo verbal). Quero tomar como exemplo um trecho do livro do profeta Jeremias (Jr 9,9-11).
2. Veja que em 9,9 a voz que fala é a de Yahweh: “Não deveria eu castigá-los por isso? ...contra uma nação como esta não deveria eu vingar-me?”. No verso seguinte a imagem evocada pelo texto é a de alguém que chora: “sobre as montanhas elevo gemidos e prantos”. Pergunta: quem chora é o próprio Yahweh ou o profeta que anuncia sua mensagem? Isso não fica claro.
3. No v. 11 Yahweh expõe nova sentença contra a capital de Judá: “Eu farei de Jerusalém um monte de pedras”. Temos assim o seguinte quadro: v. 9: Yahweh ameaça punir Jerusalém (futuro); v. 10: Alguém chora por uma cidade que aparentemente já está destruída (presente); v. 11: nova ameaça contra Jerusalém (futuro).
4. É possível que um editor tenha enxertado o v. 10 entre os vv. 9 e 11, visando dar mais dramaticidade ao texto. Neste caso o choro seria o do profeta. Também é possível que os três versos venham da mão de um mesmo autor. O choro do v. 10 seria expressão da tristeza divina por aquilo que a própria divindade fará em breve contra Jerusalém.
Jones F. Mendonça
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