1. Sempre que retorno dirigindo para casa, após o fim do expediente, sintonizo na CBN e ouço “A nossa língua de todo dia”, apresentado pelo professor Pasquale Neto. Uma coisa que ele não cansa de enfatizar é o seguinte: os dicionários não determinam o significado das palavras, apenas reproduzem o significado que os falantes atribuíram/atribuem a elas.
2. Um exemplo: de acordo com a norma padrão, “membro” é um substantivo sobrecomum masculino, por isso não deve ser flexionado. Mas caso se torne comum tratar uma componente de um conselho como “membrA” do conselho, os gramáticos poderão se sentir autorizados a incorporar nas páginas dos dicionários a forma feminina de “membro”.
3. Muitos tratam a “norma padrão” como uma espécie de divindade – “Norma Padrão” – cujos desígnios não podem jamais ser mudados. Mas a “norma padrão” é mera invenção humana, uma convenção. É claro que ela tem sua utilidade, mas nem a “norma padrão” nem os dicionários são deuses. Não são. Nem devem ser tratados como se fossem.
4. As línguas progridem na constante tensão entre a norma, o cânone, e a força criativa e imprevisível dos falantes.
Jones F. Mendonça
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