quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A TEOLOGIA COMO PATOLOGIA

1. Durante quase dois mil anos, boa parte dos teólogos cristãos justificaram o sofrimento dos judeus a partir da leitura das Escrituras. A lista começa no século II, com Irineu e Tertuliano. No século IV é repetida por Cirilo, bispo de Jerusalém, segue com Ambrósio, João Crisóstomo e Agostinho.

2. No decorrer da Idade Média o pensamento se manteve o mesmo: judeus estão pagando pela crucificação de Cristo (gostavam de citar Mt 27,25). Lutero, no século XVI manteve o velho e perverso antijudaísmo, visível, por exemplo, em seu texto “Os judeus e suas mentiras”, publicado em 1543. Não demorou e esse antijudaísmo se converteu em racismo, em antissemitismo.

3. A primeira manifestação positiva que conheço em relação aos judeus veio do avô presbiteriano do ex-presidente estadunidense George W. Bush. Em 1844 ele publicou um curioso livro intitulado “The Valley of Vision; or, The Dry Bones of Israel Revived”. A obra pode ser encontrada na Amazon ao custo de US$23,90.

4. George Bush (avô) era um restauracionista. A obra defendia – antes mesmo da criação do sionismo(!) – o retorno dos judeus à terra de Israel. Acreditava que na Terra Santa boa parte dos judeus se converteria ao cristianismo. Outro texto importante veio de Karl Barth: “A questão dos judeus e sua resposta cristã”, de 1949.

5. Até o século XIX todos faziam coro dizendo: “judeus estão pagando pela crucificação de Cristo”. Depois disso a coisa se inverteu: “o exército de Israel é o exército de Deus”. Ontem usavam e abusavam das Escrituras para justificar a dor e o sofrimento dos judeus. Hoje é abusada e usada para justificar seu triunfo (e a derrota dos muçulmanos!). Trata-se de uma teologia bipolar, doentia.

6. A pergunta que se impõe diante de nós, hoje, é: que tipo de pessoas os "teólogos" da atualidade estão ferindo, lançando na lama da agonia, no sheol do desespero, em nome das "Santas Escrituras"? A lista não seria pequena...

 

 Jones F. Mendonça

6 comentários:

  1. Li um autor judeu que identifica que o sionismo surfou nessa onda do antissemitismo para conseguir se estabelecer em terras palestinas.

    Importante citar também que foi com o Imperador Adriano que começa a expulsão dos judeus.

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  2. Olá, Allison. Falo sobre Adriano aqui: https://numinosumteologia.blogspot.com/2016/02/o-termo-palestina-em-historias-de.html

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  3. E também aqui: https://numinosumteologia.blogspot.com/2016/02/jerusalem-o-imperador-e-loja-de-doces.html

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  4. Os judeus têm dom para vítima. São os próprios profetas inspirados de Israel que alertaram para as consequências do pecado: espada e exílio. Os rabinos ortodoxos conservam esta noção, de que todas as calamidades seriam porque os judeus pecam, não observam a Torá e nem guardam os sábados. O rabino Ovadia Yosef disse que o holocausto foi uma retribuição de Deus contra as almas reencarnadas dos pecadores, e que os soldados israelenses são mortos em batalhas por não observarem a lei da Torá. O grupo Neturei Karta vai nessa mesma linha. E, certamente, o fato de terem rejeitado e matado Jesus só piorou as coisas, como a predita destruição do templo (Lc 21,5-24), o fim dos sacrifícios e a diáspora. Ver também Mt 23,29-39.

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  5. Augusto, seu texto começa com uma generalização: "Os judeus têm dom para vítima". Além do mais, os judeus não mataram jesus. Foram os romanos.

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    1. Não é generalização. O vitimismo e o ressentimento fazem parte da alma coletiva judaica. Autores judeus como Israel Shahak, Bernard Lazare, Benjamin Freedman, Samuel Roth, Poliakov, Hannah Arendt e Norman Finkelstein mencionam isso.

      E quem entregou Jesus aos pagãos foram os anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e escribas, por um iníquo julgamento (Is 53,8/ Mt 16,21/ Mc 8,31/ Lc 9,22/ At 2,22-23/ At 3,13-15/ At 4,26-28/ At 6,13-14/ At 7,51-52/ At 10,39/ At 13,46-47/ At 15,10 >>> compare com Mt 23,4/ 1 Ts 2,14-16).

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