quinta-feira, 10 de setembro de 2020

LUTERO E CALVINO NAS ONDAS DO HUMANISMO

1. Em 1509, enquanto Lutero conquistava seu diploma de bacharel em Bíblia pela Faculdade de Wittenberg, Erasmo de Roterdã - seu futuro desafeto - debochava do declínio moral do clero inspirado no sarcasmo de Luciano de Samósata, escritor latino do II século. Estava na moda ler os clássicos, que começaram a chegar fresquinhos do Oriente pelas traduções dos árabes muçulmanos. Calvino, por exemplo, chegou a publicar em 1532 um comentário sobre o “de Clementia”, de Sêneca, um filósofo estoico. Voltemos a Erasmo.

2. No texto irônico produzido por Erasmo, intitulado “O elogio da loucura”, o Papa da época (Júlio II) é barrado por São Pedro nas portas do céu e é tratado pelo apóstolo como “Júlio, o imperador que voltou do inferno”. Que ousadia, não! Uma das razões da recusa de Pedro era o gosto de Júlio pela espada, daí sua fala: “Batina de padre, mas armadura ensanguentada por baixo”. Para quem não sabe este Papa aparece no filme “Lutero” (2004, direção de Eric Till). Na cena ele surge todo imponente vestindo uma armadura. Lutero faz cara de quem viu e não gostou.

3. O Renascimento e o humanismo tiveram influência direta sobre a Reforma. Foi a partir dos trabalhos de Lourenzo Valla, um famoso humanista, que Lutero pôde elaborar críticas severas à tradição católica. Bem, mas embora tenha sido instruído a partir de uma formação humanista, nunca foi humanista. Enfim, surfou nas ondas do humanismo, mas não mergulhou em suas águas. Uma pena...

  

Jones F. Mendonça

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