quinta-feira, 24 de outubro de 2013

YHWH, ADONAI, ZEUS, DEUS E D’US: PICUINHAS SOBRE O NOME DIVINO

Alguém em sala de aula (acho que foi o Roberto) perguntou-me a respeito do motivo que levou os judeus e messiânicos a escreverem o nome de Deus substituindo o “e” por um apóstrofo: “D’us”. Minha resposta ao aluno curioso: “não tenho a mínima ideia”. Fui investigar.

A explicação mais comum, exposta em sites judaicos e messiânicos, é que a mudança tem como objetivo evitar a pronúncia do nome divino, tal como ordena o segundo mandamento. Será?

No hebraico o nome divino sem sinais vocálicos é YHWH (tetragrama sagrado). Com sinais vocálicos (inseridos a partir do século V d.C.) a palavra pode ser transliterada da seguinte forma: YeHWaH. Para não pronunciar o nome sagrado durante a leitura os judeus substituíam YeHWaH por Adonai (Senhor). Em suma: onde estava escrito YeHWaH, passaram a ler “Adonai”. Assim é feito até hoje.

Agora pense comigo: se a palavra latina “Deus” já consiste numa substituição do tetragrama sagrado (nas nossas Bíblias escolheram “Senhor”), por que cargas d’água seria preciso fazer nova modificação? Trocar “Deus” por “D’us” seria como trocar “Adonai” por “Ad’nai”. Abandonei os sites e fui para os livros em busca de uma resposta que fizesse mais sentido.

Rubén Luis Najmanovich, em seu livro “Maimônides” (Zahar, 2006, p. 17) explica que a grafia “D’us” foi criada pelo sábio judeu que dá nome ao seu livro (também conhecido como Rambam, séc XII d.C.). Ele teria evitado “Deus” porque a palavra é derivada de “Zeus”, divindade adorada pelos gregos na antiguidade. A solução encontrada: “D’us”. Faz mais sentido. Mas será verdade?

Bem, se Maimônides tivesse escrito em latim a explicação seria perfeita. Isso porque tanto em latim como em português a grafia é a mesma: “Deus”. Mas há um problema com essa explicação. Até onde sei Maimônides escreveu em árabe (como seu famoso “Guia dos perplexos”). Só mais tarde suas obras foram traduzidas para o hebraico, grego e o latim.

Fiz uma busca no Google na esperança de encontrar algum site mantido pelo autor do livro ou qualquer outro canal de comunicação que me permitisse perguntar a respeito da fonte que deu origem a essa explicação. Não obtive sucesso. Consultei outros livros sobre Maimônides (até em outros idiomas). Nada!

Ao que parece o uso da forma “D’us” não faz lá muito sentido mesmo. 


Jones F. Mendonça


15 comentários:

  1. QUERIDO EU LI SUA PUBLICAÇÃO SOBRE O NOME DO ETERNO E DESEJO DAR O MEU PARTICULAR PARECER; BOM AS ESCRITURAS AFIRMA QUE O TEMPO DA IGNORÂNCIA NÃO É CONTADO, E QUE O MUNDO JAZ NO MALIGNO, DIANTE DISSO EU DIGO QUE TUDO ESTA CONTAMINADO E O NOSSO DEVER É EXATAMENTE ESSE QUE ESTAMOS FAZENDO CORRER ATRAS DA VERDADE, MAS ENQUANTO NÃO ENCONTRAMOS DEVEMOS MANTER SE EM PAZ E AGUARDAR O VERDADEIRO E O DIA DA VERDADE.
    TOMAR O NOME EM VÃO NÃO É SIMPLESMENTE DIZER MAS USAR COM SEGUNDAS INTENÇÕES.

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  2. Prezado Jones, acompanho seu blog faz algum tempo e admiro seu cuidado e honestidade no estudo dos diversos temas a que tem se dedicado. Após ler seu post, acredito que possa acrescentar alguma informação ao assunto.

    Segundo a tradição ortodoxa, existem 7 nomes com os quais devemos ter cuidado, pois qualquer documento em que um desses nomes tenha sido impresso torna-se sagrado. Este respeito não se refere simplesmente a sua pronúncia, portanto, mas, especificamente, ao cuidado de não destruir nenhum documento em que tenham sido impressos. O zelo vem da interpretação rigorosa de Deut 12:3-4. Foi a partir dessa interpretação, que os sábios instituiram como mandamento "Não destruir objetos associados com o nome de D'us", que é um dos 613 mandamentos relacionados por Maimônides.
    O que pode, realmente, parecer sem sentido é porque se faz isso com uma palavra de origem latina (D'us). A explicação, na verdade, é simples: a proibição também se aplica às traduções dos citados 7 nomes.
    O objetivo da prática, enfim, é evitar que um desses 7 nomes sejam inadvertidamente destruidos. Espero que compreenda.

    Veja mais sobre o assunto nos links abaixo:
    http://www.hebrew4christians.com/Names_of_G-d/About_Writing/about_writing.html
    http://en.wikipedia.org/wiki/613_commandments
    http://www.jewfaq.org/name.htm
    http://www.jewishencyclopedia.com/articles/11305-names-of-god#anchor11
    http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/486809/jewish/Why-Gd-instead-of-G-o-d.htm

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  3. Só mais um detalhe. Também não pronunciamos nenhum desses nomes no dia a dia. Apenas durante a oração ou leitura da Torá. No lugar, quando necessário, pronuncia-se a forma Hashem. Isto é baseado no uso feito de Hashem em Lev 24:11:
    "O filho da mulher israelita blasfemou o Nome (Hashem), e praguejou. Trouxeram-no a Moisés. Ora o nome sua mãe era Selomite, filha de Dibri, da tribo de Dã." (TB1917)

    Embora as "Almeidas" traduzam como "o nome do S-nhor", está escrito apenas Hashem em hebraico.

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  4. Márcio,

    YHWH tornou-se Adonai (sem apóstrofo)
    Elohim tornou-se D'us (com apóstrofo)

    Continuo não vendo razão para esse apóstrofo.

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    1. Caro Jones,

      A-d-o-n-a-i é pronunciado no lugar do Tetragrama. Nesse caso, não está sendo escrito, por isso não leva apóstrofo. Mas se for escrito também precisará receber um apóstrofo, um hífen ou algum outro tipo de tratamento, como o adotado por mim no início deste post. A confusão ocorre, para aqueles que não conhecem a prática, quando veem D'us escrito com apócrifo em algum texto. Mas poderia ser D-us ou D-e-u-s. É comum também utilizar um k com o mesmo propósito gerando as formas Elokim, Elokênu, Kel, etc. O objetivo é sempre o mesmo. Alterar a escrita para que o texto não se torne sagrado e, por causa disso, sua destruição ou descarte não seja mais permitida.

      Quanto a substituição do tetragrama por A-d-o-n-a-i, esta parece ser uma prática comum entre outros povos semitas relacionados a Israel. O mesmo era praticado por sírios, fenícios e cananeus em relação a Baal, que literalmente significa apenas Mestre, Marido, Amo, Senhor, e era utilizado para substituir o verdadeiro nome desse deus, chamado Hadad. Da mesma forma Tammuz ou Dummuzi, considerado as vezes filho de Baal, era chamado Adoní, que significa "meu Senhor". Foi desse costume que os gregos criaram a divindade que chamaram erroneamente de Adônis. Portanto, esta não é uma exclusividade israelita, mas apenas um tratamento de respeito pelo nome pessoal da divindade que era costume entre vários povos semitas do Levante.

      Bem, espero ter auxiliado de alguma forma e que a paz esteja contigo.
      Shalom.


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  5. PS:

    Qualquer documento que contenha um dos 7 nomes deve ser devidamente sepultado pois é considerado como sagrado. Antes de receber esse tratamento, porém, são geralmente armazenados em depósitos nas sinagogas conhecidos como Guenizot (plural) ou Guenizah (singular). Foi graças a essa prática que pudemos descobrir vários manuscritos antigos, no começo do século XX, na famosa Guenizah do Cairo.

    Veja: http://pt.wikipedia.org/wiki/Genizah

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  6. Mas em inglês Deus (elohim) é God, sem apóstrofo...

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    1. Entre judeus ortodoxos não. Veja esta responsa: http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/486809/jewish/Why-Gd-instead-of-G-o-d.htm

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  7. Caro Jones,

    Acho que só agora começo a compreeder melhor sua dúvida. Mas me corrija se estiver enganado.
    No seu post você diz:
    "se a palavra latina “Deus” já consiste numa substituição do tetragrama sagrado (...) por que cargas d’água seria preciso fazer nova modificação?"
    Bem isto não está correto. Nem sempre esta palavra está substituindo o tetragrama.
    Veja, em Gen 15:7, D'us se identifica com o seu Nome:
    "Eu sou Yod-Hê-Vav-Hê, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para a herdares." (ARC)

    Mas no Salmo 46:10, por exemplo, Ele se identifica como:
    "Aquietai-vos, e sabei que eu sou E-l-o-h-i-m; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra." (ARC)

    Já em Ez 23:49:
    "E a vossa infâmia carregareis sobre vós, e levareis os pecados dos vossos ídolos; e sabereis que eu sou Ad'nay Y-H-W-H." (ARC)

    E foi dessas e outras várias passagens em que Ele se identifica pessoalmente com um desses nomes, que os sábios estabeleceram os 7 nomes que precisam ser guardados.

    Ficarei satisfeito se isso responder a sua pergunta. Caso contrário, mesmo assim, não desista! Pois, lembre-se do que disse o profeta Azarias, filho de Obede:
    "Y-H-W-H está convosco, enquanto vós estais com ele, e, se o buscardes, o achareis; porém, se o deixardes, vos deixará."

    Shalom.

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  8. Márcio,

    Entendi que a mudança visa preservar os sete nomes divinos (El, Elohim, YHWH...). Sei muito bem que na Bíblia hebraica vários são os nomes utilizados como indicativo do deus dos israelitas (aliás, há mais que sete). Conheço o hebraico o suficiente para saber disso. Interessa-me a lógica dessas mudanças.

    Note que a Bíblia hebraica publicada pela Sefer (como você mesmo indicou) traduz assim o texto de Lv 11,1: “E o Eterno [YHWH] falou a Moisés...” (vaydaber YHWH el-mosheh). Ocorre que se a palavra “Eterno” foi colocada para indicar um dos nomes divinos (neste caso, YHWH), por que não foi escrita com o apóstrofo/hífen como manda a tradição?

    Parece-me que o costume de substituir vogais das traduções dos sete nomes divinos pelo apóstrofo/hífen só é cumprida à risca por alguns judeus. Estaria aí minha dificuldade em encontrar uma lógica por trás das mudanças?

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    1. Entendo..mas talvez essa "lógica" que você está procurando realmente não exista. A tradição não é colocar apóstrofo/hífen em todos os termos indicativos que substituem o Nome, e sim, evitar escrever especificamente 7 nomes e suas traduções. Tradição não é lógica, é tradição.
      A Biblia Hebraica da Sêfer utiliza "Eterno" sem apóstrofo ou hifen, porque este termo não é uma tradução de nenhum dos 7 nomes. É uma escolha muito inteligente, embora estranha para a maioria, e está plenamente de acordo com a tradição haláquica. Por isso recomendei. Mas é claro que nenhuma tradução, nem mesmo essa, consegue realmente transmitir todos os detalhes e complexidades de interpretação do texto hebraico.
      Concordo que nem todos os judeus respeitam a prática de substituir os nomes divinos. Mas essa não é também uma questão de lógica ou tradição, mas de prática religiosa e adesão ao movimento ortodoxo. No entanto, vale lembrar que não só judeus ortodoxos estariam obrigados a esse cuidado. Pois, um texto escrito com um dos 7 nomes torna-se sagrado quer tenha sido escrito por um judeu liberal, um judeu ortodoxo ou até mesmo um não-judeu. Ou seja, todas as nações deveriam ter o mesmo cuidado e, talvez por isso, a prática inclua a tradução para as diversas línguas desses 7 nomes:

      "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou E-L, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás: que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua." Is 45:22-23

      Mas, enfim, não quero criar polêmica com essa questão. Os temas publicados em seu blog tem sido sempre de altíssimo nível e em mais de uma oportunidade me auxiliaram muito em vários aspectos. Assim, encomendo-lhe, mais uma vez e sinceramente, meus votos de Paz e que continue esse excelente trabalho.
      Shalom!

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  9. Sobre Maimônides, desconheço a explicação derivada de Zeus, atribuída a ele.

    Já a explicação dele, baseada nos 7 nomes divinos, pode ser encontrada na Mishneh Torah, sua obra prima, no primeiro Livro, chamado da Sabedoria (Maddah), na seção sobre "As Leis Fundamentas da Torah, Cap. VI:
    http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/904982/jewish/Chapter-Six.htm

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  10. Gostaria de propor apenas um último exemplo para demonstrar a aplicação da prática de evitar escrever um dos 7 nomes divinos.

    Mas primeiro uma explicação. Os 7 nomes são:
    1) Y-H-W-H
    2) E-L
    3) E-L-O-H-I-M
    4) A-D-O-N-A-Y
    5) S-H-A-D-D-A-Y
    6) TS-V-A-O-T
    7) E-H-Y-E-H (A-S-H-E-R E-H-Y-E-H)

    Isso inclui todas as combinações, variações e abreviaturas, como Y-A-H, que aparecem na Bíblia Hebraica. Inclui também, como vimos, suas traduções para outras línguas.

    Porém, não sabemos o significado exato de todos estes termos.
    A palavra shadday, por exemplo, significa, literalmente, "peitos", "seio" (shad) ou ainda, mais distante, "montanhas". Sua raiz, shin-dalet (SD), no hebraico, também tornou-se associada com a palavra destruição, shod, ou até "demônio", shed.

    Assim, somente de três desses nomes, A-D-O-N-A-Y, E-L e E-L-O-H-I-M, sabemos plenamente qual seria a tradução: S-nhor e D-us.

    Então vamos ao exemplo: Se me refiro a um senhor ou deus qualquer, não usamos apóstrofo. Porém, se me refiro ao D'us de Israel, ao Eterno e Único D'us, chamado por L'rd ou G'd pelos ingleses, apóstrofos serão utilizados, pois traduzem Ad'nay e El'him. No fim, trata-se apenas de dominar a técnica.

    Que a Paz esteja contigo.

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    1. De trás pra frente ficção drol , dog, muito estranho...

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