quinta-feira, 1 de agosto de 2019

BREVE HISTÓRIA DO PESSIMISMO

É possível classificar os pessimistas em diversas categorias. Há, por exemplo, os pessimistas religiosos, como Agostinho, Lutero e Calvino. São “pessimistas metafísicos” porque explicam a dor, a angústia, a injustiça, a maldade humana a partir da influência negativa da vontade (corrompida pela queda): o pecado original teria afetado a natureza humana de tal forma que só uma interferência divina daria jeito. Uma existência plena é projetada para o mundo porvir.

O gnosticismo – corrente cristã que fez muito sucesso no II século – explicou o mal de outra forma: o mundo teria sido criado por um Deus mau, o demiurgo. Mas no homem residiria uma centelha do Deus verdadeiro, que poderia ser despertada pelo Cristo. O dualismo gnóstico, cujo pessimismo geralmente é classificado como “pessimismo cosmológico”, praticamente desapareceu.

No âmbito filosófico temos uma gama de pessimistas. São diferentes dos religiosos porque não veem o mal como tendo origem num pecado original. Um exemplo: Schopenhauer. Seu pessimismo é do tipo “passivo” porque não apresenta uma solução definitiva para o problema do sofrimento e da falta de sentido da vida (a arte seria uma solução paliativa, um consolo). Algumas vezes é chamado de “pessimismo romântico”.

Embora reconheça – como Schopenhauer – o absurdo da vida, Nietzsche era um “pessimista ativo”. Inspirando-se no modo como os gregos encaravam a tragédia, diria algo assim: “é preciso afirmar não apenas o gozo e as alegrias, mas também a dor e o sofrimento” (amor fati). Mais do que isso: ele diria que é preciso desejar a vida com todas as suas atrocidades, mesmo que se repitam num ciclo perpétuo, o “eterno retorno”.

Na primeira metade do século XX surgiram pessimistas existencialistas como Sartre (escreveu um livro chamado “A náusea”!) e Simone de Beauvoir (autora da famosa e mal compreendida frase “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”). Os existencialistas diziam, como todo o “pessimista” (“niilista” é um termo melhor), que a vida não tem sentido. A destruição provocada pela guerra realçou essa dimensão trágica da vida. O remédio proposto pelos existencialistas: inventar um sentido e projetar as energias nele.



Jones F. Mendonça

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