O Dr. Raanan Eichler, em artigo publicado no The Torah, argumenta que o cajado florido de Aarão mencionado em
Nm 20,20-25 (com “brotos”, “flores” e “amêndoas”) é na verdade uma Aserá, símbolo
de uma divindade representada por uma árvore. Associações entre Aserá e Javé
aparecem, por exemplo, em cacos de cerâmica (pithoi) encontrados em Kuntillet
Ajrud, na Península do Sinai, datados para o século IX/VIII a.C.: “Javé de
Samaria e Aserá”. “Javé de Teman e Aserá”.
O autor explica que as Aserás eram
proibidas em textos deuteronomistas (Dt 7,15; 16,21), mas aceitos em textos
sacerdotais como símbolo do sacerdócio aarônico. Aproximações de sentido entre a
raiz hebraica da palavra “Aserá” (Álef, Sin, Resh) e a palavra “Bênção” (beyt,
resh, khaf) seriam outros indícios. Os sacerdotes aarônicos são fontes de
bênção (Nm 6,22-27), assim como nas inscrições nas quais Javé aparece ao lado
de Aserá:
“Bendito é Uriahu por Javé e Aserá”;
“Eu te abençoo por Javé de Samaria e Aserá”;
“Eu te abençoo por Javé de Teman e Aserá; Que
ele te abençoe e te guarde”.
As
consoantes de “Aserá” tem um sentido muito próximo de “Bênção”, como no paralelismo
do Salmo 72,17:
Nele
sejam abençoadas (Beyt, resh, Khaf) as raças todas da terra,
e
todas as nações o proclamem bem-aventurado! (Álef, Sin, Resh).
Assim, o relato presente em Nm
20,20-25 (florescimento do cajado de Aarão) seria um conto etiológico sacerdotal
usado para legitimar o sacerdócio aarônico e justificar a presença de um símbolo
associado à idolatria.
A história seria uma contrapartida do relato não-sacerdotal da serpente de bronze (Nm 21,4-9), que é uma etiologia da serpente de cobre Nehushtan destruída por Ezequias (2Rs 18, 4), e que atribui os poderes de reavivamento desse objeto à vontade de Javé, conforme realizado por meio da autoridade exclusiva de Moisés.
A história seria uma contrapartida do relato não-sacerdotal da serpente de bronze (Nm 21,4-9), que é uma etiologia da serpente de cobre Nehushtan destruída por Ezequias (2Rs 18, 4), e que atribui os poderes de reavivamento desse objeto à vontade de Javé, conforme realizado por meio da autoridade exclusiva de Moisés.
Jones F. Mendonça
Nehushtan é minha dissertação de mestrado. Defendi - e defendo - que a serpente de bronze (um saraf) era a representação icônica das divindades serafim, que têm a função de proteger a santidade de Yahweh. Assim, em Isaías 6, enquanto há uma imagem de uma saraf (Nm 21,8) no templo em que Isaías entra, no "céu" (mundo dos deuses) se encontra a hipóstase teológica dessa imagem, os serafins.
ResponderExcluirSaraf era considerada uma cobra alada (Is 30,6; 14,29).
São 400 páginas. Não dá pra resumir tudo aqui...
Saudades daquela dissertação.