domingo, 31 de março de 2019

LENATAN-MELEK EVED HAMELEK: OFICIAL DE JOSIAS?

Foto: Haaretz
O Haaretz (Israel) noticiou hoje a descoberta de um selo (tem o tamanho de uma unha) nas ruínas de um antigo edifício de Jerusalém destruído no século VI a.C. por ocasião da conquista da cidade pelos babilônicos.  A minúscula impressão do selo traz as palavras hebraicas LeNatan-Melek Eved HaMelek (Pertencente a Natan-Melek, servo do rei). O nome é o mesmo do oficial do rei Josias, mencionado em 2Rs 23,11. Não é possível afirmar, no entanto, que o selo tenha pertencido ao oficial de Josias (Christopher Rollston vê grande probabilidade da pessoa indicada no selo ser a mesma de 2Rs 23,11)

Uma excelente matéria foi publicada no Haaretz. Mais informações e imagens no The Times of Israel. Todd Bolen explica que um selo com a mesma inscrição (com autenticidade duvidosa) já circulava no mercado de antiguidades. A descoberta deste novo selo, feita por arqueólogos profissionais, remove qualquer dúvida em relação à sua autenticidade. 


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 28 de março de 2019

A INSCRIÇÃO DE DEIR 'ALLA (INSCRIÇÃO DE BALAÃO)

Em 1967 um grupo de arqueólogos holandeses descobriu, na região de Deir 'Alla (antiga terra dos amonitas), as ruínas de um grande santuário datado para os séculos XIII/XII a.C. No local foi encontrado um texto profético atribuído a “Balaão, filho de Beor” (personagem mencionado na Bíblia, em Nm 22-24). Escrito numa linguagem próxima do aramaico, o texto foi datado para 800 a.C. e contém uma série de previsões catastróficas supostamente entregues ao profeta em visões noturnas. Você pode ser uma tradução do texto para o inglês aqui.


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 27 de março de 2019

JÚNIA, A “APÓSTOLA” DE JOÃO CRISÓSTOMO

João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla, sabia que Junia, nome mencionado em Rm 16,7, é substantivo próprio feminino. Chega a lhe fazer um ditoso elogio: “quão grande sabedoria esta mulher deve ter tido para que tenha sido considerada digna do título de apóstolo!”. Isso no século IV!

No século XIII bateu aquele incômodo. Então começaram a surgir tentativas de transformar “Junia” em nome de homem (vejam que mudança de sexo é coisa antiga!). Lutero, por exemplo, arrumou um jeito de eliminar qualquer dúvida e traduziu o texto assim: “saudai a Andrônico e o Junias”. Inventou um artigo que não existe.

Alguns "doutores", na maior cara de pau, trataram de copiar o texto de modo diferente, mudando a acentuação. Trocaram Iounían (feminino) por Iouniân (masculino). Outros, após noites de sono perdidas, inventaram que Junia é forma abreviada do substantivo próprio masculino Junianus. Eu fico rindo disso tudo. Não há limites para a desonestidade intelectual.


Jones F. Mendonça

terça-feira, 19 de março de 2019

JUDAS NO SÁBADO DE ALELUIA

Imagem: Wikipedia
O antigo costume cristão de agredir uma representação de Judas no sábado de aleluia (conforme imagem) teve sua contraparte na tradição judaica. A vítima dos insultos, neste caso, era Hamã, inimigo mortal dos judeus no livro bíblico de Ester. Na festa do Purim o oficial persa era atado a uma cruz e queimado. A prática desagradava os cristãos, que viam no costume uma zombaria velada ao Cristo crucificado. O código Teodosiano (408 d.C.) atesta a prática com esta proibição:





Jones F. Mendonça

domingo, 17 de março de 2019

A TÚNICA DE JOSÉ: COLORIDA, ADORNADA OU LONGA?

A Bíblia, na versão João Ferreira de Almeida, apresenta Jacó dando a José uma “túnica de várias cores” (Gn 37,3). Na Bíblia de Jerusalém a túnica não é “colorida”, mas “adornada”. Na NVI a túnica não é colorida nem adornada, mas “longa”. Quem tem razão?

No texto hebraico consta “ketonet passiym”, onde ketonet indica claramente uma “túnica” ou “manto”. Passiym é plural de “pas”, termo que só reaparece em 2 Samuel 13,18-19, qualificando a túnica de Tamar, filha do rei Davi. O texto diz que este tipo de veste era especial, reservado à realeza.

É difícil saber com certeza se a tradução correta de “passiym” é “colorido” ou “longo”. Certo mesmo é que sendo a túnica uma vestimenta especial, reservada à realeza, não fica difícil entender a razão do descontentamento dos irmãos de José.

Repare que no sonho que vem em seguida (37,5-11) José aparece dominando seus pais e irmãos. Assim, o manto real recebido no verso 3 parece muito apropriado.

Em tempo: A Septuaginta (versão grega da Bíblia) traduz “passiym” por "poikilos" = algo com aspecto "múltiplo". A palavra grega reaparece em 1Pe 4,10: "despenseiros da MULTIFORME graça de Deus" (1Pe 4,10). Talvez por isso a Bíblia de Jerusalém - seguindo a LXX? - tenha traduzido o termo hebraico por "adornado", ou seja, "dotado de múltiplas formas".

Jones F. Mendonça

quinta-feira, 14 de março de 2019

MOISÉS, ZÍPORA E O PINGOLIM MUTILADO

Ex 4,25 diz que Zípora tomou uma pedra afiada e cortou o prepúcio de seu filho. Na sequência ela lança o prepúcio “aos pés de Moisés” (Almeida Atualizada). Mas na Bíblia NVI Zípora não lança o prepúcio cortado. Ela “toca os pés de Moisés” após a pequena incisão (com que finalidade!?). A Bíblia de Jerusalém apresenta outra versão: Zípora “fere os pés do menino” (uma ação igualmente estranha!). Temos assim três versões:

1. Zípora “lança o prepúcio aos pés de Moisés” (Almeida);
2. Zípora corta o prepúcio e “toca os pés de Moisés” (NVI);
3. Zípora “fere os pés do menino” (Bíblia de Jerusalém).

Está confuso? Afinal quem tem razão? Fiz uma tradução bem literal:
“E tomou Tziporah uma tzor (um tipo específico de pedra) e cortou o prepúcio do filho dela. TOCOU os PÉS dele (do menino ou de Moisés?) e disse: certamente marido de sangue és tu!”.
Ocorre que “pés” (רגל=reguel) pode ser empregado, em alguns casos, como eufemismo para os órgãos genitais (já falei sobre isso em outra postagem). Minha proposta de tradução:
“E tomou Zípora uma pedra afiada e cortou o prepúcio do seu filho. Tocou o “pingolim” dele (do menino, que neste momento está ensanguentado) e disse: certamente marido de sangue és tu!”.
Uma informação importante sobre o verbo “naga’” (נגע), traduzido simultaneamente por “lançar”, “tocar” e ferir” nas versões Almeida, NVI e Bíblia de Jerusalém. Seu sentido primário é tocar. Este “toque” pode ganhar, em alguns casos, o sentido de “tocar para ferir” (Cf. Gn 12,17 e 2Rs 15,5, sobretudo no PIEL, verbo no intensivo), mas nunca o de “lançar”, como na Almeida. Ocorre que em Ex 4,25 o verbo está no HIPHIL. Neste tronco o verbo sempre tem o sentido de “tocar”” [*].

Resumindo: a NVI acerta o verbo (tocar), mas erra os “pés”. Primeiro porque não são os “pés” de Moisés, mas os “pés” do menino. Segundo porque a referência não é aos pés (sem aspas), mas aos “pés” (ou seja, ao “pingolim” do menino).

[*] Ocorrências do verbo “naga’” no HIPHIL: Jó 20,6; Sl 32,6; 107,18; 1Rs 6,27; Is 6,7; 8,8; 30,4; Jr 1,9; Dn 12,12; Zc 14,5.



Jones F. Mendonça

INSULTO E DEBOCHE NA BÍBLIA HEBRAICA

Estamos no ano 701 a.C. O rei assírio Senaqueribe cerca Jerusalém. A fome e a sede levam o povo ao desespero. Um oficial assírio aproxima-se do aqueduto da cidade e de lá começa a insultar o rei Ezequias, sua corte, seu exército e o povo da cidade. Diz, em bom hebraico e em tom de deboche, que o cerco os obriga a “beber a água dos próprios pés” (2Rs 18,27).

Dificilmente você vai encontrar uma tradução como essa: “beber a água dos próprios pés”. A razão é simples: poucos entenderiam seu significado.


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 13 de março de 2019

CHRISTUS VICTOR


Nesta pintura de Michelangelo (Juízo Final, Capela Sistina), Jesus - que aparece sem barba - é retratado com um corpo saradão (não aparece tristinho e franzino como nas telas do Barroco). Note que o ferimento na parte lateral de seu corpo é retratado como um mero arranhão. As marcas dos cravos, nas mãos e nos pés, são praticamente um ponto vermelho.

A imagem inteira, em alta resolução, aqui.


Jones F. Mendonça

terça-feira, 12 de março de 2019

COMO "ELISABET" CONVERTEU-SE EM "ISABEL"

Embora o nome da mãe de João Batista seja grafado como ISABEL nas Bíblias em português (Lc 1,7), seu nome em grego é ELISABET. Mas por que o nome foi mudado?

Bem, Elisabet é a forma grega do hebraico Elishebá' (esposa de Arão – Ex 6,23 - significa "meu Deus jurou"). O nome é formado a partir da junção de um substantivo próprio, um pronome possessivo e um verbo. Veja:

El="Deus"
i=sufixo pronominal "meu".
Shebá'="jurou"

Por por algum motivo o substantivo "El" (Deus) foi para o final da palavra. Assim, ELishebá’ converteu-se em IshebaEL (aproximando-se foneticamente de Isabel). 

Não tenho a mínima ideia da razão que provocou a mudança na posição do “El” em nosso idioma. O nome aparece grafado corretamente nas versões inglesa e latina:

“And they had no child, because that ELISABETH...”(KJV).
“et non erat illis filius eo quod esset ELISABETH...”(Vulgata).


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 11 de março de 2019

"ÁGAPE" NÃO É "AMOR INCONDICIONAL"

Alguém inventou que o substantivo grego “ágape” e o verbo “agapao” expressam um tipo de amor singular, incondicional. A coisa vem sendo repetida ao longo dos anos de forma sistemática. A verdade é que o termo ganha sentidos diferentes tanto no Novo Testamento quanto na literatura grega secular. Um exemplo do uso do verbo "agapao" com sentido de apego às coisas terrenas aparece em 1Tm 4,10: “pois Demas, amando (agapao) este mundo, abandonou-me e foi para Tessalônica”. Neste verso, “agapao” não expressa nem um amor divino nem um amor incondicional. Cai o mito.



Jones F. Mendonça

O TÚMULO DE EZEQUIEL

A crença tão difundida na existência de uma inimizade milenar entre judeus e muçulmanos não possui fundamento histórico: no início do século XX, um terço da cidade de Bagdá era judaica. A relação conflituosa entre as duas religiões só teve início em 1948, após a criação do Estado de Israel. Uma evidência arqueológica das boas relações entre judeus e muçulmanos antes de 1948 é o túmulo de Ezequiel.

Construído por volta do ano 500 d.C., na pequena cidade iraquiana de Al-Kifl, o túmulo está localizado em um antigo santuário judaico que mais tarde ganhou a companhia de uma mesquita islâmica xiita. Desde então o local se transformou em um centro de peregrinação judaica e islâmica. Ainda hoje é possível ver as inscrições hebraicas pintadas nas paredes do santuário.

A foto mostra judeus orando no túmulo em 1932.


Leia mais aquiaqui: 


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 7 de março de 2019

O LÍBANO, O FOGO E O ALTAR

Isaías 40, em seu capítulo dezesseis, exalta o poder divino com os seguintes versos:

A. O Líbano não bastaria para queimar, 
B. nem a sua fauna para um holocausto.

Você seria capaz de dizer que tipo de imagem o texto está evocando?

Algumas versões, como a NVI, entendendo que o escritor sagrado está se referindo, no primeiro verso, às FLORESTAS DO Líbano e ao fogo DO ALTAR, traduz a linha “A” assim:

A. “Nem as FLORESTAS do Líbano seriam suficientes para o fogo do ALTAR”.

As palavras “florestas” e “altar” não aparecem no texto original, mas estão implícitas. Versões populares costumam dar uma ajudazinha aos leitores pouco familiarizados com a poesia e costumes judaicos.

O texto quer dizer o seguinte: nem toda a flora e fauna do Líbano seriam suficientes para fornecer lenha e carne para um holocausto compatível com a grandeza divina.



Jones F. Mendonça

terça-feira, 5 de março de 2019

‘OLAM SIGNIFICA "ETERNAMENTE"? VAMOS COM CALMA...

Geralmente quando quero compreender melhor o sentido de um termo hebraico rastreio suas ocorrências da Bíblia Hebraica usando programas como o Davar, a e-Sword e a BibleWorks. Os resultados geralmente são mais frutíferos que a consulta a dicionários e léxicos (alguns estão repletos de distorções). Tomo como exemplo o verbete “’olam” (עולם) e suas variações.

Em Jeremias 25,9, o profeta diz que Judá e Jerusalém serão objetos de escárnio e ruínas “perpétuas” (Olam). Mas o verso 11 diz que a desolação durará apenas 70 anos! Note que em 25,12 Babilônia recebe o mesmo destino. O texto diz que a cidade dos caldeus (Babilônia) se converterá em desolação “eterna” (olam). Esses dois exemplos deixam claro os termos que usamos rotineiramente em nosso idioma, tais como “infinitamente”, “eternamente”, não traduzem bem “olam”. Até onde pude investigar, são três as funções de ‘olam no texto:

Regra número 1: “Olam”, quando não precedido de preposição ou artigo, indica que duração é longa ou está distante no tempo, tanto para o futuro como para o passado. Um exemplo: Em Malaquias 3,4 é dito que a oferta de Jerusalém e Judá serão como nos dias “de olam”, ou seja, como nos dias “distantes do passado” ou “antigos” (como em Is 64,4). Vale destacar que a “Vida eterna” e o “horror eterno” de Dn 12,2 enquadram-se nesta regra.

Regra número 2: “Olam” precedido de artigo (HaOlam) aparece apenas duas vezes na Bíblia Hebraica. Um dos casos surge em Eclesiastes 3,11: “Deus colocou a ‘eternidade’ no coração do homem...”. A Bíblia de Jerusalém traduz corretamente: “colocou no coração do homem o conjunto de tempo”. Numa linha bem parecida segue a Bíblia TEB, que traduz HaOlam por “sentido do tempo”. HaOlam indica período de tempo longo – englobando passado ou futuro – e não exatamente “eternidade” (o termo só reaparece em 1Cr 16,36 com o mesmo sentido de Ecl 3,11).

Regra número 3: Quando “olam” surge precedido de preposição (LeOlam ou AdOlam) seu sentido aponta para o futuro (algo como “dias vindouros”). É tempo que se prolonga para a frente sem limite definido. Dois exemplos: Em 1Rs 1,31 Batshebá dirige-se a Davi assim: “Viva o meu senhor, o rei Davi, ‘para sempre’” (1Rs 1,31). Sua fala exprime algo do tipo “vida longa ao rei!”. No Código das Aliança, em Ex 21,6, a lei determina que o escravo que abdica de sua liberdade deverá ter a sua orelha furada, e assim: “permanecerá escravo para sempre”. Ou seja, até que morra.

O paralelismo sinonímico de Is 30,8 usa “olam” precedido da preposição “ad” (AdOlam). Os paralelismos sempre são úteis para nos ajudar a iluminar o sentido de um termo hebraico. Veja:

“Vai agora e escreve-o sobre uma TÁBUA [A],
grava-o em um LIVRO [A']
que se conserve para os dias vindouros [B],
para AdOlam” [B'].


Jones F. Mendonça

sábado, 2 de março de 2019

O CARNAVAL, O JEJUM E A REVOLTA DAS SALSICHAS

O estopim da reforma protestante na Alemanha foi a venda de indulgências. Em Zurique, na Suíça, tudo começou com a violação do jejum que se inicia na quarta-feira de cinzas (Jejum da Quaresma). A data: 09 de março de 1522. Aconteceu assim:

Um grupo de 12 cristãos, hospedados na casa de um impressor, comeu salsichas defumadas oferecidas pelo anfitrião, Christoph Froschauer. Após tomar conhecimento do caso, a Câmara Municipal da cidade decidiu investigar. Os sacerdotes se dividiram: alguns pediam punição severa. Outros, como Zwínglio, saíram em defesa dos rebeldes.

O reformador suíço, muito influente à época, argumentou que a Bíblia nada fala a respeito de um jejum na Quaresma. Ele não parou por aí. Em seguida criticou o celibato clerical e se casou com uma viúva, Ana Reinhart. 

Nunca duvide do poder das salsichas.



Jones F. Mendonça

O CARNAVAL E A QUARESMA

No período de quarenta dias, com início na quarta-feira de cinzas (neste ano: 06/mar) e término no Domingo de Ramos (neste ano: 14/abr), os primeiros cristãos comemoravam a Quaresma. Era um período de reflexão. Faziam jejum e penitência a fim de meditarem a respeito do evento da Paixão. O período de abstinência de carne era longo. Muita gente reclamava.

Com a finalidade de se despedir da carne, o povo fazia uma festa, debochava dos reis, do clero e até da sua miséria. Era uma celebração marcada pelos excessos, afinal no dia seguinte teriam de se abster de carne e fazer penitência. Os festejos ganharam o nome de Carnaval, termo que tem origem na expressão latina usada pelo Papa Gregório, em 590 d.C.: “Carnem levare” (retirar a carne). É provável que a festa tenha se inspirado na saturnália romana.

Com o tempo o Carnaval foi incorporando elementos novos, fenômeno que acontece com diversas festas, como o Natal (árvore, pisca-pisca, panetone...), e a Páscoa (ovo de chocolate, coelho...). Do ponto de vista etimológico, não se trata de uma “festa da carne” (carnalidade), mas da “abolição da carne” (carne de animal). Na prática funciona como válvula de escape para desejos reprimidos.

Uma última curiosidade: a quarta-feira de cinzas tem este nome porque neste dia os fies eram benzidos com as cinzas dos ramos de palmeira utilizados na domingo de Ramos do ano anterior.



Jones F. Mendonça

CARNAVAL E PURIM


O costume de ingerir comida e bebida em excesso na chamada “terça-feira gorda”, funcionava como uma espécie de despedida do consumo de carne por conta do jejum que começava na quarta-feira de cinzas e ia até o Domingo de Ramos (40 dias, como Jesus no deserto). O festejo, ainda vivo com o nome de Carnaval, também deixou marcas no judaísmo.

A festa judaica do Purim ocorre numa data próxima, por isso incorporou elementos do Carnaval celebrado entre cristãos. É sempre bom lembrar: Carnaval não é, em sentido histórico, “festa da carne”, mas “festa da despedida da carne”. A foto mostra judeus ortodoxos lendo seus textos sagrados numa sinagoga ao lado de uma criança fantasiada.


Jones F. Mendonça

PURIM, CARNAVAL E ALEGORIA

Um grupo de judeus, na Idade Média, tentou explicar o costume judaico de usar fantasias no Purim, festa cuja origem está vinculada ao livro bíblico de Ester. O argumento é o seguinte:

Ester ocultou sua identidade judaica do rei Assuero. No livro, o nome de Deus está oculto. Assim, também devemos ocultar nossa identidade no Purim usando fantasias.

Bem, não creio que esse argumento faça algum sentido. Na verdade os judeus passaram a usar fantasias no Purim porque incorporaram costumes cristãos ligados às festividades que antecedem à Quaresma.



Jones F. Mendonça