quinta-feira, 30 de maio de 2019

CIÚME, INVEJA E ZELO: NO HEBRAICO SÃO UMA SÓ PALAVRA

A palavra hebraica “qana’” significa “ardor”. Quando este “ardor” está relacionado a um bem alheio, é traduzido por “inveja”. Quando diz respeito a um bem próprio desejado por outros, é traduzido por “ciúme”. Quando se dirige a Deus, é traduzido por “zelo”. Veja:

1. “Ele tinha rebanhos de bois e ovelhas e numerosos servos. Por causa disso os filisteus QANA’ (tiveram inveja)” (Gn 26,14).

2. “Seus irmãos ficaram com QANA’ (ciúmes) dele” (Gn 37,11)

3. “Em recompensa do seu QANA’ (zelo) pelo seu Deus, poderá realizar o rito de expiações” (Nm 25,13).

As palavras hebraicas geralmente têm um campo semântico vasto. O tradutor precisa ficar atento.


Jones F. Mendonça


sexta-feira, 24 de maio de 2019

NAHAM: “COMPADECEU-SE” OU “ARREPENDEU-SE”

O verbo hebraico “naham”, em seu sentido primário, indica um movimento interno de pesar. Por vezes deve ser traduzido por “compadeceu-se”. Em outros casos por “arrependeu-se”. Dois exemplos:

1. “Os filhos de Israel se COMPADECERAM (naham) por Benjamim seu irmão” (Jz 21,6):

2. “O Senhor ARREPENDEU-SE (naham) de ter feito o homem sobre a terra” (Gn 6,6).

Então veja: quando o lamento indica tristeza pelo sofrimento alheio, a tradução deve ser “compadeceu-se”. Quando indica tristeza por algo que o próprio sujeito fez, deve ser traduzido por “arrependeu-se”. Há muitas ocorrências do verbo na Bíblia Hebraica. Até onde pude pesquisar, estes são os dois sentidos básicos do termo. 

Jones F. Mendonça

sábado, 4 de maio de 2019

ZAKAR, NEQEBAH E MATZEBAH: SEXO E GÊNERO NA BÍBLIA HEBRAICA

Imagem: Wikipedia
As palavras hebraicas mais usadas para designar “homem” e “mulher” são “ish” e “ishah”. Mas quando o texto quer enfatizar as diferenças sexuais usa “zakar” (macho) e “neqebah” (fêmea). No verso “acaso um homem tem dores de parto” (Jr 30,6), a palavra traduzida por “homem” é “zakar”, termo que seria mais bem traduzido por “macho”. É como se dissesse: “por acaso pode um macho engravidar?”.

Curioso é que “neqebah” (fêmea) é palavra da mesma raiz de “neqeb” (caverna, buraco, encaixe) e do verbo naqab (furar, perfurar). “Zakar” (macho), por sua vez, vem de uma raiz verbal que significa “fazer um marco/coluna” (um memorial). Os “memoriais” de pedra, chamados de "zikron" (Is 57,8) ou “matzebah” (Gn 28,22), ao que tudo indica, eram símbolos fálicos (como obeliscos egípcios). 

Meu palpite é que o verbo “zakar” (erguer um marco) foi usado inicialmente para indicar o ato de erguer um "zikron" ou “matzebah”. Por desdobramento, passou a ser usado como “relembrar” (não é essa a função dos marcos?). O verbo foi convertido em substantivo designativo do macho ou por sua relação com a ação de erguer (alusão ao pênis ereto) ou por sua relação com o zikron/matzebah (símbolo fálico).

Assim, na origem dos termos, a fêmea (neqebah) teria sido pensada como “aquela que possui a cavidade” (caverna) e o macho (zakar) como “aquele que penetra na cavidade” (memorial, falo).



Jones F. Mendonça