terça-feira, 20 de agosto de 2019

NÃO É “TORRE DE BABEL”, É “TORRE DE BABILÔNIA”

Em Gn 11,9 a palavra hebraica “Babel” é traduzida literalmente: “Babel” (referência à cidade na qual foi construída uma torre). Em Is 11,4 “Babel” é traduzida por “Babilônia” (referência ao poderoso império mesopotâmico que destruiu Jerusalém em 586 a.C.). Bem, em minha opinião a “Babel” de Gênesis e a “Babel” de Isaías indicam a mesma cidade. Explico.

A tal torre de Gn 11 provavelmente se refere a um zigurate, templo religioso em forma de pirâmide terraplanada (Etemenanki: “templo da fundação do céu e da terra”) construído na Babilônia. A etimologia popular explicou o nome “Babel” a partir do verbo hebraico “balal” (misturar/confundir), daí: “Deu-se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi lá que Deus ‘balal’ (misturou/confundiu)”. Os judeus adoravam esses trocadilhos. "Babel", para os babilônios significava "entrada de Deus". 

A semelhança entre a “Babel” de Gênesis 11 e a “Babel” de Isaías não está apenas no nome. Note que em Is 14,13 (veja também Is 51,53) o rei da Babilônia é censurado por achar que poderia “subir até o céu, acima das estrelas de Deus” (Egito e Edom são condenados pela mesma falta em Ez 31,10 e Ob 1,3). Na Babel de Gênesis o pecado é o mesmo: “Vinde! Construamos uma cidade e uma torre cujo ápice penetre nos céus!”.

Gn 11,1-9 é, em seu contexto original, um deboche à religião e à arrogância dos babilônios. A data provável da redação: o período exílico (597-537 a.C.). Os autores: judeus exilados, especialistas na arte do escárnio e da troça.



Jones F. Mendonça

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