sexta-feira, 11 de outubro de 2019

NINGUÉM NASCE MULHER?

De modo geral, quando um bebê nasce, projetamos sobre ele nossas aspirações e impomos sobre ele desde cedo características de diferenciação sexual. Se é do sexo masculino: roupa e quarto azul. Se é menina: roupa e quarto rosa. Também o comportamento é direcionado: “menina não joga futebol!”, “menino não chora”, etc. O procedimento é comum em diversas culturas. Esses elementos distintivos, no entanto, não caem do céu, são construções humanas. Têm lá seus aspectos positivos (como a coesão social) e também negativos (alguns não se identificam com esses “selos” de diferenciação).

Quando Simone de Beauvoir disse, já no final da década de 50, que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, não queria com isso negar as diferenças biológicas entre macho e fêmea (é óbvio!), muito menos insinuar que os seres humanos nascem sexualmente neutros. Muitas de suas queixas tinham a ver com o papel reservado à mulher imposto pela sociedade (sobretudo pelos homens). O termo “mulher”, em sua fala, era usado para indicar essa construção, essa imagem idealizada da fêmea transformada numa espécie de modelo imutável e definitivo.

“O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir, é uma obra-prima de quase mil páginas. Fazer um pouquinho de esforço para entender o que ela diz não fará mal a ninguém.



Jones F. Mendonça

3 comentários:

  1. Olá meu amigo Jones!

    Cá estamos em 2020! Conversávamos desde 2008 quando eu ensaiava uma vida de desenhista e tinha o blog des3nhos.blogspot.com. Hoje sou professor de arte (e de Ens. Religioso por acidente) em escola pública e vim aqui tirar uma dúvida. Pensei: "- Será que o cara mais hermético que conheço ainda publica?" Sim! E como nunca!

    Fiz minha pesquisa e sem querer me deparei com esse pequeno post maravilhoso, que tomba uma muralha de preconceitos levianos, de opiniões formadas. Teu compromisso dialético com a busca da verdade ainda me impressiona. Obrigado por existir, irmão!

    Minha dúvida é porquê fiz uma publicação sem fonte e me senti culpado. Vim até aqui buscar a origem do quê li, e penso que foi aqui que li aquela informação que jamais me saiu da cabeça: de quê a mulher entrou no cristianismo na figura central de Maria porquê as mulheres cristianizadas das tribos bárbaras da Europa não abandonavam as deidades femininas pagãs em momentos primordiais como o parto. Caso de falta de representatividade. Ainda não encontrei o texto e não tenho como ter certeza que foi aqui, mas se puderes me esclarecer ou confirmar, agradeço.

    No mais, em tempos de pandemia sequer sabemos se estaremos aqui daqui alguns meses, mas sou agradecido por ter este reencontro a tempo. Espero que o Google não tombe esta plataforma, ou que haja uma forma de salvar todo este conteúdo antes que aconteça.

    Um grande abraço!
    Tiarles Rodeghiero

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    1. Olá, Tiarles, você foi um dos primeiros leitores do Numinosum. Eu me lembro bem. Prazer tê-lo aqui de novo. Quanto à questão colocada por você: é difícil saber com certeza se os cristãos dos primeiros séculos começaram a elevar a figura de Maria com o objetivo de inseri-la no lugar de divindades femininas (mas é uma boa hipótese). Mas realmente falo sobre o assunto num post de abril de 2012. Eis o link: http://numinosumteologia.blogspot.com/2012/04/quaternidade-em-paul-tillich-e-carl.html

      Grande abraço!

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    2. Olá, Jones.
      Muito bom este texto, mas infelizmente não é ele. Na leitura que mencionei a análise central e objetiva era a supressão das entidades femininas pagãs através de sua substituição/sobreposição por Maria. Devo ter lido em outro lugar. Obrigado pela dedicação em responder e me indicar este outro!

      Foi bom lembrar o nome do seu blog e poder voltar às leituras depois dessa década que me trouxe maturidade e tolerância. Com certeza levarei daqui novas ideias, conceitos e esclarecimentos para a sala de aula, como por exemplo os princípios da 'Graça Comum' e o "Imago Dei", que eu não compreendia muito bem. São conceitos distantes do catolicismo tradicional de onde vim, pelo menos até a ascensão política de Francisco.

      E parabéns por estar no TOP 50 do Biblioblog! Informação e reflexão de qualidade, democrática e gratuita na internet... A reforma deu certo!

      Até mais!

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