Divulguei aqui e postei aqui material sobre o debate com o tema "cristologia", apresentado no STBC em maio de 2015. Como o vídeo do debate finalmente foi postado no YouTube, aproveito para disponibilizá-lo no Blog.
Com receio de extrapolar os 20 minutos reservados a cada um dos palestrantes, acabei tendo que falar mais rápido do que gostaria, mas não acho que tenha comprometido a clareza. Caso queira assistir aos demais palestrantes, clique no título do vídeo para ser conduzido ao YouTube.
Jones F. Mendonça
Gostei do vídeo e o do texto que você disponibilizou no blog. Eu, particularmente, li recentemente o livro "How Jesus became God" (HJG) de Bart Ehrman e estou lendo "How God became Jesus", organizado por Michael Bird, que pretende levantar objeções às tese de Erhman. A perspectiva de baixa cristologia de Ehrman é bastante radical, se considerarmos a ortodoxia cristã. Para ele, Jesus é um ser humano que, em razão de suas ações e pregações, bem como em razão do impacto que causou em seus discípulos, veio a ser interpretado como Messias e, posteriormente, como o próprio Deus. O livro de Michael Bird pretende contestá-lo e afirmar o oposto: historicamente os discípulos já consideravam Jesus como Deus e o próprio Jesus se auto-interpretava como tal. Lendo os textos com cuidado e considerando a probabilidades de certas afirmações serem verdadeiramente de Jesus, podemos levantar sérias dúvidas sobre tais premissas ou pressuposições.
ResponderExcluirNa minha opinião, as teses de Ehrman são bastante plausíveis. Creio que o ponto mais frágil de suas teses esteja apenas na hipótese de que o sepultamento e o túmulo vazio foram invenções ou construções da comunidade e, por conseguinte, de que a ressurreição não ocorreu de fato. Eu, particularmente, tenho dúvidas sobre se a ressurreição ocorreu de fato, mas, por outro lado, deve-se admitir que algum tipo de ocorrência incomum os discípulos devem ter vivenciado, e esta deve, de alguma forma, estar relacionada à pessoa de Jesus, pois somente algo supostamente extraordinário despertaria tanta convicção nos discípulos . Penso que Craig Evans responde equilibradamente e de forma historicamente plausível a essa hipótese de Erhman, sem simplesmente apelar aos dogmas da ortodoxia ou da visão fundamentalista. Não li ainda todo o HGJ, mas dos textos que li, somente o de Craig Evans me pareceu mais convincente. O de Michael Bird não me pareceu digno de suspeita. A impressão que tenho, ao ler o texto de Bird, "The story of Jesus as Story of God", é o que os judeus eram extremamente irracionais ao não reconhecerem Jesus nem como Messias nem como Deus. Isto não me parece plausível. Eles têm boas razões para crer que a identidade entre Jesus e Deus é uma heresia. O que me leva a crer que se Jesus foi interpretado como Deus por alguns judeus, isto se deve mais ao caráter carismático de Jesus e seus discípulos do que ao conhecimento da natureza da religião judaica (cujas fontes não eram, certamente, acessíveis à maioria da população). A baixa cristologia, portanto, me parece a mais plausível historicamente, dado que no próprio relato dos evangelhos podemos constatar que não era evidente que Jesus era o messias ou a segunda pessoa da Trindade ou o próprio Deus.
ResponderExcluirTanto a teoria da "fraude objetiva" (ressurreição inventada pelos apóstolos - Reimarus), como a teoria da imaginação mítica - Strauss) também não me convencem. Os seguidores do Nazareno não arriscariam sua vida em nome de algo que eles mesmo inventaram. O registro que aponta Madalena como a primeira a ter contato com o Cristo ressurreto ao invés de ser evidência de que houve ressurreição (apologetas como Craig adoram citar esse argumento ) mostra apenas que o anúncio veio da boca de uma mulher. Vejo apenas dois caminhos: ou Jesus ressuscitou (perspectiva de fé) ou Madalena inventou o contado com o Cristo ressurreto e foi capaz de convencer os discípulos de que isto realmente aconteceu.
ResponderExcluirAh, o Craig que citei acima é William Lane Craig e não Craig Evas.
ResponderExcluirDe fato, o evento da ressurreição é o mais problemático para uma perspectiva histórico-crítica, que pretende distinguir entre teologia e história, e entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo. Os argumentos de William Lane Craig (The Son rises) e N.T. Wright (cujo livro The Ressurection of son of God só comecei a ler (e não passei do começo ainda) mas cheguei a ler um "resumo" do argumento dele no livro "Um ateu garante: Deus existe"), parecem cogentes, e a tese de que não se pode admitir a ressurreição como dado histórico me parece frágil. O relato da ressurreição, ao que tudo indica, parece cumprir os critérios de historicidade que, tradicionalmente, são utilizados em estudos da antiguidade. O problema, na minha opinião, estaria justamente na aceitação dos critérios e na ambiguidade no que diz respeito ao conceito de "independência". Segundo o critério da independência o evento é histórico se é descrito em relatos independentes. A ambiguidade está no fato de que, segundo penso, o conceito de "dependência" é relativo e aberto. As fontes Mateus e Lucas são dependentes de Marcos, mas teologicamente há certas diferenças. Tal diferença representa ou não uma independência? Há, ideologicamente, uma dependência da tradição cristã. Mas, neste caso, João é também ideologicamente dependente de tal tradição. Assim, podemos dizer que João e Marcos são independentes, mas ambos compartilham a dependência de um ambiente ideológico e do imaginário dos cristãos primitivos. Historiadores anti-religiosos questionam justamente isto: há uma relativa independência. No fundo, estes historiadores parecem querer dizer que uma vez que há interesse religioso, a fonte não é confiável, sendo historicamente suspeita.
ResponderExcluirPS: no meu segundo post, na parte em que digo "O de Michael Bird não me pareceu digno de suspeita", eu engoli parte da frase que deveria ser "não é convincente e" "me pareceu digno de suspeita".