terça-feira, 18 de agosto de 2015

NÃO, NÃO HAVERÁ NOVA REFORMA PROTESTANTE

Lutero no leito de morte
É um erro pensar que haverá nova Reforma protestante. Quando Lutero divulgou suas 95 teses contra as indulgências desejava corrigir crenças e práticas que percebia como equivocadas no âmbito do catolicismo popular. Não foi uma repreensão ao Papa ou à Curia romana, mas aos “sacerdotes desajuizados” (Tese 10), aos “apregoadores de indulgências” (Tese 21), aos “ludibriadores do povo” (Tese 24) e aos “bispos, padres e teólogos (Tese 80). Embora tenha uma dimensão moral, o que caracterizou a Reforma foram as críticas de cunho teológico.

Após perder a inocência, Lutero percebeu que a liderança da Igreja endossava as práticas que via como perversão da verdadeira doutrina. O monge agostiniano foi excomungado, adotado astutamente pelos príncipes e a Reforma teve êxito. E o que significa que a Reforma teve êxito? Significa que ao invés de uma igreja apenas, surgiram duas (alguns dias depois, múltiplas!). A primeira submissa ao papado. A segunda embalada pelo livre Exame das Escrituras. Ora, sendo o exame e a interpretação livres, caiu por terra qualquer tentativa de mediação entre Deus e os homens. A cada esquina e a cada segundo foram surgindo novos líderes de novas igrejas alegando agir segundo a orientação Espírito.

Quando alguém anuncia a necessidade de uma nova Reforma fico pensando: em que consiste esse apelo? Se a ideia é condenar os ensinamentos do reformador alemão é preciso lembrar que isso já foi feito no Concílio de Trento pelos católicos (1545-1563). Se a ideia é reafirmar ideias de Lutero basta que o sujeito opte por pertencer a alguma igreja luterana. Se a ideia é criar algo novo, diferente do que ensinam os católicos ou os protestantes históricos, basta que crie uma nova igreja, baseada numa nova doutrina (que tal “A igreja verdadeira”?). Mas se a opção for pela última alternativa, será preciso ter em mente que há muitos, mas muitos fazendo isso. Será apenas mais uma manjubinha no vasto oceano da cristandade.


Jones F. Mendonça

4 comentários:

  1. Jones, embora esse não seja o tema, poderia indicar alguma bibliografia sobre Critica Textual do Novo Testamento? O único livro que conheço em português é o do Paroschi, mas tenho minhas reservas sobre essa obra.

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  2. Tenho um do George Ladd, "Critica del Nuevo Testamento", publicada pelo Mundo Hispano, 2002.É possível encontrá-lo na rede em PDF. Mas pelo que sei, só mesmo em espanhol. Embora não sejam exatamente sobre crítica textual, há excelentes obras que abordam o assunto, tais como "Metodologia do Novo Testamento", de Wilhelm Egger, "Exegese do Novo testamento", de Uwe Wegner, "Introdução à exegese do Novo Testamento", de Udo Schnelle e "Princípios de interpretação bíblica", de Vilson Scholz.

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  3. Grato pelo retorno. Também encontrei esse aqui: http://www.sbb.com.br/o-texto-do-novo-testamento.html#.VdtDYmPVW-Y
    Mas não sei se é bom.

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  4. Acho bem perigoso o raciocínio "Ora, sendo o exame e a interpretação livres, caiu por terra qualquer tentativa de mediação entre Deus e os homens".Se bem que Lutero reivindicou o livre exame,não livre interpretação.Tudo isso foi falado,provavelmente,por causa da Guerra dos Camponeses(1525).E defender esse termo destacado é como se dissesse que os estudos jamais pudessem ficar na 'mão do povo',pois 'é perigoso'...não foi só a Igreja Romana que tentou barrar esse livre acesso. Muitos povos na História tentaram.É triste quando o ser humano crê nisso.
    http://lulopesfada.blogspot.com.br

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