Bem aventurados são os miseráveis, os famintos, os que
choram, os rejeitados, diz o sermão do Monte em Lc 6,20-22. Por outro lado, malditos
são os ricos, os saciados, os que se deleitam no riso festivo, os que recebem
as mais pomposas honrarias. Como entender o sermão do monte lucano?
Repare que após as bendições surge uma promessa: “no céu
será grande a vossa recompensa; pois do mesmo modo seus pais tratavam os
profetas” (v. 23). Em suma: são benditos porque sofrem com a injustiça, assim
como os antigos profetas. Lucas identifica os oprimidos com os profetas.
Após as maldições surge uma advertência: “Ai de vós, quando todos
vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais tratavam os falsos profetas” (v.
26). Em suma: são malditos porque são honrados como os falsos profetas. Lucas
identifica os opressores com os falsos profetas.
Lucas até insere no capítulo 16 uma parábola que serve muito
bem como ilustração para o sermão do Monte. Trata-se da parábola do rico e
Lázaro. O mendigo é um despossuído (pobre), alguém que deseja comer das
migalhas que caem da mesa (está faminto), que sofre em suas úlceras (tem boas razões para chorar) e
que é desprezado pelos homens (é um rejeitado).
O rico, por outro lado, veste-se de púrpura e linho fino (é
rico), tem diante de si uma mesa repleta de delícias (está saciado), regozija-se
em uma vida cheia de requinte (sim, tem boas razões para rir) e goza de
respeito entre os homens (é honrado).
O tema do “reverso da moeda”, da “recompensa futura como
resultado do sofrimento presente” ou do “salário igual para trabalhos desiguais” aparece nos evangelhos com muita força em diversas parábolas. Quer mostrar que
o Reino de Deus não é regido por critérios humanos. Não é Reino onde a honra é
alcançada por méritos. É Reino onde o peão, pode virar patrão. A mensagem é tão desconcertante que a maioria dos sermões usa como base o texto de Mateus, que contém um sermão do Monte bem mais ameno.
Jones F. Mendonça
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