quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
NEGACIONISMOS
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
O CÉU DE AGOSTINHO
Jones F. Mendonça
sábado, 25 de dezembro de 2021
LUTERO E A TEOLOGIA LIBERAL (PARTE II)
sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
LUTERO E A TEOLOGIA LIBERAL
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
ORTODOXIAS
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
DE ANIMA
2. No Salmo 42,5, por exemplo, lemos assim: “por que está INCLINADA (שחח) minha GARGANTA (נפש)?”, ou seja, “por que está ABATIDO meu VIGOR/minha VIDA?”. A garganta aparece associada ao vigor, à vida, porque é por ela que passa o alimento, o ar que respiramos, o grito de dor, o brado de alegria.
3. Até mesmo no grego a relação entre “vida” e “fôlego” (associado à garganta) está presente. O termo “psychḗ” (ψυχη) significa “respiração”, “fôlego”. Por desdobramento: “vida”, “alma” (aquilo que dá ânimo ao corpo). Em Lc 12,22 lemos: “não andeis ansiosos pela vossa psychḗ”, ou seja, pela vossa “vida”.
4. A ideia de que a “psychḗ” é algo que subsiste sem o corpo aparece em Mt 10,28: “Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a psychḗ” (ou seja, que não podem dar um fim definitivo à existência e impedir ressurreição do corpo). Ocorre que na maioria das vezes, psychḗ significa simplesmente “vida”. Infelizmente a maioria dos tradutores opta por traduzir o termo por “alma” de forma indiscriminada.
5. A ênfase na percepção da existência humana na terra como sendo caracterizada por uma alma imortal aprisionada a um corpo mortal tem trazido grandes consequências. A tradição cristã medieval insistiu nessa ideia, que foi repetida pelos reformadores (como Calvino), deixando grandes reflexos na relação negativa do cristianismo com a sexualidade e com o prazer.
Jones F. Mendonça
sábado, 18 de dezembro de 2021
A LEITURA SICRÔNICA/CANÔNICA DE ROBERT ALTER E BREVARD CHILDS
OS TRÊS FILHOS NATIMORTOS DA REFORMA
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
QARATZ: “FORMAR”, “PISCAR” E “MORDER”
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
LAMENTAÇÕES: UM PRÓLOGO, QUATRO EQUÍVOCOS
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
HAGAG: RODOPIOS NAS FESTAS, RODOPIOS NA TORMENTA
segunda-feira, 6 de dezembro de 2021
SOBRE AS HERESIAS
sábado, 4 de dezembro de 2021
JEREMIAS, O PROFETA DA DOR
2. Isso explica a diversidade de traduções para Jr 20,7: “seduziste-me, Senhor”, ou “enganaste-me, Senhor”, ou “persuadiste-me, Senhor”. Aqui Jeremias quer dizer o seguinte: “não quero fazer isso, mas a vontade divina me arrasta como um grilhão”. Ou, como ele mesmo declara no v. 9: “então isto era em meu coração como um fogo devorador, encerrado em meus ossos”. A dor profunda experimentada pelo profeta o leva a dizer: “estou cansado de suportar” (v. 9), “maldito o dia em que eu nasci!” (v. 14) e “porque ele não me matou desde o seio materno?” (v. 17).
3. Quem lê o livro com livro com atenção percebe que é injusta a classificação “profeta chorão” atribuída a Jeremias. Assim como é um equívoco ver Jó como exemplo de homem paciente. Não é paciente nem resignado.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
CALVINO E OS “HORRIVELMENTE EVANGÉLICOS”
sábado, 27 de novembro de 2021
SOBRE O CRISTIANISMO IDEOLÓGICO
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
O SALMO ESTOMACAL
2. Tanto “néfesh” (lit. “garganta”) como “hay” (lit. “estômago”) são traduzidos, na grande maioria das vezes, por “vida”. Este Salmo é um raríssimo exemplo da ocorrência dessas duas palavras com sentido absolutamente concreto. Desconheço versão bíblica que traduza assim (dá uma olhada na sua).
3. Um bom leitor perceberá que
“perseguir a GARGANTA e alcançar e pisotear o ESTÔMAGO na terra” é o mesmo que
aniquilar a vida. Versões como a NVI traduzem assim: “no chão me pisoteie e
aniquile a minha vida”. A NVI capturou a mensagem. Mas que tirou toda a beleza
da poesia hebraica, ah, tirou...
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
A BÍBLIA HEBRAICA E AS PAIXÕES VISCERAIS
Mas nem sempre a imagem das entranhas vibrando/zunindo/gemendo indicam tristeza, dor ou agonia. Em Cantares 5,4, já despida, a amada espera seu amado no quarto. Quando ele chega, com os cabelos cheios de orvalho, deslizando seus dedos úmidos pela abertura (da porta?), as entranhas dela “vibram por ele”. Não vibram de tristeza, vibram de paixão, de fogo, de desejo. Mas o moço desaparece antes que ela lhe abra a porta. Ficou ali, com os dedos gotejando mirra.
Jones F. Mendonça
terça-feira, 23 de novembro de 2021
EZEQUIEL 29,18: CARECAS DE OMBROS ESFOLADOS
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
O “JORNALEIRO” EM ISAÍAS 16,14
2. Ocorre que “jornaleiro” indicava, há muito tempo atrás, pessoa que recebia por jornada de trabalho, daí a escolha da palavra portuguesa “jornaleiro” (o que hoje chamaríamos de “diarista”). Assim, eu não diria que a tradução está errada, mas desatualizada.
3. O termo hebraico traduzido por
“jornaleiro” é שכיר (sakiyr). Ele serve para indicar uma pessoa que luta
diariamente por seu sustento. O termo reaparece em Jó 7,1. Veja: “Não está o
homem condenado a trabalhos forçados aqui na terra? Não são seus dias os de um sakiyr”
(assalariado, diarista, etc.)?
Jones F. Mendonça
domingo, 14 de novembro de 2021
AS DISPUTAS RELIGIOSAS E AS "FAKE NEWS" NO BRASIL REPÚBLICA
2. O autor destaca que a “seita
pentecostal” era repudiada até mesmo pelos demais protestantes e argumenta, por
exemplo, que uma edição do Jornal Batista no início da década de 30 – classificado pelo
autor como “jornal protestante-esquerdista” (!) – enumerou alguns dos frutos do
pentecostalismo. Na relação aparecem: “perda de fé, amor livre, imoralidade,
espiritismo, hipnotismo... loucura”, etc. A estratégia católica era destacar os
efeitos nocivos do livre exame luterano, prática que a cada dia gerava mais
denominações protestantes que já nasciam se digladiando.
3. Na sequência também é mencionado o jornal presbiteriano “A Mensagem”, que teria tratado o pentecostalismo como “seita turbulenta e de confusão”. Outro jornal presbiteriano, “O Puritano”, publicado em 1939, teria noticiado que num culto pentecostal, “após alguns dias de jejum e reuniões e gritarias” um membro tentou arrancar a língua de um bebê, imaginando estar possuída pela “antiga serpente”.
4. Apesar de toda a oposição católica (com boa dose de exageros, inclusive ampliando a crítica protestante aos pentecostais), o pentecostalismo veio para ficar. O jornal Diário da Noite noticiava, em 10 de março de 1969, a inauguração no largo da Pompeia, em São Paulo, daquele que seria “o átrio do maior templo evangélico do mundo”, com a presença do prefeito Faria Lima. O projeto do templo, sede da Igreja Pentecostal Brasil para Cristo, previa até mesmo a construção de um heliponto!
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
AS PROLES E A NATUREZA DOS SENTIDOS
Jones F. Mendonça
terça-feira, 9 de novembro de 2021
PROTESTANTISMO E IDEOLOGIA LIBERAL
2. Enquanto a burguesia latifundiária rural defendia a velha ideologia feudal ibérica, os protestantes chegavam trazendo consigo, além da religião, a nova ideologia liberal anglo-saxônica. Imaginavam, inspirados na filosofia do destino manifesto, que eram representantes do progresso econômico, político e cultural. Na prática os missionários protestantes atuavam – conscientes ou não – como agentes do imperialismo estadunidense.
3. As portas para as religiões de matriz protestante se abriram em 1810, por meio do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação celebrado entre a Coroa Portuguesa e a Inglaterra. Embora fosse um tratado comercial, o documento assegurava aos ingleses residentes no Brasil, a “perfeita liberdade de Consciência, e licença para assistirem, e celebrarem o Serviço Divino em honra do Todo Poderoso Deos” (art. XII).
4. Os locais de culto, no entanto, precisavam ter a arquitetura “semelhante às casas de habitação” e, um detalhe importante: não podiam ter sinos para anunciar as atividades religiosas. Você pode acessar e ler o documento – escrito no bom português do século XIX e digitalizado pela equipe da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – clicando aqui.
sábado, 6 de novembro de 2021
DAVI E SALOMÃO COMO REIS NÔMADES
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
SOBRE OS “HOMOSSEXUAIS” EM 1CORÍNTIOS 6,9
2. “Malakos” só reaparece em Mt 11,8 e Lc 7,25. Seu sentido concreto é “mole”, “macio”, “suave”, “flexível”. No caso dos Evangelhos o termo é usado para indicar um tecido “luxuoso”, “fino”, dada sua maciez. Rastreei o emprego do termo em textos fora do NT com a ajuda o Perseus Digital Library. Ele aparece em textos de Platão, Aristóteles, Heródoto e tantos outros. Sempre indica algo que é macio, mole, flexível, etc. De modo geral os tradutores pensam que o termo foi usado como metáfora para “delicado”, daí “efeminado”. Quem pode ter certeza?
3. “Arsenokoites” é um neologismo paulino. Só reaparece em 1Tm 1,10, mas o contexto não ajuda a entender seu significado com clareza. O termo resulta da junção de “arsen” (macho) + “koite” (cama). Será que indica o macho que traz para sua cama outro macho? Ou uma mulher casada que macula o seu leito com outro homem? Talvez esteja se referindo ao abuso de homens mais velhos cometidos contra homens mais jovens, prática bem atestada entre gregos e romanos. Difícil saber com certeza.
4. Confesso que não estou convencido de que o texto esteja se referindo ao que hoje chamamos de “relação homoafetiva”. Os exegetas da BJ são os mais honestos. Sabem que as palavras no máximo revelam um tipo de relação/comportamento considerado imoral (mas qual?), daí terem optado por termos mais genéricos como “depravados e pessoas com costumes infames”. O que passa disso é invenção, é leitura ideológica da Bíblia.
5. Bem, se você me perguntar se Paulo teria posição contrária às relações sexuais homoafetivas eu diria que sim. É o que parece dizer Rm 1,26-27. A posição de Paulo em Romanos concorda com a de outros judeus do período, como Fílon de Alexandria, que condenava relações sexuais entre homens porque via o sexo como algo exclusivamente relacionado à reprodução. Vale dizer que Fílon também condenava sexo entre um homem e uma mulher estéril, uma vez que não promovia a reprodução da espécie.
Jones F. Mendonça
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
A LENDA DO REI KERET
Tu não julgas a causa da viúva,Nem decide o caso dos miseráveis;Não expulsas os que atacam os pobres;Não alimentas o órfão antes de ti (ANET, 149).
domingo, 31 de outubro de 2021
JUBILAR UNIGENITUS DEI FILIUS
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
BAAL NO TEMPLO DE JUDÁ
Publicado hoje no Haaretz (27/10/21):
Um fragmento de relevo encontrado em um santuário semelhante ao Templo de Salomão lembra uma divindade cananeia, sugerindo que o culto a imagens e a vários deuses estava bem vivo na Judá bíblica.
O objeto – encontrado na antiga comunidade de Motza, a 6 km de Jerusalém – pode ser apenas uma pedra desgastada de uma maneira que lembra um homem de pé. O arqueólogo que dirige a escavação, Shua Kisilevitz, sugere que seja um fragmento de relevo mostrando a representação de uma divindade da tempestade, como Baal.
Jones F. Mendonça
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
O SOL “ME AVISTOU”, MEUS IRMÃOS “ME QUEIMARAM”
Não OLHEIS eu estar empretecida, foi o sol que me AVISTOU. Os filhos de minha mãe QUEIMARAM-SE contra mim.
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
CÂNTICO DOS CÂNTICOS: UMA LEITURA HISTÓRICO-SOCIAL
- Clique aqui para acessar a página da Faculdade Unida de Vitória;
- Depois clique em “quero comprar” na arte que anuncia o curso (é de graça, exceto se você optar pela emissão de certificado);
- Um quadrinho vai aparecer (acesso – sob demanda). Caso ainda não tenha uma conta, crie uma clicando em “ainda não possui conta, clique aqui” (em cinza, na parte inferior do quadrinho).
ALEGORIAS E MAÇÃS DE OURO
Mas a natureza se delicia com o número sete. [...] sete são as secreções [do corpo]: lágrimas, muco do nariz, saliva, líquido seminal, os dois tipos de evacuação [urina e fezes], e o suor que sai de todas as partes do corpo (Interpretação Alegórica I, IV, 8).
domingo, 17 de outubro de 2021
LUTERO E AS ORDENS CELESTES
sábado, 16 de outubro de 2021
LUTERO E O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL
Moisés está aqui registrando fatos históricos [...]. Embora seja difícil descrever que tipo de luz era essa, ainda não estou inclinado a pensar que devemos nos afastar, sem motivo, da gramática simples.
É por esse motivo que sou tão favorável a Lira e, de bom grado, classifico-o entre os melhores comentaristas. Ele sempre obedece e segue cuidadosamente a história.
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
A VIOLAÇÃO DO SÁBADO EM NM 15
terça-feira, 12 de outubro de 2021
ASSUR, JAVÉ, CHUVA DE FOGO E GRANIZO
Eu [Assur] ouvi seu clamor [de Esarhaddon].Saí como um brilho ardente do portão do céu,para lançar fogo e devorá-los.Estavas no meio deles,por isso retirei-os da tua presença.Eu os levei montanha acimae choveu pedras (granizo) e fogo do céu sobre eles.Matei seus inimigose enchi o rio com o sangue deles.Que eles vejam (isso) e me louvem,(sabendo) que sou Assur, Senhor dos deuses (SAA, 24).
Jones F. Mendonça
segunda-feira, 11 de outubro de 2021
A BÍBLIA HEBRAICA E A LITERATURA DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO
PRITCHARD, James B. (edit.). Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament. Princeton: Princeton University Press, 1969.
O QUE É O “CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL” EM GN 3,5?
2Sm 14,17.20 pode lançar uma luz sobre o problema. Uma mulher sábia de Técua diz o seguinte a Davi: “meu rei é como o anjo de elohim (כמלאך האלהים) para discernir o bem e o mal”, afinal ele tem “a sabedoria de um anjo de elohim”. Ao que parece a capacidade dada pelo fruto proibido foi a de avaliar, perceber, decidir com justiça.
Repare que no relato de Gênesis homem e mulher recebem a sabedoria para julgar, mas não a vida eterna: “que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!” (3,22). No mito de Adapa – o primeiro homem criado – algo semelhante acontece. Adapa recebe de Ea a sabedoria, mas não a vida eterna:
Para ele [Adapa], ele [Ea] deu sabedoria,
a vida eterna que ele não lhe deu (ANET, 102).
No segundo relato bíblico da criação (não sacerdotal) essa sabedoria, esse conhecimento, é visto de forma negativa, como uma espécie de busca por autonomia em relação a Javé.
Jones F. Mendonça
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
A SABEDORIA E A INSENSATEZ EM PROVÉRBIOS
sexta-feira, 1 de outubro de 2021
SOB A SOMBRA DE SHADDAY
[Os deuses] puseram-me em um esconderijo diante dessas maquinações malignas, espalhando sua doce sombra protetora sobre mim, preservando-me para a realeza (ANET, 289).
Aquele que se assenta no esconderijo de Elyon,pernoita à sombra (צל) de Shadday.
Ele te esconde com suas penas,sob suas asas encontras um abrigo.
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
PREPÚCIOS, ARTE E DEVOÇÃO
Embora ocultado na representação medieval acima, o prepúcio aparece de forma bem evidente nos escritos de Catarina de Siena, que comenta em uma de suas cartas seu noivado com Jesus, selado não “não com um anel de prata, mas com uma aliança feita com sua própria carne sagrada” [1].
Nota:
[1]GLICK, Leonard B. Marked in your flesh: circuncision from Ancient Judea to modern America. Oxford: Oxford university Press, 2005, p. 97.
Jones F. Mendonça
domingo, 26 de setembro de 2021
DEUS EM TRABALHO DE PARTO
Calei-me por muito tempo,Quando isolado, o texto parece sugerir passividade. Mas esse silêncio, essa dor e essa agonia contida explodem no verso seguinte:
Fiz silêncio, contive-me;
Como a parturiente gritei ofegante,
suspirei longamente.
“Assolarei colinas e montes,(*) A imagem que o texto parece evocar é a de um rio que após ter seu volume d'água reduzido exibe partes de seu leito em forma de ilhas.
e toda a vossa erva farei secar;
Converterei torrentes em ilhas (*)
e lagos em sequidão".
Jones F. Mendonça
sábado, 25 de setembro de 2021
AVRAM, AVRAHAM, AV-HAMON
“Não mais serás chamado Avram (אַבְרָם), mas Avraham (אַבְרָהָם) será o teu nome; pois por av-hamon (אַב־הֲמוֹן = “pai de muitos”) povos te hei posto” (Gn 17,5).
Assim, se alguém perguntasse: “por que o patriarca Avram teve seu nome mudado para Avraham’”? A resposta seria: “porque ele é ‘av-hamon’, ou seja, ‘pai de muitos’”. Sei que isso parece não ter muito sentido para uma mente moderna, mas as etimologias populares faziam muito sucesso entre os hebreus.
Jones F. Mendonça
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
SOBRE OS NOMES BÍBLICOS
O mesmo acontece com Jacó (Yaakov → יעקב), que tem seu nome associado ao “calcanhar” (‘aqev → עקב) de Esaú e ao fato de tê-lo “enganado” (‘aqav → עקב). Tais histórias (Gn 25,26; 27,36) obviamente não possuem qualquer fundamento histórico. Não receberam esses nomes no momento do nascimento por mera associação a eventos inusitados, mas porque a criatividade popular assim quis. Muitos desses nomes já existiam em outras regiões. Não foram inventados pelos hebreus.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 23 de setembro de 2021
O APÓLOGO DE JOATÃO E A HISTÓRIA DE DEBORAH: SOBRE ÁRVORES QUE FALAM
Na ausência de uma árvore nobre, finalmente fazem o convite ao espinheiro, que prontamente aceita reinar sobre todas as árvores, acolhendo-as sobre sua sombra (v. 15). Mas faz um alerta às árvores que não se sujeitarem a seu governo: “sairá fogo dos espinheiros e devorará os cedros do Líbano”. Um exemplo de fábula com árvores falantes aparece em um antigo texto acadiano intitulado: “A disputa entre a tamargueira e a tamareira”. Na fábula, de caráter didático-sapiencial, as duas árvores apresentam suas virtudes na tentativa de provar quem é a mais valiosa.
“O rei em seu palácio planta tamareiras,
além disso, da mesma forma, tantas tamargueiras.
À sombra da tamargueira foi organizado um banquete.
À sombra da tamareira a decisão sobre um crime...”
“Plantou ao seu lado a tamareira [dizendo],
“Se [você estiver] no portão da cidade, acalme a contenda;
se estiver no deserto, acalme o calor” (ANET, p. 411).
Um segundo problema: as árvores também funcionavam com local sagrado para a adivinhação (Jz 9,37), como locais de aparição (Gn 18,1), de sepultamento (Gn 35,8) e de culto (Js 24,26) e, talvez, de consulta aos mortos. Ao mesmo tempo em que é apresentada como alguém que “julgava” (שֹׁפְטָה), para que por meio dela fosse obtida a “justiça” (לַמִּשְׁפָט), a personagem também atua como “profetiza” (נְבִיאָה). Ela estaria ali “julgando” ou anunciando um oráculo divino? Seu nome era mesmo “Deborah” ou ele possui relação com o local do sepultamento da ama de leite de Rebeca, enterrada aos pés de uma árvore em Betel, o "carvalho dos prantos" (cf. Gn 35,8)?
Jones F. Mendonça