sábado, 9 de novembro de 2024

"DEUS COMO MÃE" EM KIVITZ


1. Muita gente tratando a representação de “Deus como mãe” exposta por Kivitz como mais uma invencionice kivitziana. Vale lembrar que Leonardo Boff escreveu “O rosto materno de Deus” em 1979. Inspirado na psicologia de profundidade de Carl Jung, Paul Tillich destacou, em “Reabrindo o problema trinitário” (escrito na década de 50!), que o protestantismo “praticamente expurgou o elemento feminino na expressão simbólica de nossa preocupação última”. Mas sempre será possível encontrar uma saída para que essa dimensão feminina se manifeste.

2. No universo pietista, por exemplo, não raro surgiam representações de Jesus bastante efeminadas. Entre os católicos Maria preencheu essa lacuna com muita força. No final da década de 90, quando explodiu o movimento “adoração extravagante”, algo curioso aconteceu. A igreja era comumente apresentada como mulher, como noiva à espera do noivo: Jesus. Nas capas dos CDs Jesus aparecia como guerreiro, com tatuagem na coxa, montado em um cavalo e cabelos soprados pelo vento. As canções falavam de beijos, abraços e toques amorosos. Eram até constrangedoras.

3. O feminino sempre esteve presente na piedade popular: escondido, velado, disfarçado. Mas sempre presente. 


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

TEOLOGIA, POLÍTICA, SANGUE E ENTULHO


1. Quem lê com atenção o texto bíblico, percebe que de fato são inúmeras as passagens que enfatizam a promessa da terra aos descendentes de Abraão, Isaac e Jacó. Embora os limites dessa terra não sejam definidos com clareza no texto, é inegável que o tema da terra está presente de alguma maneira em praticamente todos os livros do Antigo Testamento. Poderíamos dizer que a terra está para as promessas assim como as unhas estão para os dedos.

2. Acontece que as promessas da posse dessa terra são constantemente apresentadas de forma condicional. Isto é o que diz, por exemplo, Deuteronômio 28. De acordo com este texto, sempre que os descendentes de Abraão, Isaac e Jacó abandonarem os preceitos, os mandamentos e as leis de Moisés, fazendo aquilo que “é mal aos olhos do Senhor”, a terra poderá ser confiscada e entregue a povos estrangeiros (Dt 28,47-68).

3. No livro de Josué a terra prometida é perdida para os inimigos diversas vezes, sempre que o povo faz algo que é visto como "mal aos olhos do Senhor" (Jz 2,11-15; 3,7-11; 4,1-3; 10,6-9; 13,1). É também a partir do que está expresso na maldição presente no capítulo 28 do Deuteronômio que o profeta Jeremias julga correto dizer que a terra foi perdida para os babilônios devido ao pecado (2Rs 25,1-21; Jr 21,1-10).

4. Se eu fosse dessas pessoas que gostam de usar linguagem religiosa para justificar maldades feitas em nome de Deus – mas não gosto! – eu poderia argumentar, usando as Escrituras, que a terra prometida a Abraão, Isaac e Jacó, deve ser dada aos árabes. Mas como assim? Ora, porque sempre será possível argumentar que esses descendentes se afastaram dos preceitos divinos e que estão sujeitos, portanto, ao que diz Deuteronômio 28.

5. Eu considero, no entanto, que qualquer teologia que procure legitimar posse de terras, guerras, deslocamento forçado de pessoas, destruição de moradias ou assassinatos, seja a favor ou contra judeus, árabes, iranianos, russos, canadenses, japoneses, ou qualquer outro povo que exista sobre a face da terra, é algo abominável, desprezível, repugnante. 



Jones F. Mendonça

OS ÁRABES NA ANTIGUIDADE: DOS ASSÍRIOS AOS OMÍADAS


1. Cultivo há muitos anos grande interesse pela história do povo judeu e do povo árabe. Obras sobre a história dos judeus são facilmente encontradas no mercado editorial, dada sua relação com aquilo que convencionamos chamar de "cultura ocidental".

2. Um trabalho muito bem fundamentado sobre a história dos árabes, incluíndo o período pré-islâmico, é este que aparece na imagem que acompanha o post: "The Arabs in Antiquity: their history from the Assyrians to the Umayyads".

3. O autor, Jan Retsö, é professor no Instituto de Línguas Orientais e Africanas da Universidade de Gotemburgo. Seus interesses de pesquisa são: linguística árabe; línguas semíticas; e história pré-islâmica da Arábia.

4. Retsö explica que o registo mais antigo sobre um grupo classificado como "árabe" aparece em um documento relacionado à batalha de Qarqar, na Síria, em 853 a.C. (Monólito de Curque). Mas será que os "árabes" mencionados no texto possuem alguma relação com os árabes modernos? Retsö não foge de questões espinhosas como esta.

5. O mesmo podemos dizer em relação aos israelitas. Será que o "Israel" mencionado na Estela de Merneptah (1208 a.C.) tem relação com o que mais tarde ficou conhecido como"Reino de Israel"? As respostas nem sempre são fáceis.

6. Em breve postarei alguns detalhes interessantes sobre o livro de Jan Retsö que discutem trechos da Bíblia Hebraica relacionados aos "árabes", como Crônicas (17,1; 21,16; 22,1; 26,7); Neemias (2,19; 4,7; 6,1); Isaías (13,20) e Jeremias (3,2).


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

NUMINOSUM NO FACEBOOK


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Jones F. Mendonça.