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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O CARNAVAL DE IVETE E O ARMAGEDOM


1. Desde que Cristo deixou fisicamente a terra, diversas questões passaram a ocupar a mente daqueles que se reuniam em seu nome. Duas delas aparecem relacionadas: 1) Qual a razão de sua morte? (Lc 24,20-21), 2) Quando e como voltará? (1Ts 4,13-18). Na tentativa de expor em detalhes a questão n° 2, teólogos das mais diversas épocas se debruçaram sobre livros como Ezequiel, Daniel, Mateus, Tessalonicenses e, obviamente, o Apocalipse.

2. A explicação mais criativa, fantástica e popular é o dispensacionalismo. De acordo com essa visão, um dos mais evidentes sinais de que o mundo caminha para um colapso final é o chamado ARREBATAMENTO: cristãos piedosos de diversas partes do mundo desaparecerão de forma abrupta, resgatados por Cristo, inaugurando na terra um período de sete anos de extrema angústia: a terrível e temida GRANDE TRIBULAÇÃO.

3. No final desses sete anos Jerusalém estará cercada pelos exércitos de Gog e Magog, desencadeando a não menos dramática GUERRA DO ARMAGEDOM. Mas Jerusalém sairá ilesa graças à interferência de Cristo, que sairá em auxílio da Cidade Santa e derrotará o malvado ANTICRISTO. Sentado em um trono, com coroa e tudo, Cristo reinará em Jerusalém por mil anos e a terra experimentará fartura e prosperidade. Tudo perfeito, como naquelas ilustrações das Testemunhas de Jeová.

4. Mas... como nos filmes da Marvel, é preciso estar atento às cenas pós-crédito. Inesperadamente, para surpresa dos telespectadores, ou melhor, dos sobreviventes do Armagedom, no ano 1000 o Capiroto lançará seu último bote. Ocorre que o roteiro foi tornado público (tem spoiler), então todos sabem que o Zarapelho será derrotado e lançado definitivamente no lago de fogo ardente juntamente com a Besta e o Falso Profeta (Ap 20,10).

5. Bem, com essa coisa de guerra entre Israel e Hamas, conflito na Ucrânia, Houthis no Yêmen, China ameaçando Taiwan e alertas sobre os perigos da inteligência artificial, os dispensacionalistas estão em polvorosa. Em pleno festejo de carnaval, Baby do Brasil disparou: “o arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos” (Puxa, assim tão rápido nem vou conseguir comprar meu primeiro carro elétrico).

6. Mas nem tudo está perdido. Ivete, que não leva desaforo pra casa, disse que vai macetar o Apocalipse. Se entendi bem, a moça vai pedir uma prorrogação de prazo ao Altíssimo.


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 6 de julho de 2022

DANIEL E APOCALIPSE EM CINCO PONTOS

1. O livro de Daniel, em seu capítulo 7, expõe ao leitor uma visão que descreve quatro bestas-feras subindo do mar (7,2). A primeira é um leão alado (v. 4), a segunda um urso (v. 5), a terceira um leopardo alado de quatro cabeças (v. 6) e a última um animal não identificado, dotado de dentes de ferro e dez chifres (v. 7). Essas quatro bestas representam reis/reinos (v. 17 e 23) que se sucedem e que serão derrotados não por uma fera selvagem, mas por alguém “semelhante ao filho do homem” (bar enash), cujo império será eterno.

2. Vale destacar que bar enash aqui não é título messiânico. A expressão é empregada para estabelecer contraste entre o aspecto animalesco dos quatro reinos e o quinto, que tem forma humana. O capítulo 2 apresenta uma mensagem semelhante. Mas desta vez os reinos malignos são representados por uma estátua erguida com materiais diferentes (ouro, prata, bronze, ferro e ferro misturado com argila), que são destronados não por alguém “semelhante ao filho do homem”, mas por uma pedra. “Pedra” e “filho do homem” representam, cada qual a seu modo, o estabelecimento do reino do ‘illay (עלי), o Altíssimo.

3. O Apocalipse retoma o uso de bestas-feras como representação de reinos malignos. Note, no entanto, que ela é uma fusão de três das feras mencionadas em Daniel: “A Besta que eu via parecia um leopardo: seus pés, contudo, eram como os de um urso e sua boca como a mandíbula de um leão” (13,2). A mensagem é clara: a besta que agora se manifesta é ainda mais terrível que aquela mencionada em Daniel. O Apocalipse relê e atualiza antigas tradições, algo bem costumeiro no ambiente religioso judaico.

4. Mas ao atualizar textos antigos, o autor do Apocalipse incorpora elementos novos. Veja que o Dragão, a besta-fera e o falso profeta desempenham o papel de uma espécie de “trindade maligna”. A besta até simula uma ressurreição (13,12). Outro recurso utilizado para imitar Deus é o estabelecimento de uma marca nos escolhidos, feita na mão direita ou na fronte (13,16). Em Dt 11,18 os israelitas são convidados a atar a palavra divina como um sinal na mão e na testa. Em Ez 9,4 os moradores de Jerusalém que têm um sinal (tav) na testa são poupados da lâmina afiada do exterminador.

5. Alguém inventou que o tal do “sinal” é um microchip, ou quem sabe um cartão de crédito ou uma tecnologia que está para surgir. Mas o Apocalipse está apenas fazendo alusões às Antigas Escrituras. O que ele quer dizer é: O Dragão, a besta-fera e o falso profeta querem imitar Deus. Simulam uma “trindade”. Irão, como Deus, “marcar” seus escolhidos. A mensagem implícita é a mesma de Mt 24,24: os falsos cristos e falsos profetas são dissimulados a ponto de quase enganarem até mesmo os escolhidos.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

APOCALIPSES E ANIMAIS FANTÁSTICOS


1. No livro bíblico de Daniel, capítulo 7 (4-7), quatro impérios opressores aparecem representados por animais fantásticos, bestas cujas aparências mesclam características de animais diferentes: leão alado, leopardo policéfalo, etc. No Apocalipse essas bestas ressurgem com um visual ainda mais estranho e sinistro: “a besta que eu via parecia uma pantera: seus pés, contudo, eram como os de um urso e sua boca como a mandíbula de um leão” (Ap 13,2).

2. Representar forças caóticas ou ameaçadoras como animais fantásticos de aparência híbrida era uma prática muito difundida na Antiguidade. No Egito, por exemplo, uma besta com cabeça de crocodilo, membros anteriores de leão e membros posteriores de hipopótamo era usada para representar Ammit, o devorador de mortos (cf. imagem). Como no livro de Daniel a intenção era realçar a capacidade destrutiva das forças que representavam. 

3. Em contraste às quatro bestas malignas, Daniel apresenta em suas visões noturnas um quinto ser. Este, no entanto, não se parece com uma besta, mas com um “bar enash” (do aramaico “filho do homem”). A expressão reaparece em diversos livros bíblicos do AT (cf. Is 51,12; Jr 51,43; Ez 2,1; etc.) para indicar a humanidade do personagem. No caso de Daniel o propósito é mostrar que o quinto ser é de natureza diferente: tinha aparência humana, não bestial, como os demais. 

4. O domínio deste quinto ser, destaca o texto, não será passageiro nem opressor, mas justo e eterno. A mensagem de Daniel é simples, mas para entendê-la é preciso situá-la corretamente no tempo e no espaço. O Apocalipse releu Daniel e deu novo fôlego às esperanças escatológicas. Reler e ressignificar tradições religiosas é algo que faz parte de qualquer religião. Mas ressignificar não é, como muita gente imagina, uma solução para as leituras fundamentalistas. O fundamentalista também saberá reler... para o mal. 


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 20 de março de 2020

ARTE, PANDEMIA E EXEGESE


Em tempos de guerra, recessão econômica, catástrofes naturais ou epidemias, os artistas sempre encontraram uma maneira de expressar suas angústias, medos e frustrações. Nesta tela (A Guerra, 1896), o artista suíço Arnold Böcklin retrata os quatro cavaleiros mencionados no capítulo 6 do livro do Apocalipse. A imagem foi tomada do profeta Zacarias (1,8), que diz ter visto, em sonho noturno, cavalos coloridos posicionados num vale profundo.

De acordo com o texto, os cavalos/cavaleiros são emissários do Anjo de Javé, encarregados de percorrer e observar a terra*. Javé revela-se irado após tomar conhecimento da paz vivida pelas nações em contraste com o abandono de Jerusalém. Mas o texto não fala em punição para essas nações. Indignado, Javé anuncia a reconstrução de Jerusalém e a restauração de seu Templo, ocorrida em 515 a.C.

O Apocalipse dá novo significado à imagem dos cavalos/cavaleiros. Eles aparecem agora como instrumentos da ira de javé contra seus inimigos. O Apocalipse, aliás, é mestre em ressignificações. Usa a seu modo passagens de Daniel, Ezequiel, Isaías e Jeremias para compor um cenário de terror e angústia, mas também de fé e de esperança.

* “Terra”, em hebraico “eretz”, tem aqui o sentido de “nações”, algo raro, senão único. O termo, sem complemento, geralmente indica a “Terra de Israel”.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O JUÍZO FINAL E O LIVRO DA VIDA (E DA MORTE)


Este macabro painel, de Jacobello Alberegno (século XIV), mostra a ressurreição do corpo no dia do juízo final tal como expressa em Ap 20. As obras que cada um realizou estão registradas nos livros (nas mãos dos esqueletos). Os da esquerda (livros pretos) são os condenados. Os da direita (livros vermelhos), os redimidos.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 4 de abril de 2019

PODCAST COM RAPOSA ESCATOLÓGICA

Embora o primeiro podcast brasileiro tenha surgido em 2004, só agora (15 anos depois) fui seduzido por essa nova forma de adquirir conhecimento. Para quem se interessa por teologia, indico “oestadodaarte.com.br”. Hoje, enquanto fazia minha caminhada matutina (até encontrei uma raposa!), ouvi “O livro do Apocalipse”, com a participação de José Adriano Filho, Kenner Terra e Paulo Nogueira. O áudio dura 58 minutos, por isso acabei caminhando mais do que o normal. 



Jones F. Mendonça

terça-feira, 7 de novembro de 2017

PODERES CELESTES, PODERES TERRESTRES

Neste artigo, publicado no Jewish Link, Mitchel First discute a respeito do que ele chama de “o parágrafo perdido do livro de Samuel”.

Nos textos hebraicos mais recentes (massoréticos, século X e XI d.C.), o início de 1Sm 11 aparece de uma maneira; nos manuscritos mais antigos (Manuscritos do Mar Morto, séc. III a.C. a I d.C.) o texto aparece de outra forma.

Outra famosa diferença entre o texto massorético e os Manuscritos do Mar Morto (MMM) aparece em Dt 32,8. No texto massorético Javé fixa as fronteiras para os povos segundo “os filhos de Israel”. Nos MMM elas são fixadas segundo “os filhos de Elohim” (“filhos dos deuses”).

A crença na existência de poderes celestes associados a nações reaparece em Dn 10,13: 
Tenho de voltar para combater o Príncipe da Pérsia: quando eu tiver partido, deverá vir o Príncipe de Javã (=Grécia).


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

JESUS PANTOCRATOR NA ARTE MEDIEVAL


A imagem acima mostra um Jesus pantocrator (Ap 1) num manuscrito do século XIII ou XIV: “cabelos brancos como a neve, olhos como chama de fogo, pés com aspecto de bronze, espada saindo da boca, sete estrelas na mão direita junto a sete candelabros de ouro”. O homem deitado é João. Um anjo aparece à direita (Commentaire sur l'Apocalypse, folha 4v.).

Imagens do manuscrito em alta resolução aqui:



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIMENSÃO ESCATOLÓGICA DE ISAÍAS 24-27

De todos os livros classificados como proféticos, quatro merecem uma atenção especial uma vez que são considerados os primeiros profetas escritores: Isaias, Amós, Oseias e Miqueias.  Os quatro exerceram sua atividade no século VIII a.C., um período marcado pela prosperidade no reino do Norte governado por Jeroboão II. É forte a ênfase desses profetas nos problemas sociais provocados pela concentração da riqueza nas mãos da classe dirigente.

Mas na leitura e interpretação desses livros devem ser levados em conta os acréscimos e interpolações feitas em épocas tardias. O livro de Isaías, por exemplo, tem sido dividido em três partes, elaboradas, no mínimo, por três autores: Proto-isaías (pré-exílico, Is 1-39), Dêutero-Isaías (exílio, Isa 40-55) e Trito-Isaías (pós-exílico, Is 56-66). Há várias pistas que depõem a favor dessa distinção, mas quero me concentrar nos acréscimos e interpolações tomando como referência os vestígios da presença de um pensamento escatológico mais evoluído em textos erroneamente atribuídos ao Proto-Isaías. O trecho em questão: Is 24-27 (chamado de "'apocalipse' de Isaías"). Ainda que estejam inseridos no bloco atribuído ao Proto-Isaías, tais capítulos se enquadram muito melhor no período pós-exílico.

A descrição de uma ruína cósmica em Is 24 (“castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra”, cf. 24,21), o uso de símbolos mitológicos (“com sua espada severa... castigará o Leviatã”, cf. 27,1), o universalismo (“o Senhor dos exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete”, cf. 25,6), a crença na ressurreição (“os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão”, cf. 26,19) e o forte desejo por um futuro radicalmente diferente, expresso na esperança de que Deus fará “desaparecer a morte para sempre” (25,7) e que vai “enxugar as lágrimas em todos os rostos” (25,8), refletem o desespero diante da decadência da comunidade pós-exílica.

Além de todos esses elementos, tipicamente presentes em textos pós-exílicos, outro indício bem forte da composição tardia do texto é Is 27,12:
Naquele dia o Senhor padejará o seu trigo desde as correntes do Rio [Eufrates], até o ribeiro do Egito e vocês, israelitas, serão ajuntados um a um”.
O texto supõe uma diáspora dos israelitas, referência a parte do povo que se fixou principalmente na Mesopotâmia e no Egito após a queda de Jerusalém nas mãos de Nabucodonosor em 587 a.C. A datação do texto, portanto, deve ser situada, no mínimo, para o período o exílio (587-537).

Há dois textos que merecem uma investigação melhor. O primeiro, particularmente curioso, aparece em 24,21:
Naquele dia Yahweh visitará o exército do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra. E serão ajuntados como presos numa cova, e serão encerrados num cárcere; e serão punidos depois de muitos dias”.
Há quem pense que “exército do alto” (tzeba hamarom) seja uma referência aos “falsos deuses”, mas nessa época o henotismo já havia sido superado pelo monoteísmo. Talvez seja apenas um elemento mitológico tomado das nações vizinhas, como em Is 14. O texto pode ter sido utilizado como matriz para o desenvolvimento da crença nos “anjos caídos”, cuja história é contada em detalhes no livro apócrifo de 1Enoque (II séc. a.C.) e repetida em livros canônicos como Judas (6,7) e Apocalipse (12,7-9).  

O segundo texto é o que fala da ressurreição dos mortos (26,19).
Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair.
É possível que a referência aí seja ao crescimento numérico do povo de Israel, abalado pela dramática experiência do exílio. “Ressuscitar” (qutz), nesse sentido, seria uma metáfora poética, como na visão de Ez 37. Mas se levarmos em conta os textos do Trito-Isaías, sua ênfase na renovação radical do mundo (65,17), e a longevidade restituída aos israelitas, tal como experimentada pelos antigos patriarcas (“quem morrer aos cem anos ainda será jovem” e “terá vida longa como as árvores”, cf. 65,20-22), parece-me mais provável pensar, considerando ainda a presença de tantos elementos de uma teologia tardia, na hipótese de que se trata mesmo de uma referência à ressurreição dos mortos tal como aparecem nos livros de Daniel (12,1-3) e I Enoque (51). Caso seja esta a interpretação correta, será preciso deslocar a redação do texto para o II século a.C. Neste caso Is 24-27 constituiria uma obra à parte do Proto-Isaías, Dêutero-Isaías e Trito-Isaías.  


Jones F. Mendonça


quinta-feira, 23 de maio de 2013

APOCALÍPTICA NA ORÁCULA


Aos interessados em apocalíptica, misticismo e fenômenos visionários: Revista Oracula, publicação do Programa de Pós-graduação em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo. 

Na edição atual (ano 9 - número 14 - 2013), destaque para: "Os herdeiros do movimento apocalíptico em Israel" e "o movimento apocalíptico e macabeu como protesto ao domínio helênico". 

A edição completa aqui


Jones F. Mendonça

domingo, 17 de março de 2013

MILENARISMOS

Cena da mitologia persa
Faço buscas sobre movimentos milenaristas. Acabei encontrando, por acaso, o Center of Millennial Studies, da Universidade de Boston. Definição do centro de estudos presente no site: 
O Centro de Estudos do Milênio (CEM), um centro de pesquisa sem fins lucrativos baseado na Universidade de Boston, com filiais em todo o mundo, é o maior centro mundial de pesquisa acadêmica dedicada a estudos milenares. Composto por acadêmicos, pesquisadores independentes, estudantes de graduação e outros, o CEM fornece uma importante ligação entre amplas disciplinas e o crescente interesse popular em atividades milenares e apocalípticas.




Jones F. Mendonça 




quarta-feira, 28 de março de 2012

VISÕES, PROFECIA E POLÍTICA NO LIVRO DO APOCALIPSE [LIVRO]

No início deste ano foi lançado "Vision, prophecy, & politics in the book of Revelation", da famosa estudiosa do Novo Testamento Elaine Pagels. A autora foi entrevistada por Wil Gafney da RD Magazine. Confira a entrevista aqui

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O SINAL DA BESTA NA LEI E NOS PROFETAS


Ezequiel, de Duccio di  Buonin-
segna. O tav na mão e na testa
foram inseridos por mim.
Código, de barras, cartão de crédito, microchip subcutâneo... O que mais vão inventar como sendo o sinal da besta do Apocalipse? Todas essas especulações partem de uma leitura pouco atenta de Ap 14,9.10a. Eis o texto:
Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca (xaragma) na fronte (metopou) ou sobre a mão (xeira), também esse beberá do vinho da cólera de Deus...   
De acordo com o texto, a marca (ou selo) da besta deve aparecer na fronte ou sobre a mão. João, com certeza, está fazendo alusão a uma antiga fórmula repetida pelos hebreus:
Ex 13,9 E será como sinal (’ot) na tua mão (yad) e por memorial entre teus olhos (‘ayn); para que a lei do SENHOR esteja na tua boca; pois com mão forte o SENHOR te tirou do Egito.
Ex 13,16 E isto será como sinal na tua mão e por frontais entre os teus olhos; porque o SENHOR com mão forte nos tirou do Egito.
Dt 6,8 Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.
Dt 11,18 Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos.
Como se vê, era entre os olhos (na testa) e na mão que Yahweh “marcava” os seus fiéis súditos. Uma metáfora, não resta dúvida. O profeta Ezequiel retoma a fórmula (reduzida a apenas um sinal na testa) e a aplica aos israelitas que não se contaminaram com os ídolos estrangeiros:
Ez 9,4 e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal (um tav, última letra do alfabeto hebraico) a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela.
Ez 9,6 mata a velhos, a moços e a virgens, a crianças e a mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos chegueis; começai pelo meu santuário.
A grande diferença entre Ezequiel e Apocalipse é que no primeiro livro a marca é dada aos que se conservam fiéis a Yahweh. Em Apocalipse, ao contrário, os marcados são os que se curvam diante da Besta. A intenção de João é mostrar que a besta busca de todas as maneiras imitar Deus. Há inclusive uma trindade malévola: dragão, besta, profeta da besta (cap. 12, 13, 16), dotada de impressionante poder, capaz de operar milagres, ressuscitar mortos e até mesmo ressuscitar a si própria (uma clara paródia à ressurreição de Cristo – Nero?).

João falava a pessoas reais, num tempo de perseguição real. É de se esperar que sua mensagem tivesse algum sentido para seus destinatários. Quem quer que tenha sido a besta, já veio e já se foi. Aliás, já foi tarde....


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A INFLUÊNCIA IRANIANA SOBRE O JUDAÍSMO

O The Bible and Interpretation publicou um artigo escrito por Jason M Silverman (PhD, Trinity College Dublin, Escola de Teologia das Religiões e 2005-2010), tratando sobre questão da influência iraniana na formação da Bíblia hebraica, particularmente nos textos de gênero apocalíptico. Na opinião do autor, a questão da influência iraniana ainda não pode ser provada ou refutada. Apesar disso ele destaca que as pesquisas recentes
prometem oferecer uma nova visão sobre 200 anos de um período até então considerado sem importância e, portanto, sobre os períodos subseqüentes: helenístico, romano, grupos apocalípticos, o movimento de Jesus, e os primeiros movimento rabínicos. 
Para que o leitor se situe na questão discutida por Silverman, é preciso destacar que muitos estudiosos defendem que a angelologia, demonologia e doutrina da ressurreição presentes na literatura judaica (p. ex. Ezequiel e Daniel) possuem paralelos com o zoroastrismo, antiga religião persa (atual Irã). 

Para ler o artigo já traduzido pelo Google, clique aqui


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O APÓCRIFO DE II ENOQUE, OU ENOQUE ESLAVO (RESUMO)

 Por Jones Mendonça

Publiquei aqui no Numinosum um pequeno trecho o livro de I Enoque, que narra de maneira fantástica o nascimento de Noé e a queda dos anjos rebeldes.

Outro livro cujo autor utiliza o pseudônimo de Enoque é o Livro dos segredos de Enoque, também conhecido como II Enoque ou Enoque eslavo. Apesar de ter sido escrito em grego, só nos resta uma versão eslava. Este segundo livro relata a viagem de Enoque até o décimo céu, onde “está Deus, [que] na língua hebraica [...] é chamado Aravat” (II En 20,3). A viagem é iniciada após Enoque ser visitado por dois homens “extraordinariamente grandes”, cujas “faces resplandeciam como o sol” e cujos olhos “eram como chama” (II En 1,6). Após despedir-se de sua família, Enoque é inicialmente levado pelos homens ao primeiro céu em suas asas, que eram “mais brilhantes que o ouro” (II En 3). Cada um dos céus possui uma particularidade especial. Seguem abaixo as características principais de cada um deles:

  • 1° céu – Enoque vê os anjos que trabalham na ordenação das estrelas, nos depósitos de neve e na tesouraria do orvalho. O primeiro céu é uma espécie de “casa de máquinas” do mundo, cujos trabalhadores são os anjos (cap. 3-6).
  • 2° céu – Neste local ficam aprisionados os anjos infiéis a Deus, que são torturados e choram incessantemente. O príncipe desses anjos fica acorrentado no quinto céu (cap. 7).
  • 3° céu – No terceiro céu fica o paraíso. Nele há um jardim onde Deus descansa, guardado por trezentos anjos muito brilhantes (cap. 8). O terceiro céu é também para onde vão os “que fazem julgamentos justos, que levam pão aos famintos e que cobrem de vestes os nus” (cap. 9).  O norte deste lugar, escuro e tenebroso, é reservado “aos que desonram a Deus”. É para lá que vão os mentirosos, invejosos, opressores dos pobres e fornicadores (cap. 10).
  • 4° céu – No quarto céu Enoque contempla a órbita do sol (que é aceso por cem anjos), e da lua (cap. 11).  Enoque também vê “outros elementos voadores do céu”, que o acompanham na sua órbita, lhe dando calor e orvalho (cap. 12). Por fim ele fala dos seis “postais do sol”, por onde o grande astro passa ao longo do ano (cap. 13, 14 e 15).  O curso da lua, cheio de detalhes numéricos, é descrito nos capítulos 16 e 17.
  • 5° céu – Soldados gigantes e mudos chamados Grigori são vistos no quinto céu. Juntamente com seu príncipe, Satanail, rejeitaram o Senhor da Luz tomando por esposas as filhas dos homens (este curioso episódio é descrito nos capítulo 6 a 16 do Livro de I Enoque).
  • 6° céu – Neste céu ficam os anjos responsáveis pelas estações do ano, dos rios, dos mares e dos frutos da terra. Eles também são incumbidos de anotar todos os feitos dos homens diante do Senhor (cap. 19).
  • 7° céu – No sétimo céu há uma  grande quantidade de arcanjos, querubins, serafins e toda a sorte de ordens angelicais. É lá que fica o trono de Deus.
  • 8° céu – O oitavo céu é chamado de Muzaloth, o que muda as estações, a seca, a umidade e os doze signos do zodíaco, que estão acima do sétimo céu (cap. 21).
  • 9° céu – É chamado de Kuchavim, onde estão as casas celestes dos doze signos do zodíaco (cap. 21).
  • 10° céu – Chamado de Aravoth, é lá que a face do Senhor pode ser contemplada, descrita como sendo semelhante ao “ferro que arde no fogo e que, as sair, emite faíscas e queima” (cap. 22).
Nos demais capítulos (23 ao o 61), Deus conta a Enoque como criou o universo e lhe transmite uma série de ensinamentos. Enoque retransmite esses ensinamentos aos seus filhos. No último capítulo lemos o seguinte:
Ele [Enoque] anotou todos esses sinais de toda a criação, criada pelo Senhor, e escreveu trezentos e sessenta e seis livros, entregou-os a seus filhos e permaneceu na terra trinta dias, sendo novamente levado para o Céu no sexto dia do mês de Tsivan, no dia e na hora exata em que nascera (En 61,3).
A idéia da existência de dez céus estava profundamente enraizada na cultura judaica. Paulo, por exemplo, diz ter ido ao terceiro céu (2 Co 12,2).

Imagem:
Mignard, Pierre
A Glória Celestial
1663
Afresco
Val-de-Grâce, Paris

O LIVRO APÓCRIFO DE I ENOQUE, OU ENOQUE ETÍOPE (RESUMO)

Por Jones Mendonça

Um dos livros apócrifos mais fascinantes é sem dúvida o livro de I Enoque (ou Enoque etíope), geralmente datado para o século II a.C. Este livro foi redigido originalmente em aramaico, mas a única versão disponível hoje está em etíope. Escrito em linguagem apocalíptica, entre 170 e 64 a.C., o livro carrega algumas semelhanças com o Apocalipse de João, cuja composição se deu mais de dois séculos depois. Abaixo um trecho do livro que descreve o nascimento de Noé:
Depois de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu uma mulher para seu filho Lamech; ela engravidou e deu à luz um menino. O seu corpo era branco como a neve e vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça eram como a lã e os seus olhos como os raios do sol. Quando abriu os olhos encheu a casa de luz como o sol, e toda ela ficou muito iluminada (I En 106,1).
Outra parte bastante interessante do livro são os capítulos 6 a 16, que narram a queda dos anjos após desobedecerem a Deus acasalando-se com as mulheres humanas. Tudo começa com Semjaza, um anjo disposto a pagar o preço por sua desobediência. Ele relata seu desejo aos demais anjos, que decidem segui-lo no plano. Semjasa é acompanhado por mais dezoito anjos, que por sua vez chefiam, cada um, outros dez. Após levarem a cabo o plano, problemas inusitados começam a surgir:
Elas [as mulheres humanas] engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las (I En 6,2).
Mas os problemas não param por aí. Os anjos rebeldes transmitem seus conhecimentos aos homens, tais como a astrologia, a metalurgia, a ciência da confecção de cosméticos, as fases da lua, a feitiçaria, etc. Tais conhecimentos causam muitas guerras e o homem chega perto da aniquilação.

Após ouvirem o clamor dos homens e virem todas as desgraças causadas pelos anjos rebeldes, Miguel, Uriel, Rafael e Gabriel relatam o problema ao “Senhor dos mundos”, que decide purificar a terra com um dilúvio e punir os anjos perversos lançando-os num abismo de fogo.

O livro é fruto de uma tentativa de preencher uma lacuna existente no capítulo seis do livro do Gênesis:
“viram os filhos de Deus (hb. bney haelohim) que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6,2).
No relato do livro de Enoque os bney haelohim (filhos de Deus) são os anjos e a decisão de Deus de destruir a terra (Gn 6,7) é provocada por esse episódio.

Resquícios da história contada neste livro são percebidos na epístola de Judas (Jd 14, s).

Para ler mais a respeito dos livros apócrifos, clique aqui.

Imagem:
Beccafumi, Domenico
Queda dos Anjos Rebeldes
c. 1528
Óleo sobre madeira, 347 x 225 cm
San Niccolò al Carmine, Siena

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O APOCALIPSE DE JOÃO E A ERUPÇÃO DO VESÚVIO

Por Jones Mendonça

No ano 79 d.C. a cidade de Pompéia foi soterrada pelo Vesúvio.  Os primeiros vestígios da cidade foram encontrados em julho de 1738 por operários que cavavam a fundação do palácio de verão para Carlos Bourbon, rei de Nápolis.

Para Carl Marx a destruição de Pompéia teria inspirado João na sua descrição do fim do mundo presente no livro bíblico do Apocalipse[1]. Como ocorreu com a Pompéia do primeiro século, o fim dos tempos apocalíptico se dá pelo fogo.

Para Pierre Prigent [2] essa teoria se torna totalmente improvável quando se podem apresentar numerosos paralelos literários com a apocalíptica pré-cristã. Um exemplo é  o livro de Enoc, escrito no século II a.C. que fala de “sete estrelas como que grandes montanhas abrasadas” (cf. En 21,3ss e 108,4).

É verdade que a linguagem do livro do Apocalipse está impregnada de símbolos retirados da literatura apocalíptica judaica (apócrifa e canônica), tais como estrelas que caem do céu, nuvens negras que escurecem o sol, etc.  Mas não é impossível que as informações sobre a erupção do Vesúvio tenham chegado até João e contribuído para tornar suas visões apocalípticas sobre o fim do mundo ainda mais coloridas. O vigor do Vesúvio chegou até nós pelas cartas de Tácito, que registrou os relatos recebidos de Plínio, o Jovem. Ouçamo-lo:
“Naquela noite o tremor cresceu de tal maneira que parecia não mexer as coisas, mas girá-las... (Carta VI, 20, 3).[3]”
“Uma nuvem se formava, mas observada a distância não se sabia ao certo de qual montanha, cujo aspecto e forma nenhuma outra árvore reproduziria melhor do que um pinheiro (Carta  VI, 16, 5).[4]”
Ao contrário do que muita gente imagina a mensagem do Apocalipse é de esperança e não de condenação. O império romano, visto como opressor e cruel, estaria com seus dias contados. Enfim, a mensagem é a de que nenhum governo arrogante e iníquo é eterno.

Ironicamente numa das paredes de Pompéia lê-se o seguinte grafito:

“Nada dura para sempre;
Mesmo brilhando como ouro,
O sol tem que mergulhar no mar.
A lua também desapareceu
Embora reluzisse até há pouco”[5].

Essa é uma mensagem que merece uma profunda reflexão.

O Google Street View (Google vista da rua) permite que você visite as ruínas da cidade de Pompéia em 3D. A resolução das imagens é incrível.

Para experimentar clique aqui.

Notas:
[1] PIGNATARI, Décio. Semiótica da arte e da arquitetura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 60.
[2] PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993,  p. 162.
[3] FEITOSA, Lourdes Conde. Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2005, p. 55.
[4] Id. ibid.
[5] BUTTERWORTH, Alex; LAURENCE, Ray. Pompéia. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 11.

Imagem:
Uma das ruas de Pompéia vista pelo Google Street View. 

terça-feira, 8 de junho de 2010

ONDE BAIXAR APÓCRIFOS NAS LINGUAS ORIGINAIS (GREGO, ÁRABE E LATIM)?

Sempre tive curiosidade pelo conteúdo dos livros apócrifos. Depois de ler muitos textos na internet acabei comprando uma coleção deles (Antigo e Novo Testamento) presentes na seguinte obra:
PROENÇA, Eduardo de (org.). Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
 Minha única decepção é que nesta publicação não há nenhuma informação sobre os livros, tais como autoria, data da composição, comentários, etc. Outra coisa que não me agradou é que os textos são uma tradução do inglês e eu gostaria algo mais fiel aos originais. De qualquer forma a aquisição valeu a pena. O livro estava numa promoção e saiu por uma ninharia.

Comecei então uma jornada por comentários sobre os apócrifos. Achei quatro (em espanhol):
MACHO, Diez. Apócrifos del Antiguo Testamento.
MARTÍNEZ, F. García; PÉREZ, G. Aranda. Literatura judía intertestamentaria. Estella: Editorial Verbo Divino, 1996.
OTERO, Aurelio de Santos. Los Evangelios Apocrifos. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2005.
VIELHAUER, Philipp. Introducción al Nuevo testamento los apócrifos y los padres apostólicos. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1991.
Não satisfeito saí em busca dos manuscritos originais na internet. Digitando palavras chave, tais como "apócrifos/idiomas/originais"; "apócrifos/grego/manuscritos", "apócrifos/latim/manuscritos", etc., não encontrei nada. Tentei as mesmas palavras chave em inglês, espanhol, alemão, francês, italiano... nada!

Finalmente, depois de garimpar muito, acabei encontrando o site de Tony Burke. Ele traz uma lista de links que leva a um site onde é possível baixar trabalhos antigos contendo os apócrifos nos idiomas originais. Alguns deles produzidos pelo linguista Constantin Von Tischendorf, descobridor do Codex Sinaiticus.  Não acreditei no que estava vendo. ãoMas eu ainda não dei a melhor notícia, as obras são comentadas e gratuitas para baixar já que caíram em domínio público!

Faça um bom proveito:

I. Coleções e Edições (em ordem cronológica)
Fabricius, J. A.  Codex apocryphus Noui Testamenti, vol. 1. Hamburg 1703.


Hone, William. The Apocryphal New Testament. London  1820.

Thilo, J C. Codex apocryphus Novi Testamenti, vol. 1. Leipzig 1832.


TISCHENDORF, Constantin von. De evangeliorum apocryphorum origine et usu. The Hague 1851 (repr. in Synopsis Evangelica, Leipzig 1854).

TISCHENDORF, Constantin von. Acta apostolorum apocrypha. Leipzig 1851.

TISCHENDORF, Constantin von. Apocalypses apocryphae. Leipzig 1851.

Giles, J. A.  Codex Apocryphus Novi Testamenti. The Uncanonical Gospels and Other Writings, Referring to the First Ages of Christianity. Vol. 1. Vol. 2. London 1852.

Tischendorf, Constantin von. Evangelia apocrypha. Leipzig 1853 (2nd ed. 1876).

Migne, J. P. Dictionnaire des Apocryphes. Vol. 1. Vol. 2. Paris 1856-1858.




Wright, W. Apocryphal Acts of the Apostles, Edited from Syriac Manuscripts in the British Museum and Other Libraries. Vol. 1; Vol. 2. London, 1871.

Walker, A. Apocryphal Gospels, Acts and Revelations (The Ante-Nicene Christian Library 16) Edinburgh 1873 (repr. in The Ante-Nicene Fathers, vol. 8, A. CLEVELAND COXE, ed., Buffalo 1806).

Lipsius, R. A. Die apokryphen Apostelgeschichten und Apostellengenden,Vol. 1, Vol. 2.1, Vol. 2.2 Ergänzungsheft. Braunschweig 1883-1890.

Lipsius, R. A. and M. Bonnet. Acta apostolorum apocrypha post Constantin Tischendorf. Leipzig 1891.

James, M. R. Apocrypha anecdota. A Collection of Thirteen Apocryphal Books and Fragments. Cambridge 1893. (featuring Vision of Paul, Acts of Xanthippe and Polyxena, Story of Zosimus, Apocalypse of the Virgin,Apocalypse of Sedrach, Acts of Philip, and a Description of the Anti-Christ in Latin).

Robinson, Forbes. Coptic Apocryphal Gospels. Cambridge 1896 (featuring Transitus Mariae, History of Joseph, and various fragments).

James, M. R. Apocrypha anecdota. Second Series vol. 5. Cambridge 1897.featuring Acts of John, Acts of Thomas, Epistles of Pilate and Herod,Epistle of Tiberius to Pilate).

Gibson, Margaret Dunlop. Apocrypha Siniatica. Cambridge 1896 (featuring Anophora Pilati, Recognitions of Clement, Martyrdom of Clement, Preaching of Peter, Martyrdom of James Son of Alphaeus,Preaching of Simon Son of Cleophas, Martyrdom of Simon Son of Alphaeus).

Gibson, Margaret Dunlop. Apocrypha arabica. Cambridge 1901 (featuringKitab al Magall or the Book of the Rolls, Story of Aphikia, and Cyprian and Justin).




Budge, E. A. Wallis. Coptic Apocrypha in the Dialect of Upper Egypt. Oxford 1913 (featuring the Book of the Resurrection by Bartholomew, the Life of Bartholomew, Repose of John, Mysteries of John, and Life of Bishop Pisentius by John the Elder).

Budge, E. A. Wallis. Coptic Martyrdoms in the Dialect of Upper Egypt. London, 1914.


II. Estudos gerais
Butler, Samuel. The Genuine and Apocryphal Gospels Compared. Shrewsbury 1822.
Donehoo, J. D.  The Apocryphal and Legendary Life of Christ. London 1903.

Haase, F. Apostel und Evangelisten in den orientalischen Überlieferungen. Neutestamenliche Abhandlungen 9. Münster, 1922.

Jones, Jeremiah.  A New and Full Method of Settling the Canonical Authority of the New Testament. London 1726 (repr.: London 1824).

Nicolas, M. Études sur les évangiles apocryphes. Paris 1866.

Pick, B. The Extra-Canonical Life of Christ, Being a Record of the Acts and Sayings of Jesus of Nazareth Drawn from Uninspired Sources. New York 1903.

Stowe, C. E. Origin and History of the Books of the Bible, Both the Canonical and the Apocryphal. Hartford, Conn.: Hartford Publishing Company, 1868.


III. Estudos e edições de textos específicos
* Abbeloos, Jean Baptiste. Acta Sancti Maris.Leipzig 1885.

Budge, E.A. Wallis, ed. and trans., The History of the Blessed Virgin Mary and the History of the Likeness of Christ, 2 vol. London 1899.

Cotteri

* De Lagarde, Paul. Didascalia apostolorum syriace. Leipzig 1854.

* Ephraem, Ignatius. Testamentum Domini Nostri Jesu Christi. Mainz 1899.
Genfell, Bernard P and Arthur S. Hunt. Fragment of an Uncanonical Gospel from Oxyrhynchus. Oxford 1908.

* Gibson, Margaret Dunlop. The Didascalia Apostolorum in Syriac. London 1903.



Klostermann, Erich. Apocrypha III: Agrapha, New Oxyrhynchus Logia.Cambridge 1905.

Mahan, W. D., M. McIntosh and T. H. Twyman. The Archko Volume, or The Archeological Writings of the Sanhedrin and Talmuds of the Jews . Philadelphia 1896.

Oppenheim, Gustav ed. and tr. Fabula Josephi asenethae apocrypha e libro syriaco latine versa. Berlin 1886.

* Phillips, George. The Doctrine of Addai, the Apostle. London 1876.

Taylor, Charles. The Oxyrhynchus Logia and the Apocryphal Gospels. Oxford 1899.