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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SOBRE DEUSES E HERÓIS

Thor é uma divindade do panteão nórdico associada à tempestade, ao trovão e à chuva. Nos países de língua inglesa e alemã deu nome ao quinto dia da semana, chamado de “dia de Thor” (Thursday/Donnerstag). O filho de Odin também faz sucesso no cinema, encarnado no corpo do galã Chris Hemsworth.

Ogum é uma divindade africana, senhor da guerra, dos metais, da agricultura e da tecnologia. Uma escola qualquer, numa cidade qualquer, resolveu distribuir revistas em quadrinhos tendo como herói a divindade africana. A ideia era difundir a cultura que herdamos desse continente. Os religiosos da cidade torceram o nariz. Disseram que o governo está incentivando o culto a Satanás.

Thor, deus nórdico, é herói. Ogum, deus africano, é diabo. Como assim?



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 15 de julho de 2011

FUNDAMENTALISMOS...

O radicalismo religioso é algo nocivo. Cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo... todas tem o seu lado sombrio. Folheando “Jihad: expansão e declínio do islamismo”, do professor Gilles Kepel, deparei-me com uma anotação que fiz há alguns anos na página 150:
Em janeiro de 1999, o Gabinete do primeiro Ministro [da Malásia] anunciou que os casais muçulmanos teriam agora cartões eletrônicos para comprovar seu estado civil, a fim de que a polícia islâmica, equipada com leitoras magnéticas, pudesse verificar se as duas pessoas do sexo oposto, surpreendidas juntas, eram casadas ou se elas deveriam ser presas por crime de khalwah, ou promiscuidade ilegal[1].
Kepel conta o curioso caso do adido da Tailândia, que passou um aperto após ser surpreendido num quarto de hotel com sua esposa. Ele não estava com o tal cartão magnético...

Fiquei pensando. Como a poligamia é uma prática legal segundo a chari’a, imagina ter que carregar um cartão para cada esposa. 

Nota:
[1] Despacho de 28 de janeiro de 1999 apud KEPPEL, Gilles. Jihad: expansão e declínio do islamismo, p. 150.

terça-feira, 5 de julho de 2011

ISRAEL, ENTRE A TEOCRACIA E A DEMOCRACIA

Na semana passada Dov Lior, rabino chefe de Kiryat Arba, foi detido pela polícia israelense por ter endossado o conteúdo do livro “Torat Hamelekh” (O rei da Torá, de autoria do rabino Yitzhak Shapira), que prega, dentre outras coisas, a morte crianças árabes, caso representem uma ameaça ao Estado judaico.  A detenção do rabino foi vista como uma ofensa por parte de judeus ultra-ortodoxos. Dov Lior é ligado a yeshiva hesder, um programa que combina  estudos talmúdicos com o serviço militar. Combinar religião e violência não é coisa exclusiva do islamismo como é geralmente enfatizado na mídia ocidental.  

Ontem (04-07-11) o Haaretz   publicou um artigo refletindo sobre as origens da intolerância religiosa cultivada por alguns rabinos em israel. Quem assina  o artigo, intitulado “Rabbi Lior's racism is not his fault” (“O Rabino Lior não é culpado por seu racismo”), é Salman Masalha. Apesar de discordar de alguns pontos defendidos pelo autor (como a de que o monoteísmo é essencialmente intolerante), o texto chama atenção para alguns detalhes interessantes. Masalha destaca, por exemplo, que o famoso “amarás o teu próximo como a ti mesmo”  (Lv 19,18) se refere apenas aos judeus, considerando que a primeira parte do versículo diz “Não tomarás vingança, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas...”. Ele explica que essa interpretação é corrente entre os  estudiosos da Halakha (lei judaica) e cita vários exemplos, como o de Maimônides, sábio judeu do século XII. Segundo Maimônides, o  “próximo” presente no versículo se refere apenas aos membros da Casa de Israel que seguem a Torá e seus mandamentos, e que o texto é uma mitsvá (mandamento) para odiar alguém que não aceita a Torá.

É assustador pensar que muitos militares que compõem as Forças de Defesa de Israel atualmente tiveram seu pensamento moldado de acordo com a cartinha de pessoas como Dov Lior. Os ultra-ortodoxos são minoria em Israel, mas gozam de grande influência.  


Jones F. Mendonça

terça-feira, 21 de junho de 2011

AS ORIGENS DO FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO

Na segunda década do século XX, sob as os escombros do Império Otomano, nasceu a república Turca. Uma figura que destaca nesse cenário é Mustafá Kemal Ataturk, considerado o pai da Turquia moderna. Ataturk deu início à guerra de independência, que culminou em 1923 com a proclamação da república. Na busca por um estado democrático secular ele aboliu o califado e a poligamia. Também substituiu o fez (banete usado pelos povos do oriente) pelo chapéu e o alfabeto árabe pelo latino. Países islâmicos como o Egito de Nasser e o Irã do Xá Reza Pahlevi também tentaram se adequar ao novo mundo instaurando um estado secular. O Egito nacionalizou a economia, tomou posse da imprensa e aboliu o parlamento. No Irã o Xá sonhou transformar o país numa potência militar e industrial do dia para a noite. As conseqüências foram catastróficas. Muitos árabes espalhados pelos países muçulmanos, perdidos nesse processo de fragmentação, viram nas suas escrituras sagradas a única solução para restabelecer a ordem: a instauração da Shari’a, a lei islâmica. Eis alguns nomes que destacaram na construção da ideologia religiosa anti-ocidental.

Hassan El Banna (1906-49) – Fundou a Irmandade muçulmana em 1928 durante o período colonial. Tinha como meta o restabelecimento da ordem desfeita pelo fim do califado otomano de Istambul. O grupo chamava para si a responsabilidade pela dimensão política do Islã. Os irmãos muçulmanos tinham um slogam bem conhecido na órbita islâmica: “O corão é nossa constituição” e “o islã é um sistema completo e total”. Defendia que a solução para os muçulmanos está na implantação de um Estado islâmico, que aplique a chari’a (lei baseada nas Escrituras Sagradas do Islã), como teria feito o califa do antigo império otomano. O movimento teve aceitação entre a pequena burguesia urbana de origem modesta imbuída de uma visão religiosa do mundo.  O grupo soube politizar essa religiosidade. A irmandade foi desmantelada em 1954 pelo recém-criado Estado de Nasser. A irmandade faz parte do reformismo dentro das escolas sunitas.

Sayyid Qutb (1906-1966) – Filósofo enforcado em 29 de agosto de 1966 no Egito de Nasser. Foi influenciado pelos irmãos muçulmanos, e tinha como pano de fundo o seguinte cenário: a Turquia não era mais o Império Otomano e os estados árabes não eram mais colônias européias. Pregava uma ruptura radical com a ordem estabelecida, defendendo a substituição do ideal nacionalista, nascido na luta contra o colonialismo, pelo Estado islâmico. Teve relativa aceitação entre os jovens, mas afastou a maior parte dos intelectuais religiosos e da classe média. Criou um estilo de escrita simples e despojado, distante da complexa retórica dos ulemás (doutores da lei islâmica) e foi autor de duas grandes obras: “À sombra do Corão”, seu comentário corânico, e “Marcos do Caminho”, um “manual prático” do movimento islâmico. Elaborou o conceito de jahiliyyah, a barbárie anterior ao islã. Ela precisava ser destruída assim como fez o Profeta, defendia Qutb, dando lugar ao Estado muçulmano. Influência sob o universo sunita.

Abul Ala Mawdudi (1903-79) – Suas teorias e conceitos serviram para adaptar a ideologia islâmica às novas condições políticas criadas com o advento dos estados independentes não-religiosos. No final dos anos 20 publicou seu primeiro livro em urdu, língua derivada do sânscrito consagrada como língua oficial do Paquistão: “A Jihad no Islã”. Mawdudi declarava que a política era parte integrante da fé islâmica e do Estado islâmico. Fundou um partido chamado “Jama’at-e islami”, que tinha muitos pontos comuns com o modelo lenilista. Não conseguiu atingir as camadas mais pobres, pouco conhecedoras da língua urdu.  Influência sob o universo sunita.

Huholla Khomeini (1902 - 1989) – Popularmente conhecido como Aiatolá Khomeini, fez oposição ao Xá do Irã, Mohammed Reza Pahlavi, com base em conceitos antimodernistas. A reforma agrária iniciada pelo Xá prejudicava o clero, grande proprietário de terras, previa o voto para as mulheres e o juramento solene sobre um livro sagrado que não fosse necessariamente o Corão. Khomeini fez forte oposição a essas medidas. Em seu exílio na cidade santa xiita de Nadjaf, no Iraque, escreveu um livro que reunia uma série de conferências que continham a essência das futuras decisões a serem tomadas pela República islâmica a partir de 79. A obra recebeu o título de “Por um governo islâmico”. Khomeini conseguiu mobilizar verdadeiras redes de adeptos e discípulos, obtendo um sucesso sem precedentes no universo árabe. Seu principal objetivo era destruir a monarquia para instituir um governo islâmico sob a liderança do sábio xiita

Referências bibliográficas:
KEPEL, Gilles. Jihad: expansão e declínio do islamismo. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003, 572 páginas.
LIBERO. Chiara. Turquia. São Paulo: Manole, 1998.


Jones F. Mendonça

JIHAD: EXPANSÃO E DECLÍNIO DO ISLAMISMO

KEPEL, Gilles. Jihad: expansão e declínio do islamismo. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003, 572 páginas.

Em 2006 tive a grata oportunidade de trabalhar num antigo forte em Niterói, RJ, chamado Forte Gragoatá.  É uma belíssima construção debruçada sobre o mar. Na época, estimulado por um programa de incentivo à leitura, fui à biblioteca e acabei me deparando com o livro “Jihad: expansão e declínio do Islamismo”, do professor Gilles Kepel, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. Escrito em 2003, o livro apresenta uma retrospectiva da história do fundamentalismo islâmico, desde o surgimento dos primeiros grupos radicais islâmicos, após a queda o Império Otomano em 1923, até o devastador ataque às torres gêmeas em Nova York, no ano 2000.

Kepel é fluente em árabe e teve a oportunidade de percorrer o mundo islâmico reunindo documentos, realizando entrevistas e coletando material inacessível à maioria dos acadêmicos. A riqueza de informações contidas no livro é espantosa. Como o Numinosum também funciona como um grande arquivo pessoal, fiz um breve resumo das origens dos grupos fundamentalistas islâmicos baseado nos primeiros capítulos da obra de Kepel. A história começa com a queda do Império Turco Otomano. Leia aqui

sábado, 11 de junho de 2011

QUEM FORAM OS CÁTAROS?

São Domingos e os albigenses (1495),
de Pedro Berruguete. Museu
del Prado, Madrid.
Os cátaros (gr. katarós, puros), representaram uma forma de cristianismo que teve origem na cidade francesa de Albi (por isso também eram chamados de albigenses) em meados do século XII. O catarismo criou sua própria hierarquia chegando a eleger um Papa. O movimento foi considerado herético e Inocêncio III proclamou contra eles uma cruzada (1209-1229). Em 1939 foram descobertos vários documentos  sobre os cátaros nos arquivos de Florença e de Praga. A imagem à esquerda retrata uma disputa entre São Domingos e os hereges de Albi. De acordo com uma lenda, milagrosamente só os livros dos cátaros foram danificados pelas chamas. 

O IHU (11-06-11) publicou uma breve análise do catarismo feita pelo cardeal italiano Gianfranco Ravasi. Leia aqui 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

AS ORIGENS DO MONOTEÍSMO BÍBLICO (ARTIGO)

Capa do livro "The Origins of
the biblical Monotheism"
Um dos assuntos mais polêmicos envolvendo a religião do Antigo Israel é a possibilidade deles terem praticado o henoteísmo. O termo foi criado pelo historiador das religiões, Max Muller, e serve para designar um povo que cultua um só Deus, mas sem excluir a possibilidade da existência de outros.

Se você se interessa pelo tema, vale conferir um artigo publicado no "The Bible and Interpretation", intitulado "The origins of Biblical Monotheism: Israel's polytheistic background and the Ugaritic texts". O autor é Mark S. Smith, professor de Bíblia e estudos do Oriente Próximo da Universidade de Nova York. Confira aqui (com tradução do Google).


Jones F. Mendonça 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

BUDISTAS CELEBRAM O VESAKHA (OU VESAK)

Vesakha 2011, The Big Pictures
Hoje os adeptos do budismo celebram o Vesakha (maio), um feriado anual conhecido popularmente como o "aniversário do Buda". O Vesakha lembra o nascimento, aperfeiçoamento (nirvana) e morte de Buda (Sidarta Gautama) e é comemorado em diversos países asiáticos, tais como Índia, Nepal, Singapura e Tailândia. 

De acordo com um leitor do Numinosum, Ricardo Mitsuo, no meio nipônico a celebração recebe o nome de "Hanamatsuri" (festa das flores). 

Belas fotos do Vesakha 2011 aqui e aqui.

domingo, 27 de março de 2011

HOLI, O FESTIVAL DE CORES E ALEGRIA DO HINDUÍSMO

Devotos hindus celebrando o Holi em Vrindavan, 19/03/11
Foto via Big Picture

Celebrado em março ou abril, de acordo com o calendário hindu, o festival da primavera da Índia, o Holi, é comemorado com muitas cores e alegria. A festa, que parece ter origem num antigo ritual de fertilidade, é explicada num curioso mito: Tudo começou com a arrogância do rei Hiranyaskapishu, após exigir culto aos seus súditos. Permanecendo fiel aos deuses do hinduísmo, seu filho Prahlada foi lançado numa fogueira por sua malvada irmã Holika, que atendera ao pedido de seu pai. O que Holika não sabia é que ao passar pelas chamas juntamente com outra pessoa seus poderes ficavam enfraquecidos. O herói Prahlada passou intacto louvando seus deuses enquanto Holika morreu nas chamas. Na noite de Holi uma boneca da bruxa Holika é queimada. No dia seguinte as pessoas vestem roupas velhas e atiram água e pós coloridos umas nas outras. Quando anoitece todos se confraternizam com um feliz Holi.

Confesso que adoro esses mitos antigos. Mas eles ficam chatos quando alguém resolve historicizá-los. Uma pena... Certa vez perguntaram a um velho Xamã qual a teologia ou filosofia de sua religião. Sua resposta: não tenho filosofia ou teologia, eu apenas danço!

Belíssimas fotos do Holi deste ano aqui

domingo, 3 de outubro de 2010

SEMELHANÇAS ENTRE O CRISTIANISMO E O MITRAÍSMO

É muito comum em comunidades de discussão na internet surgirem pessoas dizendo que o cristianismo copiou elementos do culto de Mitra, uma divindade cultuada no Irã e na Índia que acabou se tornando muito popular na Roma do primeiro século, principalmente entre os soldados. Dentre os “plágios” estariam o nascimento numa manjedoura, a promessa da vida eterna e a ascensão aos céus. Lamentavelmente a maioria desses “estudos” carecem de fontes seguras e imparcialidade acadêmica. 


A revista Archaeology, patrocinada pelo Instituto arqueológico da América, publicou um interessante artigo sobre o assunto contendo fotos e referências bibliográficas.

Sobre a ressurreição de Mitra, por exemplo, o autor diz que "além de Tertuliano nenhuma outra fonte antiga faz menção à ressurreição no ritual mitráico". Ainda segundo o artigo Mitra nasceu de uma rocha e não há nenhuma referência a uma manjedoura (cf. imagem: petra genetrix).

Para ler o texto traduzido pelo Google, clique aqui.
Para ler o texto no idioma original (inglês), clique aqui.

Caso queira ler mais sobre o mitraísmo em sites especializados no assunto, clique aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

O autor, Carly Silver, é um júnior no Barnard College, Columbia University, em Nova York. 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O QUE OS MUÇULMANOS COMEMORAM NO RAMADÃ?

Milhares de muçulmanos se reúnem na Grande Mesquita da cidade santa de Meca fazendo orações em 29 de agosto de 2010 (Foto: Boston.com – clique na imagem para ampliar).

Quem explica é Huston Smith:
“Ramadã é um dos meses do calendário islâmico – o mês sagrado do islã, porque foi nele que Maomé recebeu sua revelação inicial, e também nele que (dez anos depois) fez sua histórica Hégira de Meca até Medina. Para comemorar essas duas grandes ocasiões, os muçulmanos fisicamente aptos (ou seja, que não estejam doentes, nem envolvidos em crises, como uma guerra, nem fazendo viagens inevitáveis) jejuam durante o Ramadã”[1].
Resumindo, no Ramadã são comemoradas a revelação inicial dada a Maomé e sua mudança de Meca para Medina (hégira – busca de proteção).

O Ramadã é um dos cinco pilares da fé islâmica e não tem uma data fixa, já que o calendário muçulmano é lunar. O fim do Ramadã é celebrado com uma grande festa, chamada Eid al-Fitr[2].  Neste ano o Eid al-Fitr coincide com o nono aniversário do ataque terrorista às torres gêmeas em Nova York. Ao que parece as comemorações desse dia sagrado será bem tumultuado nessa cidade, pois alguns americanos desavisados podem enxergar a festa como sendo uma comemoração pela destruição das torres.  

Torçamos para que o luto e a festa, o lamento e a alegria, possam conviver de forma pacífica e respeitosa. São estes alguns dos inúmeros paradoxos do estranho mundo em que vivemos.

Para ver belíssimas imagens em alta resolução do Ramadã, clique aqui.

Notas:
[1] SMITH, Huston. As religiões do mundo: nossas grandes tradições de sabedoria. São Paulo: Cultrix, 2007, p. 238.
[2] DELUMEAU, Jean; MELCHIOR, Bonnet. De religiões e de homens. São Paulo: Loyola, 2000, p. 397.

Imagem: Boston.com