Ao longo da história do cristianismo a figura do anticristo sempre assombrou os crentes. Nero, Juliano, o Papa, Napoleão, Hitler, George Bush e tantos outros líderes entraram na lista de suspeitos. Inspirado no sebastianismo, messianismo português fundamentado na esperança do regresso do rei D. Sebastião, Antônio Conselheiro reuniu milhares de sertanejos baianos após a proclamação da República num movimento de resistência que culminou na Guerra de Canudos. Um dos seus discursos ficou registrado nos anais da história brasileira:
“Meus irmãos, o Anticristo é chegado. [...] O ataque de Maceté constitui uma prova para nós. O meu povo é valente. O satanás trouxe a república, porém em nosso socorro vem o Infante rei D. Sebastião. Virá depois o bom Jesus separar o joio do trigo, as cabras das ovelhas. [...] Belos Montes será o campo de Jesus. [...] Os republicanos não devem ser poupados, pois são todos do Anticristo” (José ARAS, Sangue de irmãos, Salvador, Museu do Bendegó, 1953, 25 apud NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Religião de visionários: apocalíptica e misticismo no cristianismo primitivo, p. 276).
Na
visão de Conselheiro o anticristo era, quem diria, a República. Além dos novos
impostos decretados pelo governo republicano, o “rebelde conservador”
levantou-se contra medidas secularizadoras como a separação entre a Igreja e o
Estado e a introdução do casamento civil. O que Lutero fez questão de separar,
Conselheiro insistiu em juntar novamente. O que Dietrich Bonhoeffer e Harvey
Cox viram como uma necessidade, Conselheiro viu como uma ameaça.
A
grande ironia disso tudo: o secularismo virou, na retórica evangélica, o maior
dos demônios. Sob seu cetro, os "demonóides”: humanismo, racionalismo,
individualismo e tantos outros “ismos”. Com o enfraquecimento do poder da Igreja surgiram alguns grupos. Há quem deseje um retorno à Idade Média,
aos valores rígidos ditados pela igreja e a uma ciência sob as rédeas da fé. Outros preferem que o mundo siga o seu
curso em meio aos desafios da modernidade. Há ainda os que causam alarde no povo com seus discursos escatológicos inflamados. Em suma, uns querem um retorno ao passado. Outros preferem seguir em frente apesar dos desafios. Outros preferem... bem, outros preferem fugir do mundo, sumir, "não ser".
Queria ter escrito isso...
ResponderExcluirParabéns.
Meus parabéns!
Osvaldo Luiz Ribeiro
Osvaldo,
ResponderExcluirOs mesmos que dão polimento no busto de Lutero, criticam a fragmentação do cristianismo e as demais consequências de suas ideias. Vai entender...
Grande abraço!