João
Calvino escreveu suas Institutas em quatro volumes. A obra expõe com detalhes a
doutrina elaborada pelo reformador francês que se instalou inicialmente em
Basileia, na Suíça, fugindo das perseguições que ocorriam na França. O teólogo
de Noyon diz no livro I (XVII, 13) que a ira divina não deve ser identificada
como a ira experimentada pelos meros mortais. Trata-se de um antropomorfismo.
Quando o texto afirma que Deus se arrependeu, ou ficou irritado, ou se
entristeceu – explica o reformador - o leitor deve ter em mente que essa é
apenas leitura feita sob a perspectiva humana. Se Deus é imutável, impassível e
atemporal logo não pode ter sentimentos semelhantes aos dos humanos, conclui o reformador.
Faltou-lhe
antropomorfizar o amor divino e todo o discurso que a teologia vem apresentando
sobre Deus. Três séculos depois e me aparece Feuerbach...
Jones
F. Mendonça
Olá, meu caro Mendonça!
ResponderExcluirPermita-me reproduzir o argumento desse autor sobre Feuerbach, o qual concordo plenamente:
"Problemas com a visão de Feuerbach: Sua tese central é contraditória.
A premissa básica da visão de Feuerbach é contraditória. Ele afirma que “Deus não é nada mais que uma projeção da imaginação humana”. Mas todas as afirmações de “nada mais” pressupõem conhecimento do “mais que”. Como ele poderia saber que Deus não é “nada mais” a não ser que ele mesmo conhecesse O “mais que”? Em resumo, a afirmação central do sistema de Feuerbach destrói-se a si mesma porque implica mais conhecimento do que o que permite.
Talvez o ateísmo seja uma projeção:
Feuerbach não considera seriamente que sua própria visão pode ser uma projeção de sua própria imaginação. Talvez Feuerbach esteja apenas imaginando que não há Deus. Talvez, como Freud, Feuerbach esteja preocupado em criar uma visão de Deus à sua própria imagem. Seu ateísmo também poderia facilmente ser uma ilusão — algo que resulta dos seus desejos — como o teísmo que ele rejeita. A autoprojeção também explica o ateísmo, talvez melhor do que explica o teísmo. Assim, talvez não tenhamos criado o Pai; quem sabe o ateísmo o tenha matado.
Ele nunca prova consciência infinita:
Muitos argumentos que Feuerbach oferece para o ateísmo são forçados; ele pressupõe o que será provado. Nunca prova realmente que a consciência humana é infinita; apenas supõe. É claro que, se nossa consciência realmente é infinita, então somos Deus. Mas esse sem dúvida não é o caso, já que nossa consciência é mutável e limitada, enquanto Deus é imutável e ilimitado.
Não é necessário ser para conhecer:
Outra suposição falha é que é necessário ser idêntico a todo objeto que se conhece. Mas ele não prova essa premissa, e esse não é o caso. Coisas semelhantes podem se conhecer. o conhecimento pode ser por analogia. Não precisamos ser uma árvore para conhecer uma árvore, só precisamos supor a sua semelhança em nossa mente. Da mesma forma, não precisamos ser Deus para conhecer a Deus. Simplesmente temos de ser semelhantes a Deus. Semelhança é suficiente para conhecimento; o sujeito e o objeto não precisam ser idênticos.
Tal crença destruiria o processo humano:
Feuerbach acreditava que supor um Deus que na verdade não existe é essencial ao desenvolvimento humano. Mas quem aceita a análise de Feuerbach não acredita mais que as autoprojeções sejam Deus. Então, segundo o argumento de Feuerbach, o progresso humano cessará. Se a ignorância do fato de que somos Deus é essencial ao progresso humano, então, quando a pessoa se torna feuerbachiana, o jogo acaba e o progresso é impossível.
O materialismo de Feuerbach era inconsistente:
Apesar de Feuerbach abominar seu mentor Hegel, jamais escapou totalmente da ressaca do idealismo. E também não se livrou da questão irritante de Deus. Para uma pessoa que acredita no materialismo básico, essa ênfase na consciência é eminentemente inadequada. Engels observou que Feuerbach “parou na metade do caminho; sua metade inferior era materialista, a metade superior era idealista” (citado em H. White,“Feuerbach, Ludwig”, EP, p. 192).
Essa análise da experiência religiosa ésuperficial:
Barth denominou o problema de Feuerbach de “superficialidade”. Escreveu:
"Feuerbach era um 'verdadeiro filho do seu século', que 'não conhecia a morte', e entendia mal o maligno'. Na verdade, qualquer um que soubesse que nós, homens, somos maus da cabeça aos pés e que refletisse que devemos morrer, reconheceria que a mais ilusória de todas as ilusões é supor que a essência de Deus é a essência do homem (K. Barth, “An introductory essay”, xxviii)
Apologeta
Se dizer que o Deus cristão é uma criação da cultura, uma invenção histórico-antropológica, uma projeção da essência humana é um equívico, então, o mesmo deve valer para Exu, por exemplo. Não?
ResponderExcluirFeuerbach diria que todos os "deuses" são criações humanas.
ResponderExcluirSe para além dos discursos e tradições religiosas há deuses ou não, não há a menor hipótese de sabermos. Agora, esses discursos e tradições com seus deuses e deusas, sim, nós podemos conhecer, estudar, analisar, posto que são históricos. E, sim, dentro das narrativas religiosas todos os deuses são construções humanas, produtos culturais, frutos da imaginação religiosa, inclusive o judaico-cristão.
ExcluirRobson Guerra.
Os deuses da mitologia grega são históricos? Se o Deus da Bíblia é "construção humana", poderia me mostrar onde o homem criou a Trindade? O máximo que conseguiu foi o arremedo denominado '"triteísmo".
ExcluirApologeta
As tradições, os discursos são históricos. Pois não surgiram do nada, foram criados, inventados por sujeitos históricos num determinado tempo e lugar.
ExcluirOnde inventaram a doutrina da Trindade? Não teria sido em Niceia?
Robson Guerra
Exato. Se seres supra-terrenos existem ou não é outro papo.
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