domingo, 22 de janeiro de 2012

A TEOLOGIA, SERVA DA ECONOMIA

"O nobre é a aranha, o camponês
é a mosca", Jacques Lagniet -
Biblioteca Nacional da Paris
Na Idade Média vigorava a ética cristã paternalista, cuja ideologia legitimava o status quo feudal. A sociedade era encarada como uma grande família, onde os pais representam os que detinham o poder (senhores feudais religiosos ou seculares) e os filhos, os trabalhadores (servos camponeses). A ganância, a avareza, o egoísmo e a ânsia de acumular riquezas eram severamente condenadas. Só uma pequena parcela da população deveria possuí-las, cabendo-lhes a responsabilidade de socorrer o pobre necessitado. A riqueza, dizia Clemente de Alexandria, deveria ser encarada como dádiva de Deus, utilizada em prol do bem estar do próximo. Para Tomás de Aquino “o homem que não dá esmola é ladrão”. Os mais ricos, valendo-se da ética cristã paternalista, justificavam a concentração de renda em suas mãos como naturais e justas. Enfiava-se um pedaço de pão na boca de um despossuído e estava tudo certo.

A teologia dos reformadores, no século XVI, fez surgir a ética individualista. Ao dizerem que a Escritura interpreta a si mesma e que a fé é uma verdade do coração, muitos negociantes, consultando o seu coração e fazendo uma interpretação particular de trechos das Escrituras, “descobriram”, com toda a honestidade e fervor, que suas práticas econômicas não constituíam ofensa a Deus, pelo contrário, “glorificavam-no!”. Alguns puritanos chegaram a afirmar que “Deus havia instituído o mercado e o câmbio”. Nem Lutero e nem Calvino devem ser considerados os pais da nova classe capitalista, mas é inegável sua contribuição para o novo modelo econômico que surgia.

Em 1714, Bernard Mandelville publicou “A Fábula das Abelhas: os vícios Privados, Benefícios Públicos”. A ética cristã paternalista foi posta de ponta a cabeça. Ele sustentava que se todos praticassem os vícios considerados mais degradantes pelo velho código moral, o bem comum sairia lucrando. O egoísmo, a avareza e o desejo de adquirir riquezas tornavam os homens mais industriosos e faziam prosperar a economia. E foi assim que o vício virou virtude.

A teologia, serva da economia...


Jones F. Mendonça

2 comentários:

  1. E nisso, você vai além de Feuerbach, você vai a Marx. Essa, a única crítica de Marx a Feuerbach - não dar o nome da razão dessa fuga é, para todos os fins, ocultá-la.

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  2. Muito elucidativo. Lembro-me das aulas histórias e de como o protestantismo recebeu apoio incondicional da burguesia que defendia a separação entre o Estado e a igreja.

    Permaneçamos firmes!

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