Em 1Sm 18,10, com inveja de Davi, Saul “profetiza”(?!) após
ser tomado pelo “espírito mau de elohim”. Sim, trata-se de uma passagem
estranha. Em 19,24, agora tomado pelo “espírito de Elohim”, Saul: 1.
“Profetiza” nu diante de Samuel; 2. Seu corpo desfalece e permanece no chão por
toda a noite. Mais estranho ainda, não? Bem, em algumas Bíblias a leitura é
confusa porque neste caso o verbo “naba’” (geralmente traduzido por profetizar)
parece indicar uma espécie de “êxtase” ou “delírio” e não a proclamação de uma
mensagem divina (como geralmente ocorre, p.ex. Jr 25,13).
Em 1 Sm 18 e 19 “nabá” é usado para indicar um sinal, uma
evidência concreta da presença do espírito divino num indivíduo (como em
10,6-7, cuja função é a mesma em At 10,44-45). Este tipo de delírio por vezes
aparece acompanhado de música, como em 1Sm 10,5 e 2Rs 3,15. Naba’ também é “êxtase”
em Nm 11,25, texto que narra o fenômeno denunciado por um jovem a Moisés,
ocorrido com Eldad e Medad. Moisés
repreende o jovem com as seguintes palavras: “Oxalá todo o povo de Javé fosse
profeta, dando-lhe Javé o seu Espírito!” (mesmo desejo expresso em Jl
2,28).
Aos interessados na relação entre profetismo e êxtase no
Antigo Israel, sugiro a leitura do artigo: “Prophecy and Ecstasy: A Reexamination”, por Robert R. Wilson, publicado no Journal of Biblical
Literature (para visualizar o artigo será preciso fazer um cadastro).
Jones f. Mendonça
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