No imaginário popular, as diferenças metodológicas entre
Freud e Jung geralmente são vistas pelo prisma da religião: Freud – visão negativa;
Jung – visão positiva. Mas é muito mais que isso. No que diz respeito aos
sonhos, por exemplo, há diferenças significativas. Acompanhe:
1. Embora não conhecesse o alfabeto cirílico, um homem
começou a divagar enquanto observava anúncios em estações de trem da Rússia. A
experiência trouxe-lhe à mente antigas lembranças, incluindo assuntos bem
incômodos há muito tempo sepultados na memória. Após ouvir essa experiência
relatada por seu paciente, Jung começou a perceber que os complexos podem ser
descobertos não apenas pelos sonhos, mas também, por exemplo, a partir de
meditações sobre uma bola de cristal, moinhos de orações, um quadro moderno ou
até mesmo de uma conversa ocasional a respeito uma banalidade qualquer.
2. Freud buscava os temas emocionais reprimidos (complexos)
nos sonhos tal como na experiência descrita acima. Ele não via o sonho como
tendo uma mensagem específica, mas apenas como uma espécie de “alfabeto
cirílico” capaz de despertar memórias reprimidas. Jung passou a discordar desse
ponto. Ele achava que os sonhos têm uma linguagem própria e que a livre
associação de Freud por vezes é ineficiente para tingir os complexos. Preferiu
concentrar-se nas associações com o próprio sonho, convencido de que ele
expressa o que de específico o inconsciente está tentando dizer. A partir dessa
descoberta Jung foi abandonando a livre associação de Freud até concluir: “só o material que é parte clara e visível de um sonho pode ser utilizado para a sua interpretação”.
Jones F. Mendonça
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