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Crise
multifatorial
No segundo capítulo de seu “Para
além da Bíblia”, Mário Liverani discorre sobre a sociedade palestina do
primeiro período do Ferro (século XII a.C.). Essa nova fase, quando
confrontada com o período do Bronze Recente (séculos XIV e XIII), destaca-se
pelo desenvolvimento de grande inovação tecnológica e de assentamentos.
Fatores
climáticos e migrações
Além da crise socioeconômica
de longa data, da crise demográfica em curso, da indiferença da população
camponesa pela sorte dos palácios reais e das recentes carestias, a crise final
do Bronze Recente e seu colapso veio pela presença de movimentos de caráter
migratório impulsionado pelo processo de mudança climática: 1) na zona árida do
deserto do Saara e do deserto da Arábia; 2) Na parte norte do mediterrâneo,
particularmente na região da Anatólia.
Somado a essas migrações
aparecem os chamados “Povos do mar”, que se espalharam por toda a costa do
Mediterrâneo oriental, sendo detidos no Egito. No túmulo do faraó Ramsés III aparece
o registro da chegada dos invasores:
Os setentrionais em suas ilhas estavam em dificuldade e se moveram em massa, todos ao mesmo tempo. Ninguém resistiu perante eles; de Khati (império Hitita) a Qode (Cilícia), Karkemish (cidade do Eufrates, no norte da Síria), Arzawa (reino da Ásia Menor), Alashiya (Chipre) foram devastadas. Dirigiram-se enfim para o Egito [...]. A força deles era constituída de filisteus de Zeker, de Shekelesh, de Danuna e de Weshesh, países que se uniram para pôr a mão no Egito, até o último confim. Os ânimos deles eram de confiança, cheios de projetos (ARE IV 64 = ANET, p. 262).
Bloqueados no delta do Nilo,
os Povos do mar estabeleceram-se em grande número na costa meridional da
Palestina ou no interior próximo. O povo mais importante, os filisteus, formou
uma aliança política de cinco cidades, uma pentápole: Gaza, Ascalom, Ashdod,
Gat e Eqron.
Queda
do sistema regional
A invasão dos Povos do mar repercutiu
em vários níveis no destino histórico da Palestina. Houve uma mudança no quadro
político regional, provocando o desmoronamento de duas potências
que dividiam a soberania da faixa siro-palestina: Egito e Khati (cidade hitita,
conhecidos na Bíblia como heteus, cf. 2Rs 7,6).
A Assíria e a Babilônia,
limitadas a seus núcleos mínimos possíveis devido às invasões dos arameus,
permitiram que a Palestina ficasse livre de intervenções estrangeiras pela
primeira vez depois de meio milênio, situação que durará até o surgimento do império
neo-assírio. A partir desse novo cenário, Liverani destaca:
Os pequenos reis palestinos, habituados a uma relação de vassalagem em relação ao senhor estrangeiro, não terão mais outra entidade superior de referência senão suas divindades, e readaptarão toda a fraseologia, a inocografia e as cerimônias construídas para exprimir suas relações com o faraó para exprimir agora sua relação com a divindade citadina ou nacional (p.68).
Crise
dos palácios
Muitos palácios reais e
cidades palestinas foram destruídos durante as invasões ou depois delas,
podendo ser atribuídas tanto aos Povos do mar como às tribos “proto israelitas”,
intervenções egípcias, guerras locais ou revoltas de camponeses. Sem seu núcleo
paladino, as cidades se reduziram em dimensão e complexidade organizativa. O
maior interesse na autodefesa impulsionou a construção de muros nas pequenas
cidades sobreviventes.
Continua aqui.
Jones F. Mendonça
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