Quem lê com atenção a Bíblia hebraica percebe
que as antigas tradições de Israel, após ganharem a forma escrita, passaram por
um processo redacional contínuo ao longo dos séculos. Os textos, retocados e moldados de acordo com
a teologia da época, deixaram “impressões digitais” que podem ser percebidas
por quem conhece o hebraico e os antigos costumes dos povos que viviam no
território ocupado pelos israelitas e em seu entorno.
No caso específico da profecia é possível notar
resquícios de antigas práticas mágicas e divinatórias do Oriente Próximo. São
diversos os exemplos, tais como a taça de adivinhação de José (Gn 44,5); o
carvalho dos adivinhadores (Jz 9,37); a adivinhação com flechas (2Rs 14,13-20 e
Ez 21,21); o uso dos terafins e do éfode para consultar Javé (Jz 17,5; Os 3,4;
1Sm 23,9); a consulta aos mortos (Is 29,4; 1Sm 6,2) e o êxtase delirante (Nm 11,25; 1Sm 10,5-6; 1Sm 19,24; 1Sm 18,10; 1Rs 18, 26.28-29; 2Rs 3,15).
Em busca de
paralelos entre a religião de Israel e a de outros povos que viveram na região encontrei essa
magnífica obra:
JEFERS,Ann. Magic & divination in ancient Palestine & Siria. Leiden: New York:Köln: E. J. Brill, 1996.
Eis uma pequena descrição (como aparece na introdução
do livro):
Magia e adivinhação, como parte de um sistema de ideias, certamente existiu numa fase inicial da história israelita. Não podemos, porém, ignorar o fato de que há muitos vestígios de magia e adivinhação deixados nos textos atuais que não podem ser facilmente explicados pelo uso de obras literárias críticas. [...] De imediato, várias questões se apresentam: O que são magia e adivinhação? Como é que o mundo acadêmico as entendeu? Que método hermenêutico podemos aplicar para lidar com tantas camadas e textos ideológicos?
Boa leitura!
Jones F. Mendonça
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