Século
VIII. O bispo de Roma (papa Zacarias, 741-752) alia-se a Pepino, o Breve,
apoiando sua pretensão ao trono francês. Pepino é ungido rei em 754. Aproveitando-se
da situação, a Igreja mostra a Pepino um documento por meio do qual o imperador
Constantino (325) doa ao papa Silvestre (314-335) terras, honras e coloca a
igreja de Roma acima das demais. Pepino acredita na autenticidade do documento
(ou finge acreditar), a doação se efetiva e o papa ganha o status de soberano
temporal. O papa já não se encontra mais sob o domínio político do império da
Roma Oriental, mas dos francos e mais tarde do imperador alemão. Eis um trecho
do documento (conhecido como Doação de Constantino):
Atribuímos-lhe o poder, a gloriosa dignidade, a força e honra do império, e ordenamos e decretamos que ela [a Igreja Romana] governe também sobre as quatro sés principais – Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém – e sobre todas as igrejas de Deus e, todo o mundo. E o pontífice que em cada tempo presidir sobre a santíssima Igreja Romana será o supremo e o principal de todos os sacerdotes do mundo inteiro e que conforme a sua decisão devem ser resolvidos todos os assuntos que se referem ao serviço de Deus e à confirmação da fé de todos os cristãos (BETTERSON, Documentos da igreja Cristã, p. 141-142).
No
Natal de 800 o papa Leão III coroa Carlos Magno (filho de Pepino) na Igreja de
São Pedro fazendo nascer o Sacro Império Romano. Mais tarde, com Gregório VII
(1073-1085) e a publicação do Dictatus,
o papa passa a ser infalível em pronunciamentos ex-cathedra e ganha o status de
bispo universal. Com Inocêncio III (que nada tinha de inocente, 1160-1161) o
papa assume o título de vigário de Cristo (representante de Deus na terra). No Solitae este mesmo papa chega a comparar
o papado ao sol e o poder imperial à lua numa clara declaração de superioridade
do papa sobre o imperador. A antiga igreja, outrora clandestina e perseguida,
ganhava poderes inimagináveis. Então surgiram as cruzadas e a inquisição.
A
falsidade do documento que serviu de impulso para o crescimento do poder da
igreja foi demonstrada por Lourenço Valla em 1440. O erudito, especialista no
idioma dos latinos, notou que o texto foi escrito no latim da renascença
carolíngia e não no século IV. O golpe
dado por Valla enfraqueceu a igreja, já abalada pela imoralidade do clero, pelo
surgimento de grupos dissidentes (como cátaros e valdenses), pelas denúncias de
John Wyclif, Jan Hus, Erasmo e finalmente por Lutero.
O
dia 31 de outubro de 1517 parecia anunciar o fim da tirania imposta pelos
líderes da igreja. Então inventaram novos papas, não de carne o osso como os
antigos, mas desta vez feitos de tinta e papel. Surgiam as confissões
doutrinárias. E uma nova tirania se impôs.
Muito bom parabéns.
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