Pouco
antes de divulgar suas 95 teses contra as indulgências, em 31 de outubro de
1517, Lutero escreveu 97 teses contra a escolástica. Em sua tese 50 o
reformador alemão chegou a dizer que “Aristóteles está para a teologia como as
trevas estão para a luz’. Mas o fantasma do filósofo grego desprezado pelo
reformador não iria deixar seus continuadores em paz.
Foi-se
Lutero, foi-se Zwínglio, foi-se Calvino e algumas lacunas deixadas pelos
reformadores logo passaram a ser alvo da investigação minuciosa da ortodoxia
luterana e calvinista. A lógica de Aristóteles voltava à cena com trajes de
gala e cabelo engomado.
No
âmbito calvinista, por exemplo surgiram discussões tão proveitosas quanto a
natureza sexual dos anjos. Os teólogos reformados não conseguiam dormir pensando
em qual teria sido a ordem lógica dos decretos de Deus. Os supralapsarianos (supra
= antes + lapso = queda) entendiam que o decreto da predestinação ocorrera
antes da queda. Para os infralapsarianos (infra = abaixo, depois) o decreto da
predestinação deve se situar depois da queda. Coisa muito útil.
Entre
os luteranos a coisa descambou para outro lado. As conclusões de Galileu a
favor do heliocentrismo, por exemplo, deixaram Valentin Ernst Löscher com uma
baita dor de cabeça. Ele defendeu que o que se chama “escolástica luterana”,
propondo uma reformulação da metafísica de Aristóteles. Löscher achava que as
observações feitas por meio dos telescópios não eram confiáveis, afinal foram
feitas pelos olhos de um pecador (!). Lessing deu boas risadas desse argumento.
Houve ainda uma certa obsessão por confissões doutrinárias. Sobraram discussões
a respeito da ceia, da união hipostática e da predestinação.
Século
XXI e de modo geral os protestantes continuam obcecados por doutrina. E pensar
que mesmo o Jesus do kerigma, aquele anunciado por seus seguidores nas linhas
dos evangelhos, não se mostrava preocupado com formulações teológicas
sofisticadas e rígidas. Em uma de suas falas enfatizou que não se deve colocar
a doutrina acima do homem: “o sábado foi feito para o homem e não o homem para
o sábado”. Foi humanista antes do humanismo. Mataram-no.
Jones
F. Mendonça
Uma das melhores coisas que fiz na vida foi deixar de ser cristão (católico). Aquelas insuportáveis discussões sobre o Vaticano II... Deus me livre. Melhor viver assim, com a fé em Deus do meu jeito, sem sacerdote, sem bíblia, sem crucifixo.
ResponderExcluirPior é que hoje me consideram muito mais "cristão" do que as pessoas ao meu redor, logo eu, beirando o agnosticismo! É que talvez enxerguem em minhas atitudes o que se esperaria de um cristão "clássico", algo que não se vê muito hoje em dia.
Muito bom seu comentário meu caro. Tenho apenas uma objeção.
ResponderExcluirO problema, pelo menos para mim, enquanto Luterano, é que se a doutrina não for clara as pessoas começam a confundir as coisas.
No mundo de hoje várias doutrinas são divulgadas massivamente, seja na TV, revistas, livros, internet, etc.
Se um Luterano, por exemplo, começa a ouvir o papo evangelical americano do "nascer de novo" ele simplesmente passará a negar o batismo infantil com o tempo e se bobear vai querer até se rebatizar.
É claro que as discussões tem seus limites, mas acho importante o enfoque teológico para que as pessoas não comecem a confundir as coisas e o pior, não comecem a levar idéias de igrejas de fora pra dentro de suas igrejas.
Partilhamos em comum a fé em Cristo. Os adereços, cada um tem os seus e um não precisa emprestar do outro, o que cada um tem já é o bastante.
Até...
Carlos L