Na
Bíblia hebraica reis, sacerdotes e profetas geralmente são tratados com
respeito. Mas nos chamados “livros proféticos” as manifestações críticas às
cerimônias religiosas mortas e aos líderes mercenários e egoístas são abundantes.
Amós, por exemplo, critica sem pudor os reis (e suas esposas, aquelas “vacas”,
cf. 4,1), sacerdotes e até profetas.
Isaías
critica os jejuns artificiais e os cultos hipócritas (1,13-14; 58). Denuncia os
crimes cometidos pelos “príncipes rebeldes e companheiros de ladrões” (1,23). O
profeta enxerga o Israel de seu tempo como sendo composto por pessoas muito
preocupadas com o “culto solene” e ao mesmo tempo indiferentes aos desamparados
como órfãos e viúvas.
Oseias
não mede palavras para denunciar reis corruptos (5,1) e “sacerdotes assassinos que
matam no caminho para Siquém” (6,9). “Quero misericórdia e não sacrifícios”
(6,6), proclama o profeta, filho de Beeri.
Miqueias
acusa os “cabeças de Jacó” (líderes de Israel) de abominarem o juízo e
perverterem o direito (3,9). Chama os
sacerdotes de “interesseiros” e os profetas de “mercenários” (Mq 3,11).
Diante
da injustiça que toma conta de Israel, Amós expõe aos quatro ventos a
inutilidade das festas religiosas, das reuniões solenes, dos sacrifícios e dos
cânticos, tornados desprezíveis diante de um cenário no qual impera o suborno, os
pesados tributos sobre o pobre e o abandono dos necessitados à porta (5).
Malaquias,
conhecido apenas pelo versículo “trazei todos os dízimos à casa do tesouro”
(3,10), faz graves denúncias aos sacerdotes que “tropeçam na lei” (2,8) fazendo
acepção de pessoas (2,9). Vaticina que o
excremento dos animais sacrificados será lançado em seus rostos e que serão
considerados tão imundos quanto esses dejetos fétidos (2,3, cf. Lv 4,11).
Hoje
você denuncia aquele “profeta ladrão”, aquele “sacerdote explorador”, aquele “rei
ungido” que usa a política para manipular fiéis ingênuos, aquele “levita” que
enriquece às custas de fãs transloucados e é tido como herege. Dois mil anos e
pouca coisa mudou...
Jones
F. Mendonça
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