Os livros de história do cristianismo geralmente
fazem referência a dois grandes cismas (separação, fenda) ocorridos no
cristianismo: o Grande Cisma do Oriente
(1054) e o Grande Cisma do Ocidente
(1378-1417). O primeiro deu origem à igreja ortodoxa grega e o segundo teve
caráter temporário, marcado pela existência simultânea de dois papas: um em Roma e outro em Avignon, na França (há quem fale em três!).
Mas o primeiro grande cisma ocorreu já nos
primeiros séculos, em decorrência de divergências a respeito da formulação do
dogma cristológico firmado em Calcedôdia
(451) que declara a dupla natureza de Cristo (divina e humana). Alguns grupos de cristãos, principalmente da
Palestina, Síria e Egito, inclinados ao monofisismo
(insistiam numa só natureza de Cristo após a encarnação), repudiaram a doutrina
da “união hipostática” (unidade da pessoa de Cristo em duas naturezas) e
formaram as chamadas igrejas “não-calcedonianas”:
a igreja armênia, a igreja copta e a igreja sírio-jacobita. A controvérsia ganhou o nome de “cisma acaciano”, uma referência ao patriarca
Acácio de Constantinopla, autor de um documento que visava solucionar a
controvérsia monofisista. A ambigüidade do texto acabou expondo Acácio à
excomunhão e contribuindo para acentuar as diferenças entre Roma e
Constantinopla.
Por terem se mantido fiéis à doutrina adotada
pelo imperador romano (apesar de situados geograficamente no Oriente), um grupo
de cristãos sírios ganhou o apelido pejorativo de melquita (maliki, em
árabe; melekh, no siríaco e no
hebraico = rei).
É importante frisar que o cristianismo nunca
experimentou plena unidade. Paulo em
sua carta aos Coríntios já se mostrava
incomodado com a existência de grupos com tendências diferentes:
...cada um de vós diz: eu sou de Paulo; ou, eu de Apolo; ou eu sou de Cefas; ou, eu de Cristo. Será que Cristo está dividido? (1Co 1,12-13)
Este registro feito por Paulo revela a tendência
dos fiéis em seguirem os fundadores das comunidades das quais faziam parte. Comunidades
cristãs estabelecidas no Oriente pelos demais discípulos desenvolveram
patrimônio litúrgico e teológico próprios ao longo dos primeiros séculos, constituindo
um enorme obstáculo para a unidade da Igreja.
Parte dos melquitas, separados de Roma em 1054
juntamente com os ortodoxos, reconciliou-se com o papado no ano de 1684. São chamados de uniatas: praticam o rito oriental, liderados por um
patriarca, mas são filiados à igreja católica. Como minoria na Síria, os
melquitas tendem a apoiar o governo de Bashar
al Assad, uma vez que o ditador
garante a liberdade religiosa no país.
Jones F. Mendonça
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