Teófilo Eusébio. Quarenta e dois anos. Casado.
Pai de dois filhos. Crise da meia idade e ele reflete sobre a religião herdada
de seus pais. Sempre pensou que sua conversão ocorrera devido à aceitação de
uma doutrina. Invertendo santo Anselmo pensava buscar "compreender para crer". Uma decisão baseada na razão, portanto. Começou a achar que estava
enganado.
Tratou de pensar que o indivíduo que adere a uma
religião faz isso sem conhecer suficientemente seus fundamentos. No caso do
cristianismo, por exemplo, em primeiro lugar o sujeito declara seu desejo de
participar do grupo de fé (não resiste ao apelo e “levanta a mão” no culto ou
explicita seu desejo ao pastor). Tal decisão – pensa - não pode ser racional. Num
segundo momento ele aprende os dogmas, os códigos morais, a linguagem religiosa,
a liturgia... E então começam as dúvidas, as perguntas, as inquietações.
A decisão primária parte de uma crise
existencial e não de um julgamento racional. A razão só é acionada depois. Trata-se
de uma razão manca, é verdade, mas que se esforça para justificar sua crença
aos ateus, aos agnósticos, aos deístas e membros de outras religiões e a si
mesmo. No âmbito protestante tal tarefa cabe à apologética. Entre os católicos
à teologia fundamental.
O Teófilo do Evangelho de Lucas (Lc 1,3), xará
do nosso personagem, parecia buscar razões mais sólidas para a fé que acabara
de aderir: fides quaerens intellectum
(a fé em busca de entendimento), como gostava de dizer Agostinho, teólogo que se
esforçou para apresentar o cristianismo nos termos da filosofia platônica. Na
escolástica foi a vez de Tomás de Aquino, impulsionado pala lógica aristotélica.
A filosofia dava seus trotes sob o pulso firme da teologia: Agostinho abraçado
a Platão, Aquino empoleirado em Aristóteles.
No século XX a “fé que busca compreender” ganhou
ares sofisticados e linguagem quase hermética. Alguns deles inspirados num novo
princípio hermenêutico: o existencialismo de Heidegger. Assim foi com Bultmann
e Tillich. Amparada na teoria da evolução de Darwin apareceu Teilhard de
Chardin e sua cristologia cósmica. E outros, como Bonhoeffer (secularização),
von Buren (neopositivismo), Moltmann (filosofia da esperança de E. Bloch), etc.
As Escrituras lidas e interpretadas com as lentes das filosofias e cosmovisões do
século XX. A velha apologia renovada com Botox e bisturi.
Teófilo Eusébio leu todos esses teólogos em
busca de uma justificativa racional para sua fé. Não encontrou. Debruçou-se
sobre os livros de Craig e Plantinga, atuais ícones da apologética cristã. Pura
ilusão. Quer saber se tornou ateu? Não, não se tornou. Continua indo aos cultos onde
dirige um pequeno coral. Participa dos sacramentos. Encanta-se com a
arquitetura das igrejas góticas. Distribui de sopa aos sem teto.
Não faz isso para herdar o céu o por medo do inferno. Mantém–se ligado à religião
porque de alguma forma ela o atrai (sim, ele se vê como uma mariposa ao redor
de uma lâmpada acesa). Gosta de religião como gosta de olhar a lua ou o dorso
de uma mulher. Talvez seja ingênuo. Talvez seja um niilista como supôs
Nietzsche. Talvez seja um neurótico como defendia Freud. Talvez a religião seja
para ele uma espécie de ópio como dizia Marx.
Talvez...
Jones F.
Mendonça
talvez seja a beleza do edifício, como uma escada de Jacó, daquele que lutou contra o indizível. beleza entre todas as belezas.
ResponderExcluirtalvez seja a força do mito, como um sacrifício supremo, o sangue inocente purificando o mundo.Mito entre mitos
talvez seja uma promessa, como a feita a David, uma promessa absurda em qualquer escala cósmica e que agora se tornou incontáveis nações. A grande dominação sobre ovelhas
talvez o espírito humano caminhe rumo ao céu, à morte e a ilusão tudo ao mesmo tempo, nos últimos 4.000 anos e dentro de cada alma. És os livro entre os livros!
Se o indivíduo levanta a mão no culto sem entender, conforme o comentário assim descreve, e o Próprio comentário ainda afirma que tal decisão fora em razão de uma crise existencial.Talvez, sim. O Próprio Messias disse que não veio para os são, e sim para os que se encontravam enfermos...
ResponderExcluirPara compreender os mistérios de Deus e interpretar as Escrituras sagradas, é necessário ter uma Fé salvífica e o Espírito Santo.