quarta-feira, 16 de junho de 2010

JUDEUS ORTODOXOS PROTESTAM CONTRA VIOLAÇÃO DE TÚMULOS

O The Jerusalém Post divulgou nesta quarta (16-06-10) a seguinte notícia (a tradução é do Numinosum):

“Centenas de judeus ortodoxos foram envolvidos em violentos tumultos em Jaffa nesta quarta-feira, em Rehov Louis Pasteur em torno do local onde está sendo feita uma escavação arqueológica.   Quinze manifestantes foram detidos.

Os judeus ortodoxos consideram que a obra
profana a santidade de ossos antigos no local. O Rabino Tuvia Weiss, líder rabínico sênior do Eda Haredit Badatz (tribunal rabínico), encorajou os manifestantes a lançarem uma maldição contra os que trabalham no local”. 

O Haaretz diz que os manifestantes chamaram a polícia de “nazistas” e “assassinos”, enquanto um oficial negro sofreu insultos racistas.

Os manifestantes atacaram os policiais com
pedras e tijolos e também atearam fogo em latas de lixo. Ao todo cinco policiais, dois fotógrafos e um repórter da Rádio Israel ficaram feridos.

Para saber mais sobre protestos de judeus ortodoxos contra escavações em supostos cemitérios judaicos, clique aqui.

A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO

Atendendo o pedido de Valéria Costa:


Reconstruir eventos que ocorreram há mais de dois mil anos nem sempre é algo fácil. No que diz respeito ao Antigo Testamento, são inúmeras as dificuldades para que sejam identificadas  cidades, elevações, poços, cursos d’água, etc. A tentativa de encontrar a verdadeira localização do Mar Vermelho, por exemplo, enfrenta inúmeros problemas.

O primeiro deles é que o Antigo Testamento não cita Mar Vermelho, mas Mar dos Juncos (do hebraico yam suf). Quando a Bíblia foi traduzida para o grego, alguns séculos antes de Cristo, os tradutores entenderam que o tal Mar dos Juncos era o Mar Vermelho, por isso essa tradução se tornou corrente em nossas Bíblias.

Mas afinal, onde foi o local da travessia? Um arqueólogo adventista amador chamado Ronald Wyatt apresentou o que supôs serem provas da localização exata da travessia, mas não ele possui qualquer credibilidade entre os arqueólogos profissionais. As provas que ele alegou possuir jamais foram confirmadas por especialistas sérios. Recentemente (26-04-10) um grupo de amadores, como Wyatt, alegou ter descoberto a arca de Noé no Ararat. O assunto foi amplamente divulgado na mídia (apresentaram até fotos da suposta arca), mas até momento nenhuma prova foi apresentada (Clique aqui para ler o artigo que publiquei no Numinosum).

Fica a dúvida, o Mar dos Juncos é uma referência aos lagos amargos (na extremidade do Golfo de Suez, no Mar Vermelho) ou ao Golfo de Aqaba? A grande verdade é que até hoje ninguém conseguiu provar onde se deu a travessia. Um livro equilibrado e honesto sobre o assunto é “A história de Israel” de John Bright.

Outro problema é a localização do Monte Sinai. Ele é tradicionalmente situado na Península do Sinai, no Egito, mas há quem proponha a região de Mídiã, na margem oriental do Golfo de Áqaba. Recentemente um arqueólogo israelense tentou provar que na verdade o Sinai (ou Horebe) fica no deserto do Neguev, em Israel. Na minha opinião tudo não passa de uma tentativa de atrair os turistas do Egito para Israel (Clique aqui para ler o artigo publicado no Numinosum).

Situe-se geograficamente observando o mapa abaixo:
Há ainda um terceiro problema envolvendo os israelitas do Êxodo. A Bíblia fala de seiscentas mil pessoas saindo do Egito, sem contar as crianças (Ex 12,37). Por causa disso muitos supõem que o número de israelitas chegava a três milhões de pessoas. Acontece que o tempo de estadia dos israelitas no Egito não foi suficiente para que chegasse a um número tão alto. É bem provável que aqui também tenha ocorrido um erro de tradução. A palavra hebraica elef, traduzida por mil ou milhares, também pode ser traduzida por clã ou agrupamento de uma tribo. A tradução ficaria assim: “Assim viajaram os filhos de Israel de Ramessés a Sucote, cerca de seiscentos clãs de homens à pé, sem contar as crianças”. Assim, o número de pessoas seria bem menor. Isso explicaria a ausência de vestígios arqueológicos no itinerário percorrido pelos hebreus. Caso o número de pessoas fosse tão grande (cerca de três milhões) certamente teriam deixado marcas pelo caminho.

Apesar de não haver provas concretas a respeito da travessia do Mar Vermelho (ou dos juncos), a arqueologia pode nos ajudar em outros casos.

A invasão de Israel pelos assírios foi muito bem documentada nos anais de Sargão, soberano assírio. O documento fala da deportação de 27.290 samaritanos (ver 2 Rs 15,29).

A Estela de Merneptáh, documento egípcio do século XIII a.C. cita a cidade de Israel. É o documento mais antigo que fala da existência de um povo conhecido como Israel. A estela encontra-se atualmente no Museu do Cairo.

Em 1993 os arqueólogos encontraram num sítio conhecido como Tel-Dan, um monumento de basalto negro (ficou conhecido como Estela de Tel-Dan), que cita a existência de uma “Casa de Davi”, ou seja, de uma dinastia cujo fundador levava esse nome. 

Outro achado arqueológico importante é a Pedra Moabita, que registra a conquista de Moabe por Omri, rei de Israel (Reino do Norte). Atualmente a pedra encontra-se em exposição no museu do Louvre, em Paris.

O cilindro de Ciro, um artefato cilíndrico, registra a autorização deste soberano para que os povos exilados na Babilônia retornem para suas terras (ver Esd 1,2-3). O artefato está atualmente no Museu Britânico, em Londres.

Por fim, foi descoberto em 1880 o túnel de Siloé, que ficou conhecido como Túnel de Ezequias (ver 2 Rs 20,2; 2 Cr 32,2-4). Nele foi encontrada uma inscrição em hebraico que descreve a construção do túnel.

Você encontrará informações confiáveis sobre arqueologia bíblica nos seguintes sites:





Todos os sites são em inglês, mas caso você não domine o idioma, use o tradutor do google.

terça-feira, 15 de junho de 2010

USAR CAMISA DE CHE GUEVARA SERÁ CRIME NA POLÔNIA

O Le Monde anunciou ontem que uma nova lei aprovada na Polônia pune com dois anos de prisão qualquer pessoa que promova símbolos comunistas, nazistas e fascistas. As lojas que comercializam camisas com a estampa de Che Guevara serão diretamente afetadas.

O diário esquerdista Krytyka Polityczna e a Aliança Democrática de Esquerda [SLD, fundada em 1999 por antigos membros do Partido Comunista], apelou contra a nova lei perante o Tribunal Constitucional.

Você pode ler mais sobre o assunto aqui e aqui.

JUDEU COMPARA GAZA AOS GUETOS NAZISTAS

 Por Jones Mendonça

Venho acompanhando o conflito árabe-israelense há alguns anos e fico estarrecido ao perceber que a maioria quase que absoluta dos Blogs ditos evangélicos  defende Israel a qualquer custo. São pessoas que enxergam o mundo em duas cores. Para eles há apenas duas forças que lutam entre si, os palestinos e os israelenses. E só! Os palestinos, é claro, são os bandidos. Os israelenses os mocinhos. Mas a coisa não é tão simples assim.

No meio dessa guerra insana, na qual estão envolvidos o Irã, os EUA, Israel, o Líbano, grupos terroristas, etc., há um grupo que não tem voz na mídia e que é pouco lembrado: os refugiados palestinos. De cada quatro habitantes de Gaza, três são refugiados, expulsos de suas casas em 1948 pelos israelenses, ou descendentes desses palestinos  expulsos. Hoje os palestinos de Gaza não tem pátria, nem raízes, nem tratamento médico, nem comida, nem dignidade!

Diariamente leio as manchetes dos jornais israelenses Haaretz, The Jerusalém Post e Arutz 7 tentando compreender como os judeus enxergam esse conflito. Ao contrário do que muita gente pensa, há muitos judeus indignados com a politica do governo israelense. São pessoas que amam seu povo e sua terra, mas não querem compactuar com as medidas autoritárias, inflexíveis e cruéis de Israel.

O Haaretz publicou no dia 11-06-10 uma matéria escrita pelo judeu Henry Siegman, ex-chefe executivo do Congresso Judaico Americano. No artigo esse corajoso e lúcido judeu denuncia a política israelense em relação à Gaza comparando-a com o holocausto nazista. Referindo-se ao cerco de três anos imposto à região ele diz (a tradução é do Numinosum):
 “Um milhão e meio de civis foram forçados a viver em uma prisão a céu aberto em condições desumanas durante mais de três anos, mas ao contrário da época de Hitler eles não são judeus, mas palestinos. Seus carcereiros, incrivelmente, são sobreviventes do Holocausto ou seus descendentes. Naturalmente os reclusos de Gaza não são enviados para as câmaras de gás como os judeus, mas eles foram reduzidos a uma existência degradada e sem esperança”.
Outro protesto judaico contra o bloqueio a Gaza veio do Jüdische Stimme für gerechten Frieden in Nahost (Uma Voz Judaica para a Paz no Médio Oriente). O grupo diz representar “a grande voz alternativa dos judeus na Europa”, e entende que o bloqueio a Gaza “é um ato altamente imoral, que obriga as pessoas a viverem nas ruínas de suas casas”.

Enquanto isso alguns evangélicos alienados continuam vendo o mundo em preto e branco. Penso que Deus estará sempre do lado dos oprimidos, independentemente de raça, nacionalidade, religião ou sexo. Na segunda guerra mundial eram os judeus os perseguidos e infelizmente poucos cristãos tiveram coragem de criticar as atrocidades cometidas pelo regime nazista. Atualmente grande parte dos cristãos se cala diante de uma situação muito parecida. A história se repete...


Para ler mais sobre o conflito na Palestina, clique aqui:

FOTOS DA COPA DE 2010 EM ALTA RESOLUÇÃO

O site boston.com publicou uma série de imagens de pessoas ao redor do mundo assistindo aos jogos da copa. Há uma foto que mostra soldados britânicos no Afeganistão com os olhos vidrados na TV. É interessante perceber como o futebol tem o poder de parar boa parte do mundo. Para ver as fotos clique aqui.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O ESTRANHO CASO DE JÓ 2,9: BÊNÇÃO (BARAK) OU MALDIÇÃO (QALAL)?

Por Jones Mendonça

No livro de Jó há um caso muito singular onde uma palavra hebraica é intencionalmente traduzida pelo seu significado oposto. Antes de partir para a explicação desse caso tão estranho e enigmático, é preciso ler alguns textos desse livro que é um dos mais belos exemplos da sabedoria hebraica.

A história é bem conhecida, Jó, um servo fiel e justo, tem sua vida posta ao avesso após ser atingido pelas mais terríveis desgraças. Tudo começa após Satanás pôr em dúvida a fidelidade desse servo de Deus, que era rico, saudável e possuidor de uma bela família. Satanás argumenta que Jó só é fiel por causa das bênçãos (barak) que Deus lhe concedeu:
Abençoaste (barak=bênção) a obras das suas mãos e seus rebanhos cobrem toda a região (Jó  1,10).
No versículo acima a palavra hebraica barak foi traduzida de acordo com o seu sentido original, bênção. Mas note que no texto abaixo essa mesma palavra recebe um significado completamente oposto. Neste texto Jó está justificando os holocaustos diários que fazia:
Talvez meus filhos tenham cometido pecado, maldizendo (barak=bênção) a Deus em seu coração (Jó  1,5).
Ora, traduzir barak por bênção neste texto não faz nenhum sentido. Como os filhos de Jó poderiam ter cometido pecado contra Deus lhe bendizendo? O texto hebraico traz “bênção”, mas a tradução traz “maldição”. Estranho! Um outro exemplo é a frase dita pela mulher de Jó, que após não ver mais esperança para seu marido diz:
Amaldiçoa (barak) teu Deus e morre duma vez!” (Jó 2,9). 
Como no texto anterior, o contexto pede a palavra maldição e não bênção. Mas porque os tradutores não foram fiéis ao texto hebraico?

A explicação mais provável é a de que os copistas judeus tenham trocado a palavra original para que o nome de Deus (Elohim) não ficasse ao lado da palavra maldição (qalal). Assim, ao invés da forma original e mais antiga do texto, qalal elohim vamut (amaldiçoa teu Deus e morre), surge a forma barak elohim vamut (abençoa teu Deus e morre). Os tradutores, percebendo essa adulteração intencional, retornaram ao que seria a forma original do texto.

Na imagem abaixo vemos o texto de Jó 2,9 em hebraico, onde a palavra barak (em vermelho=bênção) aparece ao lado da palavra elohim (em azul=Deus):

Essa forma, presente nos atuais manuscritos disponíveis, seria uma adulteração do texto original perdido.

Sei que algumas pessoas tem muita dificuldade em aceitar que um copista tenha tido coragem para mudar palavras do texto bíblico já que é famoso o extremo zelo que tinham pelas Escrituras Sagradas. Mas ao que parece o zelo pelo nome divino era algo que estava acima de qualquer coisa.

Para ler mais curiosidades sobre o texto bíblico, clique aqui.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

JOÃO, O EVANGELHO DOS SETE SINAIS

O Evangelho de João é bem diferente dos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Ele não pretende enfatizar, como Mateus, que Jesus é o messias prometido pelas Escrituras judaicas (ver Mt 2,15; 2,17; 2,23; 3,4; 4,14; 8,17, etc). Não tem o caráter emergencial de Marcos, que resume tanto a história de Jesus que seu evangelho tem quase a metade do tamanho de Mateus. Tampouco é, como Lucas, uma carta escrita para explicar a mensagem de Jesus a um  gentio (ver Lc 1,1-4). João quer provar que Jesus é o filho de Deus. Para isso apresenta sete sinais capazes de deixar isso bem evidente:
1) Transforma água em vinho (Jo 2,9.11)
2) Cura o filho de um funcionário real (Jo 4,54)
3) Cura um paralítico (Jo 5,7-8)
4) Multiplica os pães (Jo 6,11.14)
5) Caminha sobre as águas (Jo 6,19)
6) Cura de um cego (Jo 9,7)
7) Ressuscita Lázaro (Jo 11,44.47)
Por causa disso João acabou ficando conhecido como o Evangelho dos sete sinais. No final do seu evangelho podemos ler: "Jesus [...] operou também [...] muitos outros sinais [...] Estes, porém, foram escritos para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu nome" (29,30- 31).

quarta-feira, 9 de junho de 2010

LIVRO: O FILHO DO HAMAS

YOUSEF, Mosad Hassan. O filho do Hamas. Rio de Janeiro: Sextante, 2010, 288 p.

Filho do xeque palestino Hassan Yousef, um dos sete fundadores do Hamas, Mosab Hassan Yousef é o autor do livro “Filho do Hamas” (Sextante), que chegou às livrarias brasileiras no mês passado.

Depois de ser preso pelos soldados israelenses por porte de armas, em 1996, Yousef foi levado à prisão em Megiddo, Israel. Ele começou a questionar os ideais do Hamas após presenciar a tortura imposta por seus líderes àqueles que eram vistos como suspeitos de dar informações aos israelenses.

Diante do desgosto provocado pelo que viu na prisão, Yousef se tornou espião do Shin Bet (grupo de inteligência israelense) e se converteu ao cristianismo. Desde então passou a ser visto como traidor pelos muçulmanos.

Não há como negar que o tema do livro é bem interessante. Não é todo o dia que vemos um fundamentalista islâmico se convertendo ao cristianismo. O fato de ter se tornado um espião israelense torna toda essa aventura ainda mais fantástica.

Apesar de todo o encanto que a história pode despertar, há algumas coisas que me deixaram decepcionado.

Veja por exemplo o que disse Yousef numa conversa que teve por telefone com o repórter Duda Teixeira, da Revista Veja, de Nova York.
Agora que você se converteu ao cristianismo, como enxerga as diferenças entre o Corão e a Bíblia? Não é justo comparar os dois livros. O Corão está cheio de ódio, de ignorância, de erros. Não tem ética. É um livro doente que deveria ser banido das escolas, das bibliotecas, das mesquitas [...] Os dois livros têm deuses completamente diferentes. Um, o do Islã, é o do ódio. O deus da Bíblia é o do amor”.
Declarações desse tipo certamente só vão despertar mais ódio contra os cristãos. Também não concordo que o Corão está creio de ódio, de ignorância e de erros. Esses adjetivos devem ser direcionados para os fanáticos do islã e não para o seu livro sagrado, que é deturpado e acordo com os interesses escusos de uma minoria de sádicos. Gosto que respeitem minha religião. Gosto de respeitar a dos outros.

Numa outra entrevista, concedida ao vice-editor administrativo do Christianity Today, Timothy C. Morgan há outra declaração que não me agradou. A tradução é do Numinosum:
Os cristãos têm um papel importante no movimento em direção à paz no Oriente Médio? O problema palestino é muito maior do que não ter um Estado. Um Estado palestino não vai resolver o problema palestino. Precisamos mostrar a importância do nosso papel como cristãos”.
Fica parecendo que a conversão dos palestinos irá resolver todos os problemas de um povo oprimido pelos radicais islâmicos, pelo Irã, pelos Estados Unidos e por Israel. Soluções simplistas e inocentes só servem para perpetuar a opressão imposta a pessoas que só querem uma terra para cultivar, um teto para dormir, e uma nação para amar.

Nosso papel  como cristãos deve ser o de denunciar a injustiça, tanto a dos radicais islâmicos, como a de Israel. As maiores vítimas dessa história são os que vivem em campos de refugiados, amargando como os embargos, com os homens bombas e com a demagogia políticas dos líderes mundiais.

Efatá!

terça-feira, 8 de junho de 2010

POR QUE NÃO SOU CALVINISTA

Por Jones Mendonça

Para Calvino todas as pessoas sempre acabam cumprindo os decretos divinos. Segundo sua doutrina, os eleitos receberam de Deus uma disposição para fazer isso por amor. Mas é preciso estar atento ao seu ensino, Deus só recebe o amor daqueles que foram capacitados para amá-lo. Sem a graça de Deus isso seria impossível. Resumindo, se Deus capacitou você para amá-lo, vai necessariamente amá-lo e cumprir Sua vontade.

Os ímpios, por outro lado, como não receberam essa disposição, odeiam sua vontade, mas paradoxalmente acabam cumprindo os seus santos desígnios mesmo sem saber ou querer. Resumindo, se Deus não predestinou você a amá-lo, isso jamais vai acontecer.

É uma doutrina bem estranha essa de Calvino. Debrucei-me sobre as Institutas na tentativa de compreender tal disparate. Ora, eu me perguntava, como responsabilizar Judas pela traição de Jesus se isso já fazia parte do plano divino? Cairíamos no absurdo de transferir para o discípulo suicida o louvor da redenção. Mas lá no finalzinho do primeiro volume da sua magistral obra, Calvino explica a questão citando Agostinho de Hipona, filósofo do século IV d.C.:
"Deus não indaga o que os homens têm podido, ou o que têm feito, porém o que têm querido, de sorte que o que se leva em conta é o propósito e a vontade"[1].
Trocando em miúdos, o que Calvino quer dizer é o seguinte: Judas cumpriu sim os propósitos divinos, mas o que contou foi sua intenção, que era perversa. Sua atitude se torna assim indesculpável. Aliás, para Calvino até mesmo os assassinos cumprem os propósitos de Deus. Nada foge a sua absoluta soberania, nem mesmo Satanás. No seu livro O Ser de Deus e as suas obras: a providência e sua realização histórica, o calvinista Heber Carlos de Campos declara com todas as letras que
"Satanás é o trabalhador-capataz mais terrível que o Senhor tem. Todavia, somente aqueles que crêem na soberania divina é que podem compreender a seriedade e a veracidade dessa afirmação"[2].
Satanás, "trabalhador-capataz" de Deus... nossa, isso é bem duro de engolir! De qualquer forma confesso que admiro a capacidade de argumentação de Calvino. Sua lógica é perfeita, sua erudição admirável. Mas tenho muita, mas muita dificuldade em conceber um Deus assim. A existência humana simplesmente deixa de ter sentido. Fico a me perguntar, por que orar se todas as coisas já estão previamente determinadas?

Tenho encontrado respostas melhores a essas questões na teologia de Carl Barth e Paul Tillich. Outras soluções interessantes tem sido propostas pelos teólogos brasileiros René Kivitz e Ricardo de Gondim.

Caso queira conhecê-las, clique aqui.

Notas:
[1] CALVINO, João. Institutas – Edição clássica (latim), Livro I, cap. XVIII, 2007, p. 237.
[2] CAMPOS. Heber Carlos de. O Ser de Deus e as suas obras: a providência e sua realização histórica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p.17.

ONDE BAIXAR APÓCRIFOS NAS LINGUAS ORIGINAIS (GREGO, ÁRABE E LATIM)?

Sempre tive curiosidade pelo conteúdo dos livros apócrifos. Depois de ler muitos textos na internet acabei comprando uma coleção deles (Antigo e Novo Testamento) presentes na seguinte obra:
PROENÇA, Eduardo de (org.). Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
 Minha única decepção é que nesta publicação não há nenhuma informação sobre os livros, tais como autoria, data da composição, comentários, etc. Outra coisa que não me agradou é que os textos são uma tradução do inglês e eu gostaria algo mais fiel aos originais. De qualquer forma a aquisição valeu a pena. O livro estava numa promoção e saiu por uma ninharia.

Comecei então uma jornada por comentários sobre os apócrifos. Achei quatro (em espanhol):
MACHO, Diez. Apócrifos del Antiguo Testamento.
MARTÍNEZ, F. García; PÉREZ, G. Aranda. Literatura judía intertestamentaria. Estella: Editorial Verbo Divino, 1996.
OTERO, Aurelio de Santos. Los Evangelios Apocrifos. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2005.
VIELHAUER, Philipp. Introducción al Nuevo testamento los apócrifos y los padres apostólicos. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1991.
Não satisfeito saí em busca dos manuscritos originais na internet. Digitando palavras chave, tais como "apócrifos/idiomas/originais"; "apócrifos/grego/manuscritos", "apócrifos/latim/manuscritos", etc., não encontrei nada. Tentei as mesmas palavras chave em inglês, espanhol, alemão, francês, italiano... nada!

Finalmente, depois de garimpar muito, acabei encontrando o site de Tony Burke. Ele traz uma lista de links que leva a um site onde é possível baixar trabalhos antigos contendo os apócrifos nos idiomas originais. Alguns deles produzidos pelo linguista Constantin Von Tischendorf, descobridor do Codex Sinaiticus.  Não acreditei no que estava vendo. ãoMas eu ainda não dei a melhor notícia, as obras são comentadas e gratuitas para baixar já que caíram em domínio público!

Faça um bom proveito:

I. Coleções e Edições (em ordem cronológica)
Fabricius, J. A.  Codex apocryphus Noui Testamenti, vol. 1. Hamburg 1703.


Hone, William. The Apocryphal New Testament. London  1820.

Thilo, J C. Codex apocryphus Novi Testamenti, vol. 1. Leipzig 1832.


TISCHENDORF, Constantin von. De evangeliorum apocryphorum origine et usu. The Hague 1851 (repr. in Synopsis Evangelica, Leipzig 1854).

TISCHENDORF, Constantin von. Acta apostolorum apocrypha. Leipzig 1851.

TISCHENDORF, Constantin von. Apocalypses apocryphae. Leipzig 1851.

Giles, J. A.  Codex Apocryphus Novi Testamenti. The Uncanonical Gospels and Other Writings, Referring to the First Ages of Christianity. Vol. 1. Vol. 2. London 1852.

Tischendorf, Constantin von. Evangelia apocrypha. Leipzig 1853 (2nd ed. 1876).

Migne, J. P. Dictionnaire des Apocryphes. Vol. 1. Vol. 2. Paris 1856-1858.




Wright, W. Apocryphal Acts of the Apostles, Edited from Syriac Manuscripts in the British Museum and Other Libraries. Vol. 1; Vol. 2. London, 1871.

Walker, A. Apocryphal Gospels, Acts and Revelations (The Ante-Nicene Christian Library 16) Edinburgh 1873 (repr. in The Ante-Nicene Fathers, vol. 8, A. CLEVELAND COXE, ed., Buffalo 1806).

Lipsius, R. A. Die apokryphen Apostelgeschichten und Apostellengenden,Vol. 1, Vol. 2.1, Vol. 2.2 Ergänzungsheft. Braunschweig 1883-1890.

Lipsius, R. A. and M. Bonnet. Acta apostolorum apocrypha post Constantin Tischendorf. Leipzig 1891.

James, M. R. Apocrypha anecdota. A Collection of Thirteen Apocryphal Books and Fragments. Cambridge 1893. (featuring Vision of Paul, Acts of Xanthippe and Polyxena, Story of Zosimus, Apocalypse of the Virgin,Apocalypse of Sedrach, Acts of Philip, and a Description of the Anti-Christ in Latin).

Robinson, Forbes. Coptic Apocryphal Gospels. Cambridge 1896 (featuring Transitus Mariae, History of Joseph, and various fragments).

James, M. R. Apocrypha anecdota. Second Series vol. 5. Cambridge 1897.featuring Acts of John, Acts of Thomas, Epistles of Pilate and Herod,Epistle of Tiberius to Pilate).

Gibson, Margaret Dunlop. Apocrypha Siniatica. Cambridge 1896 (featuring Anophora Pilati, Recognitions of Clement, Martyrdom of Clement, Preaching of Peter, Martyrdom of James Son of Alphaeus,Preaching of Simon Son of Cleophas, Martyrdom of Simon Son of Alphaeus).

Gibson, Margaret Dunlop. Apocrypha arabica. Cambridge 1901 (featuringKitab al Magall or the Book of the Rolls, Story of Aphikia, and Cyprian and Justin).




Budge, E. A. Wallis. Coptic Apocrypha in the Dialect of Upper Egypt. Oxford 1913 (featuring the Book of the Resurrection by Bartholomew, the Life of Bartholomew, Repose of John, Mysteries of John, and Life of Bishop Pisentius by John the Elder).

Budge, E. A. Wallis. Coptic Martyrdoms in the Dialect of Upper Egypt. London, 1914.


II. Estudos gerais
Butler, Samuel. The Genuine and Apocryphal Gospels Compared. Shrewsbury 1822.
Donehoo, J. D.  The Apocryphal and Legendary Life of Christ. London 1903.

Haase, F. Apostel und Evangelisten in den orientalischen Überlieferungen. Neutestamenliche Abhandlungen 9. Münster, 1922.

Jones, Jeremiah.  A New and Full Method of Settling the Canonical Authority of the New Testament. London 1726 (repr.: London 1824).

Nicolas, M. Études sur les évangiles apocryphes. Paris 1866.

Pick, B. The Extra-Canonical Life of Christ, Being a Record of the Acts and Sayings of Jesus of Nazareth Drawn from Uninspired Sources. New York 1903.

Stowe, C. E. Origin and History of the Books of the Bible, Both the Canonical and the Apocryphal. Hartford, Conn.: Hartford Publishing Company, 1868.


III. Estudos e edições de textos específicos
* Abbeloos, Jean Baptiste. Acta Sancti Maris.Leipzig 1885.

Budge, E.A. Wallis, ed. and trans., The History of the Blessed Virgin Mary and the History of the Likeness of Christ, 2 vol. London 1899.

Cotteri

* De Lagarde, Paul. Didascalia apostolorum syriace. Leipzig 1854.

* Ephraem, Ignatius. Testamentum Domini Nostri Jesu Christi. Mainz 1899.
Genfell, Bernard P and Arthur S. Hunt. Fragment of an Uncanonical Gospel from Oxyrhynchus. Oxford 1908.

* Gibson, Margaret Dunlop. The Didascalia Apostolorum in Syriac. London 1903.



Klostermann, Erich. Apocrypha III: Agrapha, New Oxyrhynchus Logia.Cambridge 1905.

Mahan, W. D., M. McIntosh and T. H. Twyman. The Archko Volume, or The Archeological Writings of the Sanhedrin and Talmuds of the Jews . Philadelphia 1896.

Oppenheim, Gustav ed. and tr. Fabula Josephi asenethae apocrypha e libro syriaco latine versa. Berlin 1886.

* Phillips, George. The Doctrine of Addai, the Apostle. London 1876.

Taylor, Charles. The Oxyrhynchus Logia and the Apocryphal Gospels. Oxford 1899.