segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O CÉU DE AGOSTINHO

1. Em “A cidade de Deus”[1], obra do início do V século escrita por Agostinho de Hipona, uma série de razões são apresentadas para defender a reprodução como principal finalidade da relação matrimonial. O catolicismo preserva esse costume até hoje, por isso proíbe métodos contraceptivos.

2. Um dos argumentos de Agostinho baseia-se no conceito jurídico romano do liberum quaesendum causa, ou seja, no costume romano, oriundo da Lei das Doze Tábuas, segundo o qual a principal função da relação matrimonial é contrair filhos.

3. Além do direito romano, o teólogo africano também busca caracterizar as paixões sexuais como algo degradante e vergonhoso. Assim, ele apresenta dois argumentos em forma de pergunta.

4. O primeiro: Embora a geração de filhos seja algo lícito e honesto, o casal não busca um quarto afastado para concretizá-lo? O segundo: As carícias sexuais não são feitas longe dos paraninfos e familiares?

5. Em sua conclusão Agostinho cita Cícero, famoso orador romano: “todos os atos legítimos pretendem realizar-se em plena luz”. Ele acrescenta que seria muito bom se pudéssemos gerar filhos sem a libido, sem “as emoções inoportunas”.

6. Na cabeça de Agostinho a relação sexual ideal seria aquela realizada sem as paixões, de forma que os “órgãos criados para essa função” se submetessem ao espírito, como os demais membros do corpo, como os pés, as mãos e os dedos.

7. Chato esse mundo de Agostinho, não?

[1] Livro 2, XVI ao XVIII (veja também o XXIV).
* Agostinho geralmente é classificado como neoplatônico, mas no campo da moral boa parte da sua influência é estoica.


Jones F. Mendonça

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