Durante cerca de 1500 anos a Igreja dominou as rédeas da
interpretação. No século XVI Lutero desafiou a Igreja e inaugurou o “livre
exame”. A “verdade” do texto, antes una, tornou-se múltipla. São bem conhecidas
as farpas trocadas entre Lutero e Zwínglio a respeito da interpretação de Mt
26,26 (“isto é o meu corpo” →
simbólico ou literal?).
Herdeiros do “livre exame”, mas ainda obcecados pela
precisão das definições teológicas, os protestantes logo trataram de
enclausurar o livre exame nas chamadas confissões doutrinárias. A vocação
protestante para o cisma, para a divisão, talvez não seja produto da ausência
de um lastro, de uma autoridade única capaz de determinar a interpretação
correta, mas do medo doentio das lacunas, dos espaços em branco, das
incertezas.
A maldição protestante: quanto mais quer definir, mais se
divide.
Jones F. Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário