Deparei-me hoje com uma carta de Agostinho de Hipona escrita no início do 5º século. Atormentado pela insubmissão dos donatistas (seita cismática fundada
por Donato, bispo da Numídia), Agostinho acaba concluindo que medidas mais
duras devem ser tomadas no combate à heresia:
Na verdade, é melhor que os homens sejam levados a adorar a Deus através do ensino que por medo da punição ou da dor. Mas [...] muitos só são alcançados quando compelidos inicialmente pelo medo ou pela dor, para depois serem influenciados pelo ensino (Carta 185,6,21).
A inspiração vem de Pv 23,14, citado na carta logo a seguir:
“Quanto a ti, deves bater-lhe com a vara, para salvar-lhe a vida do inferno”[1].
(Na vulgata: tu virga percuties eum et animam eius de inferno liberabis)
Teria vindo dessa carta de Agostinho o famoso provérbio
popular: “Quem não vai a Deus pelo amor, vai pela dor?”
Nota: [1] No texto hebraico “sheol” é mundo dos mortos e não
inferno. A mensagem do provérbio é clara: “a vara não mata” (v. 13), mas, pelo
contrário, “livra a néfesh (=vida) do sheol” (=da morte, cf. v. 14)”.
Jones F. Mendonça
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