terça-feira, 8 de junho de 2010

POR QUE NÃO SOU CALVINISTA

Por Jones Mendonça

Para Calvino todas as pessoas sempre acabam cumprindo os decretos divinos. Segundo sua doutrina, os eleitos receberam de Deus uma disposição para fazer isso por amor. Mas é preciso estar atento ao seu ensino, Deus só recebe o amor daqueles que foram capacitados para amá-lo. Sem a graça de Deus isso seria impossível. Resumindo, se Deus capacitou você para amá-lo, vai necessariamente amá-lo e cumprir Sua vontade.

Os ímpios, por outro lado, como não receberam essa disposição, odeiam sua vontade, mas paradoxalmente acabam cumprindo os seus santos desígnios mesmo sem saber ou querer. Resumindo, se Deus não predestinou você a amá-lo, isso jamais vai acontecer.

É uma doutrina bem estranha essa de Calvino. Debrucei-me sobre as Institutas na tentativa de compreender tal disparate. Ora, eu me perguntava, como responsabilizar Judas pela traição de Jesus se isso já fazia parte do plano divino? Cairíamos no absurdo de transferir para o discípulo suicida o louvor da redenção. Mas lá no finalzinho do primeiro volume da sua magistral obra, Calvino explica a questão citando Agostinho de Hipona, filósofo do século IV d.C.:
"Deus não indaga o que os homens têm podido, ou o que têm feito, porém o que têm querido, de sorte que o que se leva em conta é o propósito e a vontade"[1].
Trocando em miúdos, o que Calvino quer dizer é o seguinte: Judas cumpriu sim os propósitos divinos, mas o que contou foi sua intenção, que era perversa. Sua atitude se torna assim indesculpável. Aliás, para Calvino até mesmo os assassinos cumprem os propósitos de Deus. Nada foge a sua absoluta soberania, nem mesmo Satanás. No seu livro O Ser de Deus e as suas obras: a providência e sua realização histórica, o calvinista Heber Carlos de Campos declara com todas as letras que
"Satanás é o trabalhador-capataz mais terrível que o Senhor tem. Todavia, somente aqueles que crêem na soberania divina é que podem compreender a seriedade e a veracidade dessa afirmação"[2].
Satanás, "trabalhador-capataz" de Deus... nossa, isso é bem duro de engolir! De qualquer forma confesso que admiro a capacidade de argumentação de Calvino. Sua lógica é perfeita, sua erudição admirável. Mas tenho muita, mas muita dificuldade em conceber um Deus assim. A existência humana simplesmente deixa de ter sentido. Fico a me perguntar, por que orar se todas as coisas já estão previamente determinadas?

Tenho encontrado respostas melhores a essas questões na teologia de Carl Barth e Paul Tillich. Outras soluções interessantes tem sido propostas pelos teólogos brasileiros René Kivitz e Ricardo de Gondim.

Caso queira conhecê-las, clique aqui.

Notas:
[1] CALVINO, João. Institutas – Edição clássica (latim), Livro I, cap. XVIII, 2007, p. 237.
[2] CAMPOS. Heber Carlos de. O Ser de Deus e as suas obras: a providência e sua realização histórica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p.17.

23 comentários:

  1. Eu diria que a lógica de Calvino é fantástica, realemente perfeita e coentes com as bases que ele escolheu. Os textos bíblicos são intrigantes. Mas é impossível relacionar sua lógica com uma base imprescindível ao Cristianismo, a saber, o AMOR. Eu diria que Deus em Calvino é somente soberano. Se o Heber Carlos de Campos diz "somente aqueles que crêem na soberania divina é que podem compreender a seriedade e a veracidade dessa afirmação", então sou réu confeso, mas eu diria que na verdade creio na soberania de Deus, apenas não entendo como esta "soberania de Deus" da ótica Calvinista é conjugada com imprescindível base cristã do AMOR.

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  2. Acho que o maior argumento contra Calvino é este: "porque Deus amou o mundo..."(Jo 3,16). Calvino, é claro, rebate dizendo que Deus não possui sentimentos, isso é coisa que afeta apenas os simples mortais. A palavra amor, no texto de João seria mera antropopatia. Complicado...

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    1. Jones,

      Acho que você está cometendo um erro grosseiro. Quando Calvino fala da ira, ele está contrastando com a nossa ira emocional. Nossa ira dificilmente é a mesma do que a ira de Deus. A ira é um antropomorfismo espelhado na nossa, mas Deus não se ira da mesma forma que nos iramos, assim como ele não se arrepende da forma que nós nos arrependemos. Você extrapolou a declaração de Calvino para as últimas consequências e inseriu o amor dentro do escopo que você queria encontrar para acusá-lo.

      Quanto à dificuldade de aceitar satanás como capataz, como ficaria sua leitura do papel dele no caso de Jó, do espírito mentiroso na boca dos profetas e de quem incitou Davi para pecar?

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    2. Nobre amigo André:

      Satanás em Jó, NÃO estava a serviço de Deus! essa perspectiva é estranha ao poema?

      Se o inimigo é capataz, logo foi Deus quem o incitou contra Adão, eita TAUTOLOGIA danada!

      E indo mais longe: o inimigo rebelou-se (teve escolha) ou foi CRIADO MAU? Para ser o capataz.

      Falar em onisciência divina como justificativa sem falar em arbítrio seria tergiversar!

      Se o inimigo escolheu teremos o problema de COMO seria o capataz. Se ESCOLHEU SE REBELAR!

      Deus ELEGEU Adão para pecar e satanaz para ser capataz (rimou)! Se levarmos essa ideia às últimas consequências TEREMOS um teatro soteriológico!

      PAX ET LUX

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  3. Nossa fiquei impressionado com a falta de conhecimento biblico, "Nunca li em nenhuma obra de Calvino ele dizendo que Deus não possue sentimentos, mais que sentimento o Amor é um atributo de Deus, A biblia fala que Deus é Amor. A predestinação está baseada no amor de Deus " ..Em amor nos predestinou..." (Ef 1:4,5), mas se Deus não ama as outras pessoas??, sim, ama, mas Deus ama mais aqueles que ele escolheu, " Ele nos amou primeiro", ele amou Jacó, porem odiou Esaú (abboreceu) em algumas traduções (Rm 9:13).

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  4. Caro anônimo. Nas Institutas Calvino diz isso:

    “quando ouvimos que Deus se ira, não devemos imaginar que exista nele qualquer emoção, mas, antes, devemos considerar esta expressão como tomada de nosso prisma”[1].

    A implicação disso é óbvia, para Calvino Deus não possui sentimentos como os homens. A palavra "amor" para ele é mera antropopatia.

    [1] CALVINO, João. Institutas – Edição clássica (latim), Livro I, cap. XVII, 2007, p. 227.

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    1. Jones,

      Pelo que posso entender da palavra amor no contexto bíblico, ela está mais próxima de atitudes do que emoções, tanto que os tradutores da Almeida Revista e Corrigida preferiu traduzir a palavra amor por caridade. Caridade retrata mais a atitude do que os "sentimentos" envolvidos na palavra amor.

      Se isso é coerente, quem estaria mais próximo, você ou calvino?

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  5. Jones como eu poderia conversa com você via email? gostaria de conversar com você abraços, meu email é lucio_fabio@hotmail.com

    Em Cristo, Lucio!

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  6. Meu amigo tu és ruim de exegese?
    Brincadeira!
    Seria interessante conheer o Deus das Escrituras e vê se as coisas são ou não são assim.
    Só é dá uma olhada nas ordens divinas para execução dos povos vizinhos de Israel. Não sei se alguém conseguiu ver a campanha "evangelistica" para jebuseus se converterem ao Deus de Israel.
    Vocês viram?
    Só sei que não vi!
    Fico me perguntando: Será que os "coitadinhos" não tinham uma alma? ou espirito?
    Por que Deus não deu oportunidade de se converterem?
    A não ser que tinha existido tal campanha e não fora registrada! Quem sabe?
    Falando sério é bincadeira

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  7. Se é brincadeira, não vou levar a sério. Se é sério, vou considerar como se brincadeira fosse.

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    1. cadê o botão de curtir quando se precisa dele?

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  8. A resposta para seu questionamento está em Romanos 9.
    "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!
    Pois ele diz a Moisés:
    Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
    Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.
    Porque a Escritura diz a Faraó:
    Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
    Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
    Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?
    Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?
    Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
    Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,
    a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão,
    os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"
    Sociedade Bíblica do Brasil. 1999; 2005. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada . Sociedade Bíblica do Brasil
    Não se trata de Calvino.. mas de Bíblia

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  9. Tá bom. Então se a providência de Deus tudo ordena e decreta, logo até o pecado de Adão foi obra de Deus. E como Deus pode odiar o pecado se ele próprio induziu Adão a cometer?

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    1. Jones,

      Talvez a ideia supralapsária possa responder seu questionamento.

      Deus em sua presciência vê sua glorificação através do filho. Para isso, o filho precisa ser sacrificado por um pecador. Para que haja pecadores, Adão precisa pecar. Para que Adão peque, preciso ser criado. E então a ordem prevista é executada ao inversa cronologicamente na história, como relatada na Bíblia.

      Ou você acha que Deus foi pego de surpresa no Jardim do Éden? Pelo contrário, Adão era a figura daquele que havia de vir. Como poderia haver tal paralelo sem ter sido assim idealizado e realizado? Apenas com presciência sem os decretos a coisa não faz sentido.

      Deus é agente ativo em todas as coisas, não está passivamente observando e reagindo aos eventos.

      O problema do Mal é um problema mesmo? O único ser auto existente é Deus; se o mal é auto existe, também será uma "força" ativa equivalente a Deus e estamos desesperados e aflitos, à mercê da "sorte" dessa batalha entre as forças do bem e do mal. Se você disse que sorte não existe porque é uma "força impessoal" e Deus está no controle de todas as coisas, então o mal também não pode existir. Se o mal existe, não pode ter vindo à existência autonomamente. Se não veio à existência por si, até mesmo porque não é eterna, deve ter sido criada. Se foi criada foi criada por quem?

      No mínimo as implicações filosóficas, metafísicas e ontológicas são interessantes. Não acha?

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  10. André,

    Não estou defendendo um Deus antropomórfico (como você parece pensar). Apenas destaquei as contradições presentes no pensamento de Calvino. Aliás, contradições que você se nega a aceitar (minha pergunta sequer foi respondida...).

    Quanto a Kivitz e Gondim, já os abandonei. Repare que o texto foi escrito em 2010. Não sou um ser imutável!

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    1. Jones,
      Me desculpe se estou errado quanto à minha avaliação. Mas continuo achando que quem encontrou contradições foi você na extrapolação do que foi dito. O que foi que neguei aceitar?

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  11. Sendo objetivo:

    1) Como Deus pode odiar o pecado se ele próprio preordenou o ato pecaminoso de Adão?
    2) Como alguém pode ser responsabilizado por seus erros (até o diabo) se ele tudo preordena?

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  12. Jones,
    Você está pedindo respostas complexas e talvez impossíveis de se responder, apesar de alguns já se aventurarem de respondê-las dentro do pensamento monergista (vincent cheung é um deles, já ouviu falar?).

    O calvinismo não parte da lógica, mas das declarações bíblicas e tenta a partir delas entender os aparentes paradoxos. Não sou monergista porque encontrei todas as respostas, mas porque ela me responde mais do que o pensamento arminianos. Não vejo evidências (bíblicas, filosóficas e científicas) para crer no livre arbítrio.

    Agora, qual a dificuldade em aceitar as declarações bíblicas de um Deus triúno, mesmo fugindo da minha limitada compreensão? As declarações de um Deus que ao mesmo tempo é três estão lá e apenas creio sem entender.

    Como pode Jesus ser ao mesmo tempo homem e Deus. Não entendo como funciona essa dupla natureza de Cristo, mas apenas creio ignorando a minha ignorância, minha incapacidade.

    Por que não fazemos o mesmo com as declarações de que Deus tudo decreta e não é culpado pelo que decretou?

    Se você parte do pressuposto de que nossa dificuldade em compreender como as coisas funcionam comprometem a veracidade delas, então precisaremos incluir muitas outras coisas nesta lista.

    2) Como alguém pode ser responsabilizado por seus erros (até o diabo) se ele tudo preordena?

    Qual será então sua resposta para os textos de Ezequiel 14:9 e 1Reis 22:19-25? Ainda que se tente dizer que o texto de Ezequiel "enganar" é ser confundido, frustrado, o mesmo não se aplicaria à 1Reis.

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  13. Qual a minha resposta? Acho que você está enganado a meu respeito. Quem achou que poderia dar uma resposta é Calvino (e os teólogos sistemáticos).

    Na Bíblia Deus se arrepende e não se arrepende; se entristece e não se entristece, odeia o pecado e ao mesmo tempo preordena o pecado.

    Você diz que o calvinismo parte das declarações bíblicas.... Sei... como os arminianos, tomistas, teólogos do processo, molinistas...

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  14. Jones,
    Sua precipitação para tirar conclusão fora de contexto é impressionante! Fez com calvino, fez comigo também... deve ser irremediável...

    Quando eu disse que "o calvinismo parte das declarações bíblicas e não da lógica", você omitiu parte do argumento (O calvinismo não parte da lógica...) para então criar uma distração e atacar listando arminianos, tomistas, teólogos e afins. Arthur Schopenhauer deve ter aplaudido de pé a sua "desonestidade" dialética.

    Para demonstrar que o calvinismo parte do texto bíblico e não da lógica, citei dois textos de difícil equação. Mas você se recusou a responder, desviou o assunto e achou que ironizando estaria cumprindo o seu papel. Tá mais pra papelão... E não foi o mesmo que você fez com o Leandro Teixeira lá no outro post quando ele te faz uma pergunta e você não respondeu, desviou o assunto...

    Se você não percebeu por inaptidão ou por inocência destacarei o que verdadeiramente disse acima:

    No primeiro parágrafo comento a dificuldade de responder às suas perguntas sobre a origem do mal e responsabilidade humana dentro daquele contexto de soberania divina do calvinismo. Então eu abro o segundo parágrafo para dizer que o calvinismo não parte das deduções lógicas (que são as questões que você levantou), mas dos textos bíblicos e vou além deixando dois textos como exemplo. Logo, estava contrastando o calvinismo com suas declarações e não com os métodos interpretativos empregados pelos arminianos, tomistas etc etc etc.

    Meu diagnóstico continua sendo o mesmo, e quanto mais você fala, mais o agrava. Para um professor de hermenêutica você comete erros grosseiros e imperdoáveis. Você não consegue enxergar uma coerência textual simples num comentário de blogs da internet... só imagino os alunos que você anda formando...

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  15. André,

    Entenda de uma ver por todas: Os textos bíblicos são contraditórios. Nunca, jamais, chegaremos a um consenso discutindo textos. Não tenho respostas, só perguntas.

    Ah, e você continua sem responder as minhas perguntas. Só faz ataques desesperados...

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  16. argumento de Calvino me parece lúcido com a revelação sa escritura Ef 1, e Rm 8

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  17. Bom dia a todos os calvinista. muitas vez perguntei se acreditam sinceramente no que eles afirmam. Deus cria os seres angelical, humano, o inferno e o paraíso, para depois brincar de bom e de malvado, segundo o seu "querer" ou "soberania" e quem paga o pato são as criaturas, aquele que ele criou malvados para fazer sofrer o bom ou os fracos ou os "desfortunado" que recebam, estupro, são assassinado ETC. MAS! enquanto todos "se estão se dirigindo" eu dico não se estão dirigindo porque isso significa uma escolha que não tem. Mas a realidade
    segundo o calvinismo o criador o esta empurrando para o inferno criado para este fim. MAS! o criador para mostrar quanto ele e bom decidiu no meio deste "réprobos" escolher algum para salvar e este querendo ou não vão receber as coisas boas. e a esse ele pede de "amar" os seus inimigo aqueeeeele
    criado por ele, com o proposito de fazer o mal que
    ele mesmo não ama. "tudo por preservar a "soberania e a gloria de Deus" e tudo isso e tirado do texto sagrado. parabéns precisa de muito talento para isso. eu penso que esse pessoal quando eram garotos como eu brincavam a fazer a guerra na areia com os soldado bom de um lado e o mal do outro e a guerra era decidida antes, com a preferencia do que dava na cabeça dos garotos. os brinquedo eram de plásticos ou outro material. só que era só uma
    brincadeira que ninguém sofria. Jesus não brinca ele mostrou o caráter de Deus: um amor sem igual. Abraço e paz.
    A! ainda tem Satanás e os demónio para atormentar. essa e outra historia interessante. (miséricordia)

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