sexta-feira, 14 de maio de 2010

A TEOLOGIA FEMINISTA DE ELISABETH MOLTMANN-WENDEL

Por Marcos Nunes
(do Blog “Sinalizando o Reino”)

Segundo a maioria dos teólogos o pecado está intimamente ligado a questão do orgulho. Em Lutero é emancipação, egocentrismo, descrença e negação da fé em Deus. Para Paul Tillich o pecado é uma alienação em relação a Deus[1].

 A teóloga feminista Elisabeth Moltmann-Wendel[2] nos trás uma importantíssima contribuição, pois nos ensina a olhar e a analisar as origens do pecado no universo feminino. Sei que muitos são generalistas, talvez fundamentalistas, e não aceitam estes tipos de análises teológicas que usam cortes sociológicos por gênero, classe, cor, naturalidade, grau de instrução e etc.

Mas a teóloga citada observa que no universo feminino, em muitas ocasiões, o pecado não se origina no orgulho e, sim, na autonegação. Este seria um dos fatores mais freqüentes nos pecados do universo feminino. Na ótica de Lutero e Tillich o pecado significa “pretender ser igual a Deus”, a afirmação do seu “EU” (ego), no caso do universo feminino o pecado tem uma forte tendência de se originar na negação do seu “Eu”, o medo de ser ela mesma, com a submissão radical, a negação da sua identidade, a baixa auto-estima, falta de coragem e etc.

Segundo Elisabeth Moltmann-Wendel a “libertação do pecado precessar-se-ia como aprendizagem do amor próprio e com o êxodo do mundo patriarcal a uma vida orientada pelo amor e pela alegria“[3].

A teologia feminista nos trás um olhar muito peculiar e ao mesmo tempo libertador sobre a realidade do universo feminino. Muitas vezes as mulheres são criadas e chegam à fase adulta oprimidas pelas forças que seus pais exercem na infância e adolescência e que o marido e os filhos exercem na fazer adulta. Muitas vezes a experiência de autonegação tem sido transformada em falta de amor próprio, e por tanto, vai de encontro à vontade de Deus para sua criação.

Mesmo a teologia feminista insiste que esta situação de escravidão e pecado não é exclusiva das mulheres, existem casos de homens que sofrem do mesmo tipo de dependência familiar, por tanto, não conseguem se sentir livres para constituir uma nova família com novos padrões.

É necessário ressaltar que a autonegação também pode ser uma qualidade se for exercida com equilíbrio. Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” Lc 9.23. O problema não é o indivíduo “negar-se a si mesmo”, o problema é o indivíduo se deixar ser subjugado e oprimido por sistemas, estruturas, doutrinas, culturas ou pessoas enquanto agentes de dominação.
“O amor próprio, protegido contra a moléstia do egoísmo e da perversão do narcisismo, é pressuposto de saúde humana e condição indispensável do amor ao próximo”[4].
Uma experiência de vida e de família que sinaliza o Reino de Deus é uma experiência que mostra em nossa casa hoje, aquele tipo de relacionamento livre e amoroso que vamos viver plenamente no céu.

Abaixo a dependência emocional!
Abaixo a baixa autoestima!
Viva a experiência de autonegação por amor!
Viva as nossas famílias!

Bibliografia:
BRAKEMEIER, Golttfried. O ser humano em busca de identidade: Contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002.

Notas:
[1] BRAKEMEIER, Golttfried. O ser humano em busca de identidade: Contribuições para uma antropologia teológica. 2002. p. 64-66.
[2] Elisabeth Moltmann-Wendel é esposa de Juger Moltmann, um dos maiores teólogos do Séc. XX e principal fundador da Teologia da Esperança, para saber um pouco mais clique Aqui.
[3] Ibid, p. 67.
[4] Ibid, p. 67.

Imagem:
Cartaz de uma palestra ministrada por Elisabeth Moltmann-Wander em Berkheim, Alemanha, sob o título: Frauentag (mulheres).

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