terça-feira, 29 de março de 2016

A FALHA SIRO-AFRICANA [GEOGRAFIA BÍBLICA]

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A imagem mostra o norte da África (destaque para o Egito) e a costa oriental do Mediterrâneo (Israel/Cisjordânia, Líbano, Síria, Turquia). Repare na grande fenda (a falha siro-africana, a região mais baixa do planeta) que vai do sopé do Hermon ao Mar Vermelho, causada pelo encontro entre duas placas tectônicas, a arábica e a africana.

Do norte para o sul: Monte Hermon, Mar da Galileia, Rio Jordão, Mar Morto e os Golfo de Áqaba (à direita) e de Suez (à esquerda). Entre os dois golfos do Mar Vermelho está o deserto do Sinai (o monte Sinai fica mais ao sul, por isso não aparece na imagem).



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 25 de março de 2016

COELHINHOS NUMA MISSA MEDIEVAL

Coelhinhos [da páscoa?] celebrando uma missa na margem (marginália) de um  manuscrito do século XIV. Dê uma boa expiada no manuscrito visitando esta página da British Library. 



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 24 de março de 2016

JERUSALÉM, POR EDWARD LEAR

Jerusalém otomana observada a partir do Monte das Oliveiras numa das telas de Edward Lear (século XIX). Entre o monte e a cidade, o vale de Cedron: 

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Jones F. Mendonça

ISAÍAS SERRADO AO MEIO

O martírio de Isaías num manuscrito medieval (Espéculo Humanae Salvationis, fl 24r) tal como sugere o livro apócrifo da “Ascensão de Isaías” (5,1):


A tradição da morte do profeta sob o reinado de Manassés parece ter deixado reflexos no livro de Hebreus: “Foram lapidados, foram serrados e morreram assassinados com golpes de espada” (11,37).



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 23 de março de 2016

PURIM, MÁSCARAS E VINHO


Na celebração judaica do Purim (dia 12 do mês de adar) é comemorada a salvação dos judeus persas das mãos de Hamã, tal como relatada no livro bíblico de Ester. Além dos trajes curiosos (como na foto acima), há outros detalhes na festa que chamam a atenção, como esta orientação do Talmude: 
No Purim a pessoa é obrigada a beber (vinho) a ponto de não mais ser capaz de distinguir entre “Maldito seja Hamã” e “abençoado seja Mordecai” (Talmud, Meguilá 7b). 



Jones F. Mendonça

sábado, 19 de março de 2016

OS MANUSCRITOS BÍBLICOS E AS GUERRAS NO ORIENTE MÉDIO

Aquisição volumosa e repentina de manuscritos bíblicos desconhecidos dos estudiosos e do público em geral levanta suspeita de que Museu da Bíblia privado dos EUA, a ser inaugurado em 2017, tenha em seu acervo documentos e artefatos contrabandeados do Oriente Médio. A denúncia vem de Joel Baden, professor de Bíblia hebraica na Yale Divinity School. No texto, ele destaca que: 
A maioria dos colecionadores particulares mantém os detalhes de suas compras em sigilo. A prática existe em parte para proteger os vendedores que podem ter razões pessoais para esconder suas identidades, como a dificuldade financeira. Mas isso também protege o vendedor inescrupuloso.
Leia mais aqui.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 18 de março de 2016

JERUSALÉM, AL QUDS

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Consegui este ângulo da cúpula da Rocha em alta resolução num jornal árabe (alquds = nome persa para a cidade de Jerusalém).

Em destaque a Cúpula da Rocha, templo muçulmano construído no final do século VII nas ruínas do famoso templo de Herodes.

Ao fundo, no Monte das Oliveiras, uma belíssima igreja ortodoxa russa com cúpulas igualmente douradas. À sua direita (vista do observador) um cemitério judaico.



Jones F. Mendonça

domingo, 13 de março de 2016

SOBRE COISAS INÚTEIS, VÃS E SEM SENTIDO

“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, diz Qohelet (ou “o pregador”, em Ecl 1,2). Vaidade aí é hevel = sopro, fumaça, névoa, como em Jó 7,16: “minha vida é um sopro (hevel), ou como em Zc 10,2 “os adivinhos oferecem consolações vãs (hevel)”.

Uma vez que a palavra “vaidade” (=natureza daquilo que é vão, inútil) tem, nos dias de hoje, sentido bastante restrito, geralmente designando alguém que se preocupa demais com sua própria aparência, a tradução clássica “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” acaba não reproduzindo bem o sentido do texto hebraico.  

Quem lê o livro com atenção percebe a tônica do seu discurso: “não há nada de novo debaixo do sol” (Ecl 1,9), logo, “tudo, inclusive o que parece novo, inédito, é hevel, névoa”. “Muita sabedoria, muito desgosto” (1,18), por isso “tudo, inclusive a sabedoria, é hevel, neblina”. “Quem ama o dinheiro nunca está farto” (5,10), daí a declaração “tudo, inclusive a riqueza, é apenas fumaça”.

O livro teria tom pessimista e negativo se aconselhasse a abolição da vida, a supressão do prazer ou o desprezo pelo mundo sensível, mas na verdade consiste numa “exaltação da alegria” (8,15; ver ainda 52,24 e 5,18). Embora a vida pareça suspensa sobre o vazio – diria Qohelet - viva-a com todas as tuas forças.



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 9 de março de 2016

O REI DAVI COMO EM GAME OF THRONES

Novo seriado produzido pela ABC (“Reis e profetas”) promete contar a história da ascensão do rei Davi ao trono no estilo “Game of Thrones”. O especialista convidado para dar suporte histórico é ninguém menos que Reza Aslan, autor do Best-seller “Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré”.




Jones F. Mendonça

terça-feira, 8 de março de 2016

OS CABELOS DE MADALENA


Curiosa representação medieval e renascentista de Maria Madalena vestida com seus próprios cabelos. A imagem à esquerda, do final do século XV, ilustra um manuscrito destinado à Rainha Bona da Casa de Sforza, segunda esposa de Sigismundo, o Velho. A imagem à direita é obra de Antonio del Pollaiolo, também do século XV.




Jones F. Mendonça

sábado, 5 de março de 2016

BÍBLIA HEBRAICA PARA KINDLE

“O Kindle não reconhece caracteres hebraicos”, é o que eu ouvia aqui e ali. Fiz algumas buscas no Google e encontrei esta versão gratuita da Bíblia hebraica com sinais massoréticos e um índice pra lá de interativo. 

Embora o texto seja exibido no modo retrato (não é possível, por exemplo, buscar o significado das palavras num dicionário) o e-Book conta com um dicionário hebraico no final. Os interessados devem descarregar o arquivo aqui.



Jones F. Mendonça

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

COMBATE MORTAL EM “A VIDA DOS SANTOS”

Você arriscaria uma interpretação para esta imagem?


Sim, parece um sacerdote fazendo o sinal de “paz e amor” a um lutador do game Mortal Kombat cuspindo uma besta de três cabeças. Será?

É claro que não. A imagem retrata o exorcismo de Leão IX. Repare no báculo e na mitra papal. O sujeito de verde está possuído por um demônio (que dá as caras saindo pela boca) e o papa faz o sinal do Pantocrator, símbolo da onipotência divina, a fim de repreendê-lo. O que parecem sinais indicando a trajetória do possuído é na verdade uma costura feita para emendar a folha rasgada do manuscrito.

A imagem ilustra a página 191r do manuscrito “Vida dos santos”, produzido no século XII. Você poderá folhear suas belas páginas ilustradas aqui


Jones F. Mendonça

sábado, 27 de fevereiro de 2016

JERUSALÉM, O IMPERADOR E A LOJA DE DOCES PALESTINA

Em 130, após visitar Jerusalém com seu amante Antinoo, o imperador Adriano decidiu transforá-la numa clássica cidade romana, erradicando deliberadamente seu caráter judaico. Em 132-135 os judeus se revoltaram sob a liderança de Bar Kokhba, que acabou morto pelas tropas lideradas por Júlio Severo.

Resquício dos edifícios de Adriano podem ser vistos, por exemplo, na loja de doces Zalatimo, que incorpora os restos da porta do Templo de Júpiter e a entrada do fórum principal. Eis uma foto do local:


Você pode visitar o site oficial da tradicional loja de doces Zalatimo aqui.

Veja algumas fotos do interior da loja aqui.


Jones F. Mendonça

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O TERMO “PALESTINA” EM “HISTÓRIAS” DE HERÓDOTO E "ANTIGUIDADES" DE JOSEFO

Para quem acredita nessa história de que o termo “Palestina” é invenção do imperador romano Adriano, em 135 d.C., vale consultar Heródoto: 
Esta parte da Síria, com toda a região que se estende até as fronteiras do Egito, chama-se Palestina (Histórias, VII, 89).
Heródoto, para quem não sabe, viveu no século V a.C.

O que Adriano fez foi mudar o nome de Jerusalém para Aelia Capitolina (=cidade de Aelius, ou seja, cidade de Adriano). O nome não colou. Ainda bem, Jerusalém soa bem melhor.

Até mesmo Josefo (37-100 d.C.), um judeu fariseu, não hesitou em usar a designação mais comum para a região: 

“Abraão, agora removido de Gerar da Palestina, levando Sara junto com ele...” (Antiguidades,I, 12). 
Pessoalmente uso o termo Palestina (ou Siro-Palestina) para designar a costa oriental do Mediterrâneo. Há quem não goste do termo porque parece legitimar a relação dos palestinos (árabes que passaram a ocupar a região após a diáspora judaica) com a terra, como se desde Heródoto eles estivesse lá.  Ora, isso não faz qualquer sentido, afinal os palestinos são chamados assim por causa do antigo nome da região e não o contrário. 


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ALFABETO HEBRAICO [VOCALIZAÇÃO]

UR DOS SUMÉRIOS, UR DOS CALDEUS

1) Ruínas, às margens do Eufrates, Iraque; 
2) Ilustração (por Balage Balogh) representando a cidade tal como era com base em suas ruínas. Destaque para o Zigurate, dedicado ao deus Nin-Gal e Nannar (deus e deusa associados à lua).





Jones F. Mendonça

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O FÉRTIL CRESCENTE [GEOGRAFIA BÍBLICA]


Com a ajuda do fantástico Google Earth Pro, do editor de vídeo Format Factory e da música de Ensemble Peregrina, finalmente consegui concluir o vídeo para a aula de terça. Ufa!


Jones F. Mendonça

sábado, 13 de fevereiro de 2016

AMOR PICANTE EM "ROMAN DE LA ROSE"

O poema francês medieval Roman de la Rose, um sonho alegórico sobre o amor escrito no século XIII, está dividido em duas partes: 1) amor cortês (por Guilherme de Lorris) e 2) amor mundano (por Jean de Meun).

A segunda parte, polêmica por sua misoginia e sensualidade, contém imagens como essa:



É ou não picante?


Jones F. Mendonça

CRISTO FARMACÊUTICO NO GALLICA


Uma ilustração muito curiosa: Cristo como farmacêutico prescrevendo uma receita para Adão e Eva. Enquanto Cristo esbanja simpatia, o casal esbanja vergonha. 

No Printerest diz que foi produzida em 1537 e que está disponível na Biblioteca Nacional da França (BNF). Visitei o Gallica (site da BNF) em busca de maiores informações e encontrei o seguinte:

Título: Chants royaux sur la Conception, couronnés au puy de Rouen de 1519 à 1528;
Data de emissão: 1501-1600 
Tipo: manuscrito 
Idioma: francês 
Formato: Velino, miniaturas 

Caso queira visitar dar uma boa expiada no manuscrito, clique aqui (a imagem aparece no folio 82v).



Jones F. Mendonça

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O MURO DAS LAMENTAÇÕES E A SEGREGAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

Numa decisão considerada histórica, o governo de Israel aprovou projeto que viabiliza a oração conjunta entre homens e mulheres no Muro das Lamentações.

Atualmente as orações são realizadas em seções separadas por uma espécie de cerca (48m reservados aos homens e 17m às mulheres). A ideia é criar uma terceira seção mista (81m), controlada por uma comissão composta por judeus reformistas.

A novidade desagradou grupos de judeus ultra-ortodoxos como os membros do partido Shas (dizem que a medida “prejudica a tradição”).  Com uma justificativa diferente, mas igualmente contra a criação de um terceiro pavimento, aparece Eilat Mazar, respeitada arqueóloga israelense.

De acordo com Mazar, as obras para a criação do novo espaço poderiam ser desastrosas, uma vez que serão realizadas na última área remanescente onde os sinais da destruição do Segundo Templo, há pouco menos de 2.000 anos, podem ser testemunhados.

Para Anshel Pfeffer, do jornal israelense Haaretz, a decisão de criar um terceiro espaço representa uma derrota para os progressistas e não uma vitória. Para ele, a aceitação de uma zona de oração isolada revela a “submissão do governo à hegemonia fundamentalista”.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

MACABEUS, ESPORTES E PREPÚCIOS

Há, no livro deuterocanônico de 1 Macabeus (1,14-15), uma passagem muito curiosa:
Construíram [alguns judeus helenistas], então, em Jerusalém, uma praça de esportes, segundo os costumes das nações, restabeleceram seus prepúcios e renegaram a aliança sagrada.
Como assim “restabeleceram seus prepúcios”?

Expiando, no Google Livros, algumas páginas de “Amor e sexo na Grécia Antiga”, de Reinholdo Aloysio Ullmann (EDIPUCRS, 2007, p. 70), deparo-me com isto:
A infibulação, contrariamente à castração, era muito comum na Grécia. Puxava-se o prepúcio sobre a extremidade do pénis e era amarrado com uma corda. Qual a finalidade? Evitar que, nos exercícios de ginástica e congêneres, aparecesse a glande. Tal tipo de infibulação só podia ser ocasional e não permanente.
“Renegar a aliança sagrada”, para os tradicionalistas macabeus, seria algo parecido com a infibulação?


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

HOLOCAUSTOS

Um povo que foi subjugado tantas vezes (Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia...). Que lutou em tantas ocasiões por sua liberdade (Macabeus, Zelotes, Bar Kokhba). Que foi perseguido por suas crenças e por suas tradições na Europa cristã e nas terras sob domínio islâmico. Um povo que que foi moído pelas lâminas do nazismo...

Agora coloniza terras palestinas na Cisjordânia.
Converteu sua agonia na agonia dos outros. 



Jones F. Mendonça

O VATICANO E A EVANGELIZAÇÃO DOS JUDEUS

Boa parte da imprensa (UOL, Reuters, Exame, G1) noticiou que o Vaticano produziu um documento orientando os católicos “a não tentarem converter judeus”. Não é bem assim:
A Igreja, portanto, deve entender o evangelismo aos judeus, que acreditam no único Deus, de uma maneira diferente daquela direcionada àqueles que pertencem a outras religiões ou que tenham outras filosofias de vida.
Na verdade o documento não proíbe a evangelização, apenas orienta que isso "deve ser feito de uma maneira diferente". Sobre a salvação dos judeus "sem uma confissão explícita de Cristo", o documento diz que é "mistério insondável do Divino".

O texto guarda uma boa dose de ambiguidade. Leia-o na íntegra no site do Vaticano (em italiano):



Jones F. Mendonça

sábado, 23 de janeiro de 2016

FRAGMENTOS ESCATOLÓGICOS: CONSELHEIRO E TOURO SENTADO


Massacre de Wounted Knee
A proclamação da República, em 1889, foi vista por Antônio Conselheiro como a encarnação do próprio Anticristo. Em suas palavras: “o Satanás trouxe a República [mas] Belos Montes será o campo de Jesus... Os republicanos não devem ser poupados, pois são todos do Anticristo”. Como sabemos o movimento de resistência liderado por Conselheiro foi sufocado pelo governo na famosa “guerra” (ou massacre?) de Canudos.

Os Estados Unidos conheceram um fenômeno de resistência semelhante. Tudo começou com a crescente influência de um movimento religioso chamado “Ghost dance” (dança fantasma) entre os índios Sioux na Reserva Indígena de Pine Ridge (Dakota). Os nativos começaram a achar que suas seguidas derrotas para as tropas americanas deviam-se ao abandono dos costumes tradicionais. A solução: a rejeição dos costumes dos brancos e a luta armada. Acreditavam que em seguida os deuses criariam um mundo novo, o “paraíso das manadas de búfalos”. Mas a resistência sioux não acabou bem: Touro Sentado (visto como o líder da seita) foi morto e as tropas do governo massacraram os índios da reserva de Wounded Knee.

Esses dois movimentos estão repletos de pontos em comum: 1) fundamentação religiosa, 2) explicação do sofrimento a partir da ameaça da mudança dos costumes, 3) extermínio do inimigo para preservar os valores tradicionais, 4) anúncio da chegada de um reino escatológico, 5) florescimento na virada do século (final do século XIX). Minha pergunta: teria a religião sioux recebido influência do milenarismo cristão dos colonizadores (neste caso a virada do milênio teria desempenhado um papel importante) ou não há qualquer relação entre os dois fenômenos?


Jones F. Mendonça

domingo, 17 de janeiro de 2016

DAVI E BETSHEBA NA BÍBLIA MACIEJOWSKI

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Acima uma cena da história de Davi e Batsheba num manuscrito medieval, a Bíblia Maciejowski (1255, Paris). Como se pode ver, os monges não eram tão puristas como geralmente se pensa.

Cena 01: Davi dá ordens a um de seus servos para que traga Batsheba que está se banhando (com os seios à mostra) num cômodo à direita;
Cena 2: Davi (assanhadinho) no leito com Batsheba;
Cena 3: [se interpretei corretamente:] Davi enviando Urias ao campo de batalha.

Mais imagens da Bíblia Maciejowski aqui.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

MARCHA TURCA, INFLUÊNCIA OTOMANA (SONATA K331)

O vídeo mostra a execução da “marcha turca” (Alla turca) de Mozart nos dedos nervosos de Olga Jegunova. Trata-se de belo um exemplo da influência da música militar otomana (dos janízaras) na música clássica europeia.




Jones F. Mendonça 

SOBRE A ESSÊNCIA DAS RELIGIÕES

Leio neste dia chuvoso: “O império Otomano: das origens ao século XX”, de Donald Quataert. Lá na posição 340 (leio no Kindle), ele explica que o sistema político dos otomanos, classificado por ele como “multiétnico e multirreligioso” 
exigia [...] a proteção dos súditos no exercício de sua religião, fosse ela o islamismo, o judaísmo ou o cristianismo, de qualquer vertente – sunita ou xiita, ortodoxa ou católica grega, armênia ou síria. Este requisito baseava-se no princípio islâmico da tolerância (grifo nosso) com os "povos do livro", isto é, os judeus e os cristãos.
Mas ainda há quem insista que o islamismo é, “em essência”, uma religião violenta e intolerante. Ainda não entendeu que as religiões dançam conforme a música (na verdade, conforme o compasso do maestro).



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

AGOSTINHO AOS DONATISTAS: SE NÃO VÊM PELO AMOR, VIRÃO PELA DOR

Deparei-me hoje com uma carta de Agostinho de Hipona escrita no início do 5º século. Atormentado pela insubmissão dos donatistas (seita cismática fundada por Donato, bispo da Numídia), Agostinho acaba concluindo que medidas mais duras devem ser tomadas no combate à heresia: 
Na verdade, é melhor que os homens sejam levados a adorar a Deus através do ensino que por medo da punição ou da dor. Mas [...] muitos só são alcançados quando compelidos inicialmente pelo medo ou pela dor, para depois serem influenciados pelo ensino (Carta 185,6,21). 
A inspiração vem de Pv 23,14, citado na carta logo a seguir: 
“Quanto a ti, deves bater-lhe com a vara, para salvar-lhe a vida do inferno”[1].
(Na vulgata: tu virga percuties eum et animam eius de inferno liberabis)
Teria vindo dessa carta de Agostinho o famoso provérbio popular: “Quem não vai a Deus pelo amor, vai pela dor?”

Nota: [1] No texto hebraico “sheol” é mundo dos mortos e não inferno. A mensagem do provérbio é clara: “a vara não mata” (v. 13), mas, pelo contrário, “livra a néfesh (=vida) do sheol” (=da morte, cf. v. 14)”.  



Jones F. Mendonça

sábado, 9 de janeiro de 2016

CONSIDERAÇÕES SOBRE O SELO DE EZEQUIAS

Em dezembro de 2015 a universidade Hebraica de Jerusalém anunciou a descoberta de um selo em Jerusalém contendo a inscrição "Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá". Embora outros selos semelhantes já tenham sido encontrados, este foi o primeiro descoberto por uma equipe de arqueólogos profissionais.

No selo aparecem dois símbolos egípcios bem conhecidos: um Ankh e um disco solar. A flor de lótus é outro símbolo que também aparece em selos do rei judaíta. Você pode estar se perguntando: “o que esses símbolos religiosos estrangeiros estão fazendo num selo israelita?”

Aos interessados no tema, vale conferir esta matéria publicada no Haaretz, assinada por Julia Fridman, com a colaboração do epigrafista Christopher Rollston, da Universidade George Washington.



Jones F. Mendonça

SOBRE JUDEUS, SULTÕES E PAPAGAIOS DE PIRATA

Quando os judeus fugiram da inquisição espanhola, no final do século XV, foram recebidos e protegidos por Bayazid II, sultão (ou califa) do Império Otomano. Aliás, o sultão fez questão de dizer que a Europa cristã estava perdendo gente de primeiríssima qualidade.

Qual a importância disso? Quando alguém vier com essa conversa de que os judeus são inimigos eternos dos muçulmanos, peça licença e saia de fininho, porque esse sujeito é um papagaio de pirata dotado de bico, penas e chapeuzinho com ossos.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O SALTÉRIO STUTTGARTER E OS TUMORES DE JAVÉ


Por mais estranho que possa parecer, esta pintura ilustra o Salmo 78,66 num manuscrito medieval (Saterio Stuttgarter), produzido na França do século IX.

Eis o que diz o salmo: "Deus [...] feriu seus opressores pelas costas e para sempre entregou-os à vergonha". 

O "pelas costas" possivelmente se refere aos "tumores" (interpretados como hemorroidas) citados em 1Sm 5,6.9. 

O que se lê, em latim, acima da imagem, é: "obprobrium sempiternum dedit illis" (entregou-lhes ao opróbrio perpétuo). 


Jones F. Mendonça

UMA BORRACHA NO SALTÉRIO STUTTGARTER


Esta pintura enigmática ilustra o Salmo 16 no Saltério Stuttgarter, manuscrito medieval do século IX. A ilustração não tem nenhuma relação aparente com o Salmo ou qualquer outra cena das Escrituras. Note que no centro da imagem alguns traços foram cuidadosamente apagados a fim de tornar a cena menos escandalosa.

Dê uma boa espiada no Saltério Stuttgarter aqui


Jones F. Mendonça

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A IGREJA, O IMPÉRIO E OS JUDEUS

Nesta pintura, de Camilo Procaccini (séc. XVI), Ambrósio, bispo de Milão, impõe-se diante do imperador Teodósio I, após ter ordenado um massacre na cidade de Tessalônica em 390.

A atrito ocorreu poucos anos após Teodósio ter assinado um Édito tornando o cristianismo a religião oficial do império. O imperador cedeu às pressões da igreja, vestiu-se com saco de penitência e foi perdoado.

O fato dos judeus não terem a mínima intenção de abandonar a sua fé e seguir a religião oficial do império causou descontentamento em muitos cristãos. No final de 388 cristãos fanáticos atearam fogo numa sinagoga na cidade de Calínico, na Mesopotâmia.

Teodósio instruiu os líderes cristãos a reconstruírem a sinagoga e a punir os incendiários. Ambrósio não gostou e saiu-se com essa: 
Não é adequado que pessoas sejam punidas com tanta severidade pela queima de um edifício, e muito menos pela queima de uma sinagoga, uma casa de incredulidade, uma casa de impiedade, um receptáculo de loucura, que até Deus tem condenado (Epístola 40,14).
A postura de Ambrósio marca tanto o início do antijudaísmo eclesiástico como da intromissão da igreja nos assuntos pertencentes à esfera política, julgando as ações dos poderes públicos.



Jones F. Mendonça

GEOGRAFIA EM ATOS [MITILENE E ASSOS]

Ao fundo a cidade de Mitilene (na ilha grega de Lesbos) a partir de Assos (na atual Turquia), conforme At 20,14:
Quando [Paulo] nos alcançou em Assos, recolhemo-lo a bordo e prosseguimos para Mitilene.




Jones F. Mendonça

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A “TZELA” DE ADÃO EM GN 2: COSTELA OU BÁCULO?

Para Ziony de Zevit, professor de literatura bíblica e línguas semíticas na American Jewish University, Gn 2 relata Eva sendo criada a partir do baculum de Adão, osso presente no pênis da maioria dos mamíferos, como no cão, na baleia e no guaxinim. Diante da ausência do osso nos homens e da incerteza quanto ao real sentido da palavra hebraica tzela (=lado, mas geralmente traduzida por costela em Gn 2,21-22), Zevir conclui: Eva foi feita a partir do báculo de Adão e não de sua costela.

Mas Elon Gilad, num artigo publicado no Haaretz (29/12/15), discorda de Zevit. A primeira evidência do erro de Zevit estaria no próprio texto: “Javé Elohim [...] tomou uma de suas tzelaot” (’ahat mitzal‛otaiv). Ora, o texto sugere que Adão tinha várias tzelaot (plural de tzela), elemento que enfraquece a tese de Zevit. A segunda razão para negar a tese de Zevit vem de textos sumerianos. Gilad explica que
O mito sumeriano de Enki e Nihursag (um deus central e sua esposa, a deusa-mãe), que antecede à Bíblia Hebraica, conta uma história que apresenta seres viventes sendo gerados a partir de uma costela. Enki fica doente e sua mãe dá à luz a dois deuses de suas costelas, a fim de curá-lo.
A terceira razão apresentada por Gilad é lingüística: “tzela [...] tem cognatos que significam costela em praticamente todas as línguas semitas que conhecemos”.

Leia o texto completo de Gilad publicado no Haaretz aqui.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

Quando a esquerda israelense se opôs aos “métodos de interrogatório não convencionais” contra palestinos suspeitos de terrorismo, a direita classificou o protesto como traição. Agora, quando os mesmos métodos são usados contra um suspeito judeu, a mesma direita faz alarde dizendo que os interrogatórios dirigidos pelo Shin Bet são desumanos.

Leia no J. Post.



Jones F. Mendonça

ARTE E CORPO

Você olha para esta tela de Luca Signorelli (A flagelação, 1502) e pensa: esse sujeito à esquerda está acoitando ou sambando? O que Signorelli tinha na cabeça quando pintou esses lencinhos caindo no quadril dos verdugos?



E o que dizer desta tela de Bacchiacca (A flagelação de Cristo, 1512/15)?



Jones F. Mendonça