Um pouco mais sobre a comunidade de seguidores de João Batista (mandeanos ou sabeus) pode ser encontrado no livro "O Deus exilado: breve história de uma heresia", escrito pela historiadora da USP, Marília Fiorillo. Também vale conferir uma entrevista concedida pela autora ao programa Millenium - Globo News.
sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
JOÃO BATISTA E OS MANDEANOS NO "THE BIBLE AND INTERPRETATION"
Aos interessados no cristianismo primitivo, gnosticismo e movimentos sectários do primeiro século, vale conferir o artigo escrito por James F. McGrath no The Bible and Interpretation (ago/2013): "Revisitando o mandeísmo e o Novo Testamento".
Os mandeanos (de mandeu=conhecimento, citados no Corão como sabianos) constituem um grupo religioso formado - ao que parece - por herdeiros dos antigos seguidores de João Batista. Reverenciam o Batista como o grande profeta e rejeitam Jesus, tido como usurpador do movimento legítimo. Grupos de mandeanos podem ser encontrados em algumas regiões do Irã e do Iraque.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
PROVOCAÇÕES
Aos
católicos:
Ortodoxia é a heresia dos que venceram.
Heresia é uma ortodoxia que capitulou.
Dulia é latria de máscara e salto alto.
Aos
místicos
Deus é tudo e é nada.
É luz e é treva.
É dor, é prazer?
Aos reformados:
Predestinação é a doutrina dos eleitos.
Galardão, prêmio celeste aos que não merecem.
Réprobos são sempre os outros.
Aos
fundamentalistas:
A Escritura é a palavra de Deus.
É Deus em palavras.
É o divino reduzido à letra.
Aos ateus:
Ateísmo é a fé no não-Deus.
É a fé na negação.
Afirmação de uma piedade ao avesso.
A você:
Belo é o canto do Uirapuru.
Doces são os lábios da donzela.
Impiedosos são os laços do sheol.
Jones F. Mendonça
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
A MÁSCARA DO PALHAÇO
Lá vai João, perdido em sonhos sob a tenda encantada.
Lá vai Funâmbulo, caminhando faceiro sobre o fio
estendido.
Lá vai Faquista, dispensando setas com muita
atenção.
Lá vai Palhaço, rindo aos montes da sua própria
desgraça.
Querer sonhar,
Querer enfrentar,
Querer superar.
Querer disfarçar as dores e ocultar as mazelas
com a face enfeitada.
Pobre Palhaço!
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
GADARA, GERASA, OS PORCOS E A LEGIO FRETENSIS
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LXF=Legio X Fretensis |
Evangelho de Marcos, capítulo 5, verso 1:
Jesus atravessa o Mar da Galileia e chega à terra dos gerasenos (Gerasa). Mateus, capítulo 8, verso 28: Jesus navega pelo
Mar da Galileia e desembarca na terra dos gadarenos
(Gadara). Mas Gerasa (Marcos= 50Km a sudeste do Mar da Galileia) e Gadara
(Mateus= a 12Km do mesmo lago) são cidades diferentes. Ambas são citadas por
Plínio como pertencendo a uma liga de dez cidades romanas (Decápolis) fundadas em 64 a.C.
Diante da dificuldade quanto à distância
que teria que ser percorrida pelos dois mil porcos até se precipitarem no mar,
surgiram várias soluções: a) Orígenes sugeriu a cidade de Gersesa (sem nenhum
fundamento), b) porcos endemoniados têm força sobrenatural (!), c) pouco
importa, pois o relato não possui caráter histórico, mas consiste numa espécie
de midrash do capítulo 14 do Êxodo (a exegese rabínica via sentidos velados no texto da Tanak). Quanto a esta última posição, vale
comparar Êxodo com Marcos:
Ex 14,28 As águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros, todo o exército de Faraó, que atrás deles havia entrado no mar; não ficou nem sequer um deles.
Mc 5,13 Saindo, então, os espíritos imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns dois mil, pelo despenhadeiro no mar, onde todos se afogaram.
O paralelo seria o seguinte: no Êxodo as
tropas de Faraó foram destruídas pelo mar sob a liderança de Moisés. Marcos estaria
insinuando que tropas romanas (legião) também seriam destruídas pelas águas,
agora sob a liderança de Jesus (na parousia?), entendido como uma espécie de
Messias político. A tese parece ganhar força quando vem à tona um importante
detalhe: A Legio fretensis (legião
romana), cujo símbolo era um javali (porco selvagem), estava situada na Síria desde o ano 6 d.C. (também usavam
o javali como símbolo a Legio
I Italica; XX Valeria-Vitrix e II Adiuntrix). Com a revolta judaica em Jerusalém na
década de 60 d.C. a legião foi deslocada da Síria para a capital religiosa dos
judeus (participou do cerco/destruição e passou a vigiar suas ruínas da cidade).
Caso esta seja a interpretação correta, a
passagem jamais deveria ser utilizada para legitimizar atividades missionárias
em terras estrangeiras, como geralmente se faz (tanto Gadara como Gerasa são
cidades gentílicas e Jesus teria operado milagres em alguma delas). O texto
seria uma crítica à ocupação das tropas romanas, instaladas no local desde 63
a.C. sob a liderança de Pompeu. Mas mesmo que esta última interpretação seja
tomada como certa, fica a pergunta: por que Marcos escolheu uma cidade tão
longe do mar da Galileia (Mt parece querer aproximar)? Mesmo que o relato não
seja histórico seria de se esperar certa preocupação com os aspectos geográficos
da região. Ou o autor do segundo Evangelho não conhecia bem a região da Galileia?
O tema merece uma investigação melhor.
Jones F. Mendonça
Em tempo: Flávio Souza Cruz, do Ad Cummulus, acabou lendo meu texto e sugeriu uma resposta ao problema da distância entre Gadara/Gerasa ao "mar". Estou convencido de que ele matou a charada. Leia aqui um texto seu escrito em 2008.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
TEMPLOS, RITUAL E SIMBOLISMO CÓSMICO NO MUNDO ANTIGO [E-BOOK GRÁTIS]

Baixe aqui (clique na seta ao lado de "termos de uso").
LUTERO: “O DIABO É O DIABO DE DEUS”
Na perspectiva cristã há três personagens no
Éden: Deus, o diabo e o ser humano. O humanismo eleva o homem. O dualismo
maniqueísta eleva o diabo. A Reforma eleva Deus. É preciso estar atento: quando
qualquer um dos três cresce, uma sombra cresce junto.
Se atribuirmos a Deus absoluta soberania (tudo o
que ocorre é um desdobramento de seus decretos infalíveis) e o status de sumo
bem (nele não há mal algum), o que resta ao diabo e ao humano?
Ora, se em Deus não há mal algum (não possui
natureza dual), é preciso colocá-lo na conta do diabo. Mas Deus não é absolutamente
soberano? Como o diabo poderia agir fora de seus decretos? Os reformadores
admitem uma antinomia: tanto o diabo como o homem agem de acordo com Seus decretos,
todavia são responsáveis pelo mal que praticam.
Com tal solução o diabo torna-se “o diabo de
Deus” (frase de Lutero), uma espécie de “capitão-do-mato” dos céus. O homem torna-se um mero ser cuja vontade é “como um jumento, montada ou por Deus ou
pelo diabo” (outra frase do reformador alemão). Deus usa o diabo para uma "obra
alheia” (opus alienum), mas que ao
mesmo tempo é sua “obra própria” (opus
proprium). Confuso? Voltemos ao Éden.
Enquanto passeavam pelo jardim, homem e mulher
cometeram uma infração. Mas a queda, segundo Calvino, já havia sido decretada
por Deus. O diabo, travestido de serpente falante, foi um instrumento divino
para que este propósito fosse cumprido. Deus é a mão, o diabo a lança, o homem a
carne ferida.
A ferida infecciona. Calvino dispara: culpa do
homem! Até há remédio, ele diz, mas só para os eleitos.
Jones F. Mendonça
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
SEJA BÍBLICO, SEJA TRADIÇÃO![?]
Dica para
encontrar o verdadeiro sentido das Escrituras segundo um escritor cristão:
compare as versões e seja bíblico! Hummm, será?
O primeiro
problema está na comparação entre as versões. Ora, comparar versões em busca da
melhor tradução é como buscar a mais fiel reprodução artística de um rosto por
meio da comparação entre as telas. O mais óbvio não seria comparar as
reproduções com o rosto real? No caso do texto, seria preciso conhecer o “rosto
original” (texto original, o autógrafo). Vale lembrar que neste caso não existe
um “rosto original”, mas “cópias embaçadas do rosto original”. Tal tarefa, como
se vê, é bem mais árdua.
O segundo
problema está no imperativo “seja bíblico”. Ora, se o que o leitor está
buscando é exatamente o sentido do texto bíblico, como ele poderá assumir uma
postura bíblica antes mesmo de ter acesso ao texto? Um argumento circular ingênuo.
Os católicos ao menos são honestos. Sabem (e admitem) que no final das contas quem manda é a tradição.
Jones F.
Mendonça
sábado, 10 de agosto de 2013
DÉFENSEUR DU TEMPS
"O Defensor do Tempo", fantástico relógio autômato criado pelo artista Jacques Monestier em 1979. Infelizmente está parado por falta de manutenção. Mais informações aqui.
Jones F. Mendonça
Jones F. Mendonça
terça-feira, 6 de agosto de 2013
ECCE HOMO
Homo
sapiens que pensa, reflete, arrazoa. Animal que se distingue dos demais. Fala, expõe ideias, transmite cultura. Face inversa do homo demens da guerra,
da barbárie, da crueldade e da cegueira. Homem, tumulto ambulante hospedando
uma luta incessante entre racionalidade e a demência.
Homo
ludens, que com seus brinquedos se diverte, expõe os dentes, ri. Histrião que
articula a realidade com a fantasia. Que se lança ao jogo que fascina, que
alegra, que faz esquecer as desilusões. Dimensão
humana que contempla o júbilo, a criatividade e a exultação, mas também
transgressão, trapaça e ilusão. É homem em estado de festa, é homo festivus.
Homo
faber, que com a ajuda do intelecto fabrica, constrói, manipula a natureza a
seu favor por meio da técnica. Faz fogo, faz roda, faz anzol, faz choupana, faz
livro, faz deuses, faz-se a si mesmo com seu espírito inventivo.
Homo
viator, que caminha, peregrina, que é itinerante. Ser insaciável que explora o
ar, a terra e o mar. Homem pleno de expectativas, que vê diante de si um futuro
aberto, cheio de novidades e possibilidades. Pensa a respeito da vida e da
morte, do finito e do infinito, do eterno e do fugaz. Quer ir mais longe (quer
ir longe demais?). Que transcender...
Homo
religiosus, cheio de fé, de ritos, de mitos, de esperanças. Homem que se curva
diante do Mistério. Que geme em suas súplicas. Que se entorpece na cantoria. Que
almeja o infinito. Que eleva os olhos para os céus em busca de redenção.
Homem,
o que tu és e qual o teu destino?
Jones
F. Mendonça
PS: As
mulheres que me perdoem, mas na busca por uma melhor fluidez do texto vi-me
forçado a empregar a palavra homem como sinônimo de humano.
domingo, 4 de agosto de 2013
CAECA SOMNIA
Em 15 de junho
de 1520 Lutero foi ameaçado de excomunhão. A bula Exsurge Domini condenou 41 de
suas 95 teses. Como o monge agostiniano não se retratou, em 03 de janeiro de
1521, por meio da bula Decet Romanum Pontificem, o papa Leão X o excomungou. Lutero
rebelou-se contra os “ungidos do Senhor”. Nascia a igreja protestante.
A grande ironia
disso tudo? Pregadores televisivos, filhos bastardos da Reforma, me aparecem
ameaçando fies que denunciam atos ilícitos cometidos por pastores, os novos “ungidos
do Senhor”. E as ovelhas cegas, já sem pelo, totalmente tosquiadas pelos
pastores pilantras, dizem amém!
Jones F.
Mendonça
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
quarta-feira, 31 de julho de 2013
CAMBULHADA DA FÉ
Liturgia convoca os fiéis. Karisma grita
aleluia. Ortopraxis faz caridade. Doxa acende uma vela. Teofania usa um véu. Sacramento
eleva o cálice. Metanoia se dissolve em lágrimas.
Hamartia lava as mãos numa bacia. Escatologia olha
para o céu. Heresia faz preces a um santo torto. Apologética
torce o nariz. Dogma franze a testa. Excomunhão faz ameaça. Inquisição põe-se
de pé.
Cisma discute com Ecclesia. Dialética faz
perguntas. Homilia prepara um esboço. Teodiceia cria alvoroço. Exegese consulta um
livro. Sistemática procura Doutrina. Antinomia provoca Teologia. Cúria entra em
polvorosa.
Piedade reza um terço. Ladainha acompanha Beata.
Devoção faz o sinal da cruz. Koinonia abraça Filia. Encarnação segura um
crucifixo. Katarsis entre em êxtase.
Divina, no dorso de um querubim, apenas sorri.
Jones F. Mendonça
terça-feira, 30 de julho de 2013
O PAPA, OS GAYS E AS MULHERES
Numa conversa com jornalistas durante seu retorno ao Vaticano, o papa Francisco falou, dentre outras coisas, sobre o papel das mulheres na igreja e sobre o lobby gay. A entrevista, compilada por Jamil Chade e publicada no Estado de São Paulo (29/07/13), pode ser lida no site da IHU Unisinos.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 25 de julho de 2013
ENCONTRADA A CASA DO PROFETA ELISEU [SERÁ?]
A CNN anunciou que o arqueólogo israelense, Amihai Mazar (primo de Eilat Mazar), encontrou uma casa onde pode ter morado o profeta Eliseu. Durante as escavações, em Tel Rehov, no Vale do Jordão, foi achado um vaso quebrado com uma inscrição que alguns sugerem ser o nome "Eliseu" (em hebraico: 'eliysha'), datado para o século IX a.C.
Está desconfiado como eu?
Jones F. Mendonça
sexta-feira, 19 de julho de 2013
PALÁCIO DE DAVI DESCOBERTO: VERDADE OU FICÇÃO?
Segue trecho de um artigo sobre o anúncio da descoberta do palácio de Davi em 2005 publicado originalmente no The New York Times, e divulgado pela Folha de São Paulo:
Uma arqueóloga israelense [trata-se de Eilat Mazar] diz ter descoberto em Jerusalém Oriental o lendário palácio do rei bíblico Davi. Seu trabalho foi apoiado por um instituto de pesquisa conservador de Israel e financiado por um banqueiro judeu americano [trata-se de Roger Hertog] que gostaria de provar que Jerusalém foi mesmo a capital de um poderoso reino na época de Davi, como diz a Bíblia.
Confesso que achei a matéria tendenciosa (parece
querer desacreditar a alegada descoberta). A ênfase no financiamento por parte
de um judeu rico de Nova York e a expressão "instituto de pesquisa
conservador" chamaram minha atenção. O fato é que tanto arqueólogos da
chamada “escola minimalista” (Israel Finkelstein) como da “escola maximalista”
(Yoseph Garfinkel) discordam da interpretação dada por Mazar. Quanto a este
último é preciso dizer algo mais.
Garfinkel acaba de anunciar (18/07/13) a descoberta de ruínas do que teria sido o palácio de Davi, construído em Khirbet Qeiyafa, no vale de Elah (um palácio alternativo ao de Jerusalém, reservado para momentos de crise). Seu palácio real edificado na capital de Judá ainda estaria sob os escombros. O anúncio foi feito no último dia de escavação. Na opinião
de Joseph Lauer tudo não
passa de uma manobra para captar novos recursos. Será?
Conheço Garfinkel e Mazar de longa data e sei
que a imparcialidade não é uma de suas virtudes. Escavam com a Bíblia numa mão
e a picareta na outra. Tivessem achado um vaso com a inscrição MLK DWD (rei
Davi) teria sido mais fácil sustentar a teoria.
Vale lembrar que a existência de um líder
carismático chamado Davi raramente é contestada por quem estuda a história de
Israel (a descoberta da estela de Tel Dan, com a inscrição BYT DWD – casa de
Davi –, parece confirmar a existência de tal personagem). O que se discute é se
essa figura realmente governou uma monarquia unida no século X a.C.
Também nunca é demais destacar que as escavações
em Israel geralmente ocorrem sob pressão política
(legitimação de Jerusalém como capital de um antigo reino israelita unificado),
religiosa (busca de provas que
atestem a veracidade dos relatos bíblicos) e econômica (financiamento de pesquisas).
Texto editado em 22 de julho de 2013.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 18 de julho de 2013
LEITURA DIÁRIA
Todos os dias, enquanto tomo o café da manhã,
visito uma série de sites que me mantém informado a respeito dos mais diversos
assuntos. Minha leitura diária inclui os seguintes sites:
Teologia:
Peroratio, Observatório Bíblico, RevistaBrasileira de História das Religiões, Oracula, Radio Vaticano, Biblical
Archaeology Review, Israel Antiquities Authority, The Journal Hebrew
Scriptures, Paleojudaica, Rollston Epigraphy, Biblical Studies and Technological Tools, Bible Places, Leon’s Message
Board, Ferrel Jenkins, ASOR Blog, The Bible and Interpretation, Tabor Blog,
Ritmeyer archaeological design, The Jewish Daily Forward, Tablet Magazine,
Religion Dispatches, BBC Religion & Etics.
Notícia:
Carta Capital, Opera Mundi, IHU Unisinos, OutrasPalavras, Haaretz (jornal israelense de esquerda), J Post (jornal israelense de
direita), Arutz Sheva, Al Jazeera, Al Akhbar (jornal turco), Russia Today,
Desert Peace, Mondoweiss, Guga Chacra.
Não será difícil achar os sites não “linkados”
copiando e colando os títulos inseridos acima na barra de busca do Google.
Jones
F. Mendonça
segunda-feira, 15 de julho de 2013
MANIQUEU E O FACEBOOK EM PRETO E BRANCO
Zeca Conspira produz, com a ajuda do Photoshop,
outra imagem onde aparecem Lula ao lado de Hitler, Mussolini, Stalin, Fidel
Castro e o maníaco do parque. Em letras ensanguentadas os dizeres: “Foro de São
Paulo prepara golpe comunista em toda a América Latina”. João Fantoche e mais dois
milhões de pessoas que sequer conhecem as diferenças elementares entre os
projetos da esquerda e da direita (o “filósofo do YouTube” disse que a esquerda
está sob a égide do capeta e isso basta) compartilham a imagem.
E assim o Facebook vai servindo para propagar a
crença num mundo reduzido a dois pólos apenas: o bem e o só mal; o certo e o
errado; o justo e o injusto; o capaz e o incapaz; o Fernando e o Luiz (ou o
Luiz e o Fernando).
Universo binário. Mundo em preto e branco. Medonha
retórica bipolar de Maniqueu.
Jones F. Mendonça
FOI-SE A POSTAGEM NÚMERO MIL

Vez por outra penso em fazer uma revisão no Blog. Confesso que apagaria umas cem postagens (das mais antigas). Desde maio de 2009 muita coisa aconteceu. Colhi coisas novas, abandonei coisas velhas, embrenhei-me em temas diferentes, etc. Mas como daria muito trabalho revisar todas essas mil postagens, fica do jeito que está.
Agradeço aos leitores pela fidelidade e pelos comentários (críticas, elogios, sugestões, etc.), que tem se mantido na média de 01 por postagem . Não é lá grande coisa quando comparado aos Blog mais populares, apesar disso sinto-me satisfeito.
Jones F. Mendonça
sábado, 13 de julho de 2013
ALMA CANSADA
sexta-feira, 12 de julho de 2013
FUNDAMENTALISMO II

Crash começa seu discurso dizendo que tanto a
ciência quanto a religião têm pressupostos nos quais se assentam. A ciência -
enfatiza o doutor - observa, analisa, experimenta. Os cientistas crêem (ele enfatiza o
“crêem”) que as observações, análises e experimentos científicos podem descrever
a realidade. A religião, ele diz, crê (ele enfatiza o "crê") que um Deus Todo-Poderoso
existe e que, portanto, pode fazer uma serpente falar. Partindo desse princípio,
ele conclui: não é irracional dizer que uma serpente falou. Ah, tá...
PS: Meu amigo, se você crê que uma serpente
falou no Éden, que árvores ardem sem queimar ou que machados flutuam, tudo bem,
não se sinta envergonhado. Todo mundo
(ou pelo menos a grande maioria das pessoas) possui crenças que extrapolam os limites
da razão. Agora para com essa conversa de “argumentos racionais”. Negócio
doentio.
Jones F. Mendonça
FUNDAMENTALISMO I

Pacientemente você diz a ele que até o início do
século XVI todos pensavam que a terra era o centro do universo. A partir de
Copérnico a coisa mudou. Não é que a terra deixou de ser o centro do universo.
Ela nunca foi. Apenas descobriram que a coisa não era assim. Talvez com o homossexualismo tenha acontecido o mesmo. O sujeito fica
indignado: “Então você compactua com esses psicólogos pós-modernos, neo-ateus e
também nega que a homossexualidade seja uma doença?”. “Veja”, você responde,
“não quero entrar no mérito da questão, só estou dizendo que seu argumento é
falho, afinal nossas opiniões sobre as coisas mudam, e...”. Ele interrompe:
“Mas está na Bíblia!”. Você faz uma nova pausa. Respira fundo. Comete o segundo
erro: alimenta a conversa.
A fila está bastante longa. Ainda há muito que
esperar. Você é (como eu) uma daquelas pessoas (ingênuas?) que acha que sempre
é possível dialogar com outro ser humano. Encontra um novo ânimo: “Atente para
o seguinte, você não conhece minha religião, logo não pode usar a Bíblia para
me convencer do que quer que seja”. O sujeito não perde tempo: “Ah, eu sabia.
Então além de gay, você é ateu!”.
Moral da história: nunca, jamais, em hipótese
alguma, discuta com um fundamentalista.
Jones F. Mendonça
quinta-feira, 11 de julho de 2013
INDULGÊNCIA PLENÁRIA: REMISSÃO DAS PENAS, NÃO DOS PECADOS
O site Genizah publicou artigo originalmente divulgado pela France Press, via G1, dizendo que o Papa Francisco concederá indulgência plenária aos fiéis que participarem da Jornada Mundial da Juventude. Há um erro no título do artigo publicado no site (e também no corpo
do texto do artigo original). Diz o título: “Vaticano concede remissão dos pecados a
participantes da Jornada Mundial da Juventude”. Ops, não é bem isso.
No entendimento dos católicos a indulgência plenária não tem poder de perdoar pecados, mas apenas suprimir as penas devidas pelos pecados, requeridas como compensação pela falta cometida (can. 993). Eu explico. O sacramento da penitência envolve três momentos distintos: a contrição (arrependimento), a confissão (ao padre) e a satisfação (reparação pela falta por meio de uma penitência , como rezas, peregrinações, boas obras, etc.). A indulgência plenária tem objetivo absolver o fiel da penitência exigida para que ocorra a satisfação.
No século XVI Lutero se impôs contras a venda de
indulgências, ou seja, criticou a substituição das penitências públicas pelo pagamento
em dinheiro (uma prática aparentemente oriunda do direito germânico). Entre o
povo acabou sendo difundida a ideia - sob influência de alguns padres
aproveitadores e a “vista grossa” do Papa – de que as indulgências perdoavam
pecados. Lutero, imaginando que o Papa fosse ouvir suas denúncias (conf. art.
50: “se o Papa soubesse...”), escreveu, nos artigos 33 e 34:
33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.
34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
Ao autor do post publicado no Genizah caberia
corrigir o título: “Vaticano concede remissão
dos pecados...” por “Vaticano concede remissão das penas devidas pelos pecados...”. Caberia ainda
aos editores do site alertar os leitores do equívoco cometido pelo autor
original do artigo (France Press). Fiz a sugestão aos editores do site, mas não
parecem dispostos a corrigir a falha.
Apontar falhas na doutrina católica (e em qualquer outra) faz parte do jogo. O que não vale é criticar uma coisa que não existe.
Leia o Decreto promulgado pelo Papa Francisco e publicado na Rádio Vaticano aqui.
Jones F. Mendonça
quarta-feira, 10 de julho de 2013
PAPA DE TINTA: VERDADE EM GUACHE
O sujeito fica
inconformado com o número absurdo de interpretações diferentes dadas a um mesmo
texto bíblico. Ele pensa: “ora, o texto deve ter um sentido apenas. Devo me
empenhar em descobrir seu sentido original, verdadeiro”. Então ele acaba
conhecendo dois métodos de interpretação que o acaso lhe põe às portas: o método histórico-gramatical e o histórico-crítico. Abre parêntesis: há
um grupo de exegetas que acha que o texto tem vida própria, fala o que der na
telha dependendo do momento e do lugar. É como massinha de criança, ou boneco
de ventríloquo, brinquedo maleável nas mãos do pequeno infante. Serve para divertir,
não para interpretar. Desses nem vale a pena falar. Fecha parêntesis.
No âmbito protestante os que adotam o
método histórico-gramatical possuem pressupostos metodológicos ancorados no
dogma, verdade que nasceu do voto "inequívoco" dos antigos. O texto parece dizer
“A”, mas na cartilha rota do dogma a orientação é que o texto diga “B”. Para
estes não há o que discutir, o dogma tem sempre razão. Trata-se de um método
bem parecido com o dos católicos. Entre eles se diz: Roma locuta, causa finita. No meio protestante, há os pequenos “papas
de tinta”. São, como os de lá, “infalíveis”.
A diferença? Falam pela boca dos líderes denominacionais.
Os que adotam o
método histórico-crítico buscam desnudar o dogma. Recusam-se a usar as lentes
da tradição viciadas pelo uso. Querem lentes novas e límpidas, capazes de ver
os pequenos fios entrelaçados que formam o texto. Desmontam, decompõem,
fragmentam o texto em mil pedaços. Sugerem que ele possui muitas texturas, rica
gama de cores, miríades de fios diferentes tecidos por uma centena de teares
manipulados por hábeis mãos que atravessaram séculos no exercício da arte de
fiar. O que descobrem geralmente não agrada os que foram iniciados no ofício de
repetir, copiar e manter. A sombra do dogma lhes obscurece a vista. Onde parecia
haver um camelo, vê-se que há um mosquito. Onde parecia haver um mosquito, vê-se que há um camelo. Papa de tinta, verdade em guache.
Jones F.
Mendonça
quarta-feira, 3 de julho de 2013
O ANTIGO TESTAMENTO EM POUCAS LINHAS
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Clique para ampliar. Resolução: 1066 x 798 |
Trata-se de uma
narrativa simples, sem qualquer tipo de observação crítica. O objetivo é
apresentar um panorama da história de Israel (conf. Bíblia hebraica) com o
auxílio de um mapa.
Pentateuco - Abraão sai de Ur dos caldeus[1] e
migra para Canaã, na costa oriental do Mediterrâneo (cap. 12 do Gênesis). Seu pai morre em Harã[2] e
o patriarca prossegue viagem até que chega a seu destino[3]. Por causa da fome
os descendentes de Abraão (Isaque > Jacó > 12 filhos) migram para o
Egito[4]. Alguns séculos depois os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó seguem
para Canaã sob a liderança de Moisés (Êxodo). Ele atravessa o Mar Vermelho [5], recebe
a Lei no Sinai [6] e peregrina pelo deserto (Levítico, Números) por cerca de 40 anos[7]. Ao fim
desse período Moisés morre no Monte Nebo[8] (Deuteronômio).
Livros históricos - Josué, seu auxiliar,
atravessa o Jordão [9] e destrói Jericó, Ai e outras cidades do do sul (como Hebrom) e do norte (como Hazor). Segue-se um período de batalhas
lideradas por heróis regionais carismáticos chamados de juízes. Samuel, o último juiz (que também é sacerdote e profeta),
inaugura a monarquia em Israel ungindo Saul. Antes que Saul morra Davi é ungido
rei em Hebrom[10] pelo mesmo Samuel. Salomão, filho de Davi reina em seu lugar (início do livro dos Reis),
mas por causa dos altos impostos o reino de Israel acaba se dividindo entre
Roboão (seu filho), ao Sul, e Jeroboão (um líder carismático exilado por Salomão
no Egito), ao Norte. Samaria[11] se consagra como capital do reino do Norte (sob
o governo de Omri). Em 722 é destruída pela Assíria [12]. Jerusalém, que se
firmara como a capital do Sul[13], é tomada pelos babilônios[14] em 586. Babilônia
cai nas mãos de Ciro, o persa, em 537. O povo exilado recebe autorização do monarca
para retornar à Judá (final do livro de Crônicas) e o templo é reconstruído em 515 (Esdras e Neemias).
Ah, o mapa foi feito no Power Point.
Jones F. Mendonça
Ah, o mapa foi feito no Power Point.
Jones F. Mendonça
terça-feira, 2 de julho de 2013
PERPÉTUO DEVIR
Ponta de lança,
escudo feroz, cheiro de guerra no ar.
Dentes risonhos,
taças de vinho, tempo de paz no reino de luz.
Mar bravio,
velas sem rumo, Netuno que agita o abismo sem fim.
Espelho d’água,
lago sereno, dorso da noite sob o luar.
Flechas que
mancham.
Salpicos da
vide.
Reino de nobres,
guerreiros, servos, bufões, donzelas de delicada tez,
todos a rir e a
chorar ante o inexorável e difuso fluxo do devir.
Jones F.
Mendonça
quarta-feira, 26 de junho de 2013
A DIALÉTICA EM HERÁCLITO, PLATÃO, ARISTÓTELES, HEGEL, MARX E BARTH

Um bom ponto de partida para compreender o que
vem a ser dialética (dia=um para o
outro + legein=dizer, explicar) é
conhecer as ideias de Heráclito.
Heráclito
(540-476 a.C.):
Atribui-se a Heráclito de Éfeso a criação de uma nova forma de ver o mundo, a dialética
(ainda que o termo só tenha sido empregado mais tarde, por Platão). Discordando
dos eleatas, filósofos da cidade de
Eleia que defendiam um universo de estado imutável, Heráclito dizia que a natureza
está sujeita a uma única lei: a lei da
mudança. “Ninguém pode se banhar duas vezes no mesmo rio, porque o rio não
é mais o mesmo”, dizia o filósofo. Para Heráclito tudo está em constante
transformação, “tudo flui” (gr. panta rei), e não há nada que seja perpétuo, exceto o
constante devir (ou vir-a-ser). “O que se opõe coopera, e da luta dos
contrários procede a mais bela harmonia”, insistia o filósofo de Éfeso.
Platão
(424-347 a.C.):
Platão é bem conhecido por ter sido discípulo de Sócrates e de ter fundado a
Academia, uma escola dedicada à ciência e à filosofia que se reunia
no jardim de Academo. Para Platão é por meio do diálogo e da conseqüente
confrontação de ideias que os equívocos são eliminados e a verdade aparece. Em
Platão a dialética é um instrumento de busca
da verdade. É importante compreender que para Platão “aprender não é outra
coisa senão recordar”. Para ele o conhecimento racional jaz dormente na alma e
precisa ser despertado. E como se acorda esse “conhecimento latente”? Por meio
da dialética, responderia o filósofo. Assim, a dialética de Platão pressupõe a pré-existência da alma e o inatismo das ideias. A dialética
platônica se expressa nos diálogos escritos pelo filósofo, particularmente nos
chamados “diálogos da maturidade”, tais como o Menon, o Fédon e a República.
Aristóteles
(384-322 a.C.):
Aluno de Platão e filho de um médico, Aristóteles se tornou mestre de
Alexandre, o Grande. Em Aristóteles a dialética constitui a parte da lógica que
estuda os raciocínios prováveis. Não trazem certeza nem descobrem a verdade como
em Platão, mas opinião ou probabilidade.
No pensamento do filósofo a dialética
declina em favor do método analítico
(silogismo demonstrativo ou científico), ganhando um sentido negativo ou até
mesmo pejorativo. A relação entre dialética e analítica é tratada no Organon. A diferença entre esses termos
diz respeito, acima de tudo, às premissas: a analítica decompõe silogismos e
demonstrações científicas (fundamentos seguros); a dialética tem a ver com o
ato retórico de persuasão (premissas não isentas de dúvidas).
Hegel
(1770-1831):
Há quem considere a filosofia hegeliana como um imenso e elaborado platonismo,
mas é importante destacar que Hegel repudia qualquer visão de dois mundos. Para
ele as ideias estão nas coisas, como Aristóteles. Como já foi apresentado, a
dialética repousa nas contradições internas, ou nos opostos presentes em todas
as áreas da vida humana. Para Hegel a dialética é o movimento racional que nos
permite superar essas contradições. A dialética de Hegel é concebida em três
etapas: tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (negação da negação). Tese e
antítese são sempre falsas, mas impelem para uma síntese que concilia os
opostos que eram excludentes. O conhecimento é considerado como um processo
contínuo, histórico e progressivo. A filosofia hegeliana é considerada idealista porque busca explicar a
evolução do mundo pela evolução da ideias. Hegel achava que o homem poderia
transformar a realidade de acordo com critérios racionais: mudam-se as ideias,
mudam-se as coisas. Colocando em outros
termos: “A verdade é o movimento da ideia”.
Karl Marx
(1818-1883):
o filósofo alemão converteu a dialética em um método com a ajuda de Friedrich Engels, seu parceiro na
elaboração do Manifesto Comunista. Ele inverteu a dialética hegeliana sugerindo
que o mundo material é o fundamento das ideias e não o contrário como anunciava a
filosofia idealista de Hegel. Em suma: “as
coisas vão de transformando e as ideias vão atrás”. Em primeiro lugar vem a
natureza, que é transformada pela ação humana em meios de produção (relações
materiais=infraestrutura). São essas
relações materiais, segundo Marx, que sustentam todos as crenças, ideias,
teorias e pensamentos da sociedade (ideologia=superestrutura). Em termos mais vulgares:
“segundo vive o homem, assim ele pensa”. Ainda que tenha insistido que a
superestrutura é reflexo da infraestrutura, Marx acentuou que ambas acabam por
se influenciar reciprocamente (repudiando o materialismo mecanicista).
Karl Barth
(1886-1968):
A teologia de Barth é denominada dialética porque para ele o falar de Deus
sempre expressa simultaneamente um sim e um não: está distante, mas também está
próximo; sua Revelação, a Bíblia, é simultaneamente palavra de Deus e palavra
de homens. Em seu comentário sobre Epístola
aos Romanos, de 1919, Barth elaborou a dialética entre tempo e eternidade e
entre Deus e o homem. Ora, se o homem e Deus estão numa relação antitética (de
oposição), em que medida é possível encontrar uma síntese? Como superar a
presença simultânea do “sim” e o “não” que atravessam o homem? Atormentado pelo
fantasma de Hegel, Barth saiu em busca de uma resposta. Rejeitando as soluções
dadas pela teologia natural (superação
da dualidade pela razão humana) e pela teologia
mística (superação da dualidade pela contemplação), o teólogo chegou a
conclusão de que o homem não pode se livrar de sua “dualidade demoníaca” senão
pela redenção, uma revelação exclusivamente vertical (de cima para baixo, como
na tradição calvinista). Só ela permite ao homem saber que está numa condição
de alienação e de morte. Enfim, o laço da contradição que atormenta o homem só
pode ser desfeito por iniciativa divina. No ato da encarnação (visto como um
ato de amor) Deus se faz culpado da contradição contra si mesmo. Dado o seu
caráter dialético, a teologia Barth também ficou conhecida como “teologia da crise”. Entre os discípulos
de Barth que mais se destacaram figuram Emil
Brunner e Friedrich Gogarten.
Jones
F. Mendonça
terça-feira, 25 de junho de 2013
CONSPIRAÇÕES FACEBOOKIANAS

Mães Dinás, Nostradamus virtuais, engenhosos prognosticadores
facebookianos...
Meus Deus!
Jones F. Mendonça
segunda-feira, 24 de junho de 2013
VÃO AS LEIS COMO QUEREM OS REIS
Século XVI,
década de 30. Lutero, escandalizado com as teorias heliocêntricas de Copérnico
publicadas em seu Commentariolus, em
1513-14, saiu-se com essa:
“O povo dá ouvidos a um astrólogo pretensioso que se empenha em mostrar que a terra gira, e não os céus e o firmamento, o sol e a lua... Esse louco quer reverter o esquema inteiro da astronomia; as Santas Escrituras, porém, falam-nos que Josué ordenou ao sol quedar fixo, e não a terra”[1].
“O povo dá ouvidos a um astrólogo pretensioso que se empenha em mostrar que a terra gira, e não os céus e o firmamento, o sol e a lua... Esse louco quer reverter o esquema inteiro da astronomia; as Santas Escrituras, porém, falam-nos que Josué ordenou ao sol quedar fixo, e não a terra”[1].
Calvino, numa
exegese um tanto duvidosa, arrematou com o Salmo 93,1: “Firmou o mundo que não
vacila”. E acrescentou: “Quem se aventuraria a colocar a autoridade de
Copérnico acima da do Espírito Santo?”[2].
Quinhentos anos se
passaram. A Bíblia ainda é um vaso na mão do leitor-oleiro. A interpretação é literal apenas quando e enquanto convém. Vale o ditado latino: “Quae vult rex fieri, sanctae sunt congrua legi” (vão as leis como
querem os reis).
Notas:
[1] Lutero, Table Talk , 69, in Fosdick, Great Voices
of the Reformation, XVIII apud DURANT, Will. A Reforma, 2001, p. 724.
[2] In Russel. B, Hy of Western Philosophy, 528 apud id
ibid.
Jones F.
Mendonça
terça-feira, 18 de junho de 2013
MONGE REBELDE: ALEMANHA EM CHAMAS
Em outubro de 1517 Lutero divulga suas famosas
95 teses contra as indulgências. Em janeiro de 1521 o reformador é excomungado
com a Bula Decet Romanum Pontificem. A Alemanha entra em convulsão.
Fico imaginando se a revista Veja já existisse
naquela ocasião: “LUTERO, O MONGE REBELDE: A ALEMANHA EM CHAMAS!”. Na mesma
linha seguiriam Reinaldo Azevedo (o blogueiro mais azedo da Veja) e Olavo de
Carvalho (o filósofo super pop das massas). Diriam que a revolta é absurda e que
é preciso deter o “padreco rolabosta”.
Talvez você seja católico e diga que a revista e
os dois homens têm razão. Tenho outra carta na manga. Em 1525 explode a revolta dos
camponeses na Alemanha. Lutero condena os revoltosos e justifica a servidão com
um texto da Bíblia. Diz que Abraão tinha servos e que o mundo não sobreviveria
sem a existência deles. Em seguida escreve um texto duro contra os camponeses (Contra
os ímpios e celerados bandos de camponeses). “Sufoquem no sangue a rebelião!”,
grita o reformador. Capa da revista Veja: “LUTERO, BASTIÃO DA JUSTIÇA E DA
ORDEM”. Reinaldo e Olavo exaltariam o reformador pela coragem em condenar a
rebeldia daqueles “camponeses vagabundos”, gente ignorante e mal educada.
No mundo há pessoas ingênuas o suficiente para
pensar que o mundo conhecerá mudanças apenas com o voto, com preces e
orações.
Jones F. Mendonça
terça-feira, 11 de junho de 2013
VERDADES NÔMADES, SENTIDOS ERRANTES
Alguns rabinos estão a discutir a respeito da consoante que inaugura o
livro de Bereshit (Gênesis). Querem
saber por que o primeiro livro da Torá começa com a segunda letra do alfabeto
hebraico (beyt) e não com a primeira
(álef). É um belo final de tarde e um
raio de luz atravessa a janela da sinagoga. Os talmidim (discípulos) estão ansiosos pelas respostas que serão
apresentadas por seus mestres.
Um dos rabinos se levanta e diz: “A letra beyt é a segunda letra do alfabeto e também simboliza o número dois. O que
nos ensina que para criar o texto bíblico foram necessárias pelo menos duas pessoas: Deus e o seu parceiro, o ser humano”. Outro rabino se põe de pé e
apresenta uma explicação diferente: “O beyt
é a letra de bênção (berakhá) e o álef a da maldição (arirá)”. Um terceiro rabino se levanta e apresenta uma explicação
baseada no formato da letra beyt. O
ferreiro martela a bigorna. Saem faíscas mil. Texto, depósito de infinitos sentidos.
Com um método de leitura desses não há qualquer diferença entre ler o Corão,
os Vedas, o Avesta, uma receita de bolo ou uma lista telefônica. O que dirige a
leitura é o devaneio criativo do leitor. Texto, caleidoscópio de sentidos. Gaveta
de segredos da alma.
Talvez revele algo sobre o leitor. Já em relação ao redator...
Jones F. Mendonça
sábado, 8 de junho de 2013
MANUSCRITOS DO MAR MORTO EM ALTA RESOLUÇÃO
Que tal dar uma boa olhada em fragmentos dos manuscritos do Mar Morto com possibilidade observá-lo bem de perto?
Jones F. Mendonça
quarta-feira, 5 de junho de 2013
UM ENCONTRO COM DEUS
A menina morre e tem um encontro com Deus. Mas para sua surpresa...
Sobra até para o Malafaia.
Sobra até para o Malafaia.
SOBRE AS MULHERES E A DOMINAÇÃO MASCULINA
No quesito força física o homem sempre esteve em vantagem em relação à mulher, por isso a dominava. Então veio a Revolução Industrial. As máquinas substituíram a força do braço pela força do carvão, da energia elétrica, etc. Houve um nivelamento. A fêmea, tão hábil e inteligente quanto o macho, passou gradativamente a ocupar o espaço até então dominado pelo sexo oposto.
E esta é a pequena história de como o homem entrou em crise...
Jones F. Mendonça
terça-feira, 4 de junho de 2013
TEOLOGIA EM BORRA DE CAFÉ

O aluno diz ter lido num livro que o álef
representa “o potencial não realizado” e “o som que existe antes do som”. Ouviu
dizer que a mudez da letra (o álef é uma consoante sem som) faz alusão ao
silêncio do ser humano diante da imensidão do universo. Por fim afirma ter
ouvido de um rabino que os pequenos sinais que aparecem no canto superior
direito e inferior esquerdo entre o traço diagonal que forma o álef
representam, respectivamente, as águas superiores (alegria por estar perto de
Deus) e inferiores (tristeza por estar longe de Deus). Enfim, pensou que a
consoante tivesse algum significado especial, profundo. Um código secreto,
talvez. Fica decepcionado.
Aconselho-lhe o tarô, a gematria, a kabalah, a adivinhação
em borra de café, tripas de ave, runas, bola de cristal, etc. São caminhos
diferentes que trabalham com o mesmo elemento: a imaginação criativa do
sujeito.
Jones F. Mendonça
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