terça-feira, 10 de junho de 2025

LUCAS E O POBRE

1. Logo na abertura do Evangelho de Lucas o leitor é informado a respeito do nome do destinatário do texto: “excelentíssimo Teófilo” (1,3). A palavra grega traduzida por “excelentíssimo” é o superlativo de “κρατος” (kratos), que significa “poderoso”. Assim, esse tal Teófilo, seja quem for, é alguém “poderosíssimo”, ou, como dizemos hoje, “excelentíssimo” ou “ilustre”. Em suma: uma pessoa importante. Só recebem este tratamento no Novo Testamento o governador Félix e seu sucessor, Festo (At 23,26; 24,3; 26,25).

2. “Lucas” escreve para Teófilo, o “excelentíssimo”, com objetivos claros: “narrar os fatos que se cumpriram entre nós [os seguidores do Crucificado], desde o princípio”, “de modo ordenado”, “após acurada investigação” (Lc 1,1-3). O autor do texto acrescenta que a composição do relato foi feita com a ajuda de “testemunhas oculares e ministros da palavra”. Assim, este autor – que não sabemos sequer se é Lucas, “o médico” de Col 4,14 – indica que pretende contar a Teófilo a história de Jesus, tal como havia recebido de outras pessoas.

3. Em “Lucas” Jesus é o defensor dos humildes, dos famintos, constantemente oprimidos pelos “homens de coração orgulhoso”, pelos “ricos” (Lc 1,51-53). Em "Lucas" Jesus veio “evangelizar os pobres” e “libertar os oprimidos” (4,18). Em “Lucas” são “bem-aventurados os pobres” e malditos os “ricos” (6,20.24). Em “Lucas” o pobre “coberto de úlceras”, que se alimenta da mesa do rico, é conduzido ao “seio de Abraão” e o rico às chamas (16,19-26). Lucas apresenta um reino de ponta a cabeça. Segue uma tradição antiga, expressa na oração de Ana:

“Os que viviam na fartura se empregam por comida,
e os que tinham fome não precisam trabalhar.
A mulher estéril dá à luz sete vezes,
e a mãe de muitos filhos se exaure”

"É Iahweh quem empobrece e enriquece,
quem humilha e quem exalta"

"Levanta do pó o fraco
e do monturo o indigente" ( 1Sm 2,5.7.8 ).



Jones F. Mendonça

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