1. Há três palavras principais no hebraico relacionadas ao ar em movimento: ruah, neshamah e néfesh. Tais palavras não são sinônimas, mas podem ser utilizadas de forma intercambiável em alguns casos. Ruah, por exemplo, serve para indicar um vento forte, como aquele que abre o Mar dos Juncos: “E Yahweh, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite” (Ex 14,21). Mas ruah também serve para designar vento brando, como o “vento” que sai dos nossos narizes, o “vento de vida”, o fôlego (Gn 7,22). Em boa parte dos casos ruah é traduzida por “espírito” (cf. Jz 11,29), potência invisível que como o vento anima aquilo que toca.
2. Neshamah tem sentido mais restrito, substantivo feminino utilizado principalmente para indicar o ar que sai das narinas, o fôlego. Em Gn 2,7 Yahweh modela o homem do solo e sopra em suas narinas a “neshamah” de vida, ou seja, o “vento”, o “fôlego” de vida. Para indicar a morte de toda a população de uma cidade, exterminada pala espada, fazia-se alusão a abolição de todo o fôlego: “não restou nenhum fôlego” (Js 11,14), ou seja, nenhum ser com vida. Em Jó 4,9 – expostos em paralelismo semântico – ruah e nehamah aparecem como sinônimos: “com a neshamah de Deus perecem, com a ruah de sua ira se consomem”.
3. Néfesh indica, em sentido primário, a garganta. Assim, quando Yahweh sopra nas narinas do primeiro homem a “neshamah” de vida, o “fôlego” de vida, ele se torna uma “garganta” viva (Gn 2,7), ou seja, um ser que respira, que lamenta, que grita, que sente sede e fome e, claro, que também desobedece. Em muitas Bíblias néfesh é traduzido por “alma”. A tradução não está errada se considerarmos que “alma” indica aquilo que anima o corpo, que lhe dá vida. Néfesh não tem qualquer relação com a ideia grega de uma “alma imortal”, como antítese ao corpo finito, percebido como uma espécie de casulo ou prisão da alma (percepção adotada por Calvino).
Jones F. Mendonça
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