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O otimismo em reconstruir
a personalidade legitimadora de Jesus e de sua história, marca da segunda fase,
deu lugar ao que Theissen chama de “colapso da pesquisa sobre a vida de Jesus”
(p. 24). O autor apresenta três estudiosos que contribuíram para o fim
desse otimismo:
1. Albert Schweitzer (1875-1965), teólogo e médico que deu nome
a um conhecido hospital no Rio de Janeiro, desvelou o “caráter projetivo das
imagens das vidas de Jesus”, demonstrando que cada imagem do Jesus da teologia
liberal revelava não sua face genuína, mas um ideal ético considerado mais
digno de almejar (leia aqui a obra "The quest of historical Jesus", escrita por Schweitzer).
2. Wilhelm Wrede (1856-1906), em sua obra “O segredo
messiânico e o Evangelho de Marcos” (1901), apontou o caráter tendencioso das
fontes mais antigas existentes sobre a vida de Jesus. Para ele o Evangelho de
Marcos seria expressão da dogmática da comunidade pós-pascal projetada sobre a
vida intrinsecamente não-messiânica de Jesus (as fontes teriam interesse
teológico e catequético). O “segredo messiânico” (cf. 1,34; 1,44; 3,12; 5,43;
7,36; 8,26) seria um recurso literário de Marcos com o objetivo de explicar à
comunidade cristã primitiva por que Jesus só foi reconhecido como messias após
sua crucificação. Com isso desaba a confiança na possibilidade de distinguir a
partir de duas fontes entre a história de Jesus e a imagem do Cristo
pós-pascal (leia uma crítica à teoria de Wrede aqui).
3. Karl Ludwig Schmidt (1891-1956) demonstrou o “caráter
fragmentário dos evangelhos” ao argumentar que a tradição de Jesus consiste em
“pequenas unidades” e que o quadro cronológico e geográfico “da história de
Jesus” foi criado secundariamente pelo evangelista Marcos. Dessa forma a busca
pela reconstrução da personalidade de Jesus a partir da sequência das perícopes
revelou-se impossível. Mesmo as pequenas unidades, apontava a história das
formas, são determinadas primariamente por necessidades da comunidade e apenas
em segundo plano por recordações históricas.
Uma solução para o
pessimismo quanto à possiblidade de reconstruir a figura de Jesus, sem que isso
comprometesse os dogmas de fé centrais do cristianismo, foi apresentado por Rudolf Bultmann
(1884-1976). Na opinião de Bultmann, mais importante exegeta da teologia
dialética, o fator decisivo não era o que Jesus havia feito e dito, mas o que
Deus tinha feito e dito na cruz e na ressurreição. A mensagem dessa ação de
Deus, o “querigma” neotestamentário, não tem por objeto o Jesus histórico, mas
o “Cristo querigmático”, ou seja, o Cristo anunciado pela igreja cristã
primitiva.
Jones F. Mendonça
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