Zé Bobinho vai ao cinema ver “Noé” e “Moisés” pensando que
lá estarão Lagoinha cantando aos prantos e Malafaia pregando aos berros.
Trata-se apenas de um filme, mas ele pensa que é culto. Irrita-se porque a arca
não tem as medidas do Gênesis e Moisés não é gago como nas linhas da Torá.
Imagina que é evangelismo, mas é apenas “película do capital” em 3D.
No final de semana foi fazer prova do ENEM. Pensava
encontrar citações de São Paulo e dos Evangelhos, como se o exame fosse classe
de catecúmenos, primeira comunhão ou profissão de fé. Bobinho não se dá conta
de que já saímos do medievo, que universidade não é catedral, que a ciência não
é mais serva da religião. Quer jogar dados medievais no tabuleiro da
modernidade.
Com saudade de chãos mais sólidos e castelos menos fluidos,
Bobinho tem revelado certa simpatia por movimentos radicais, autoritários, misóginos,
xenofóbicos e até mesmo violentos. Revela-se disposto a trocar liberdade por
segurança, asas por clausuras coletivas. Mostra-se incapaz de articular sua fé no confuso movimento de “sacralização do profano” e “profanação do sagrado”.
Haverá esperança para Bobinho?
Jones F. Mendonça
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